A internet está recheada de links com “dicas de segurança” para enviar nudes (fotos sensuais e/ou de nudez) — prática também conhecida como sexting, que começou com SMS e evoluiu para fotos. O hábito entre casais (e em posts temporários) se popularizou com a ajuda dos mensageiros como o WhatsApp e de redes sociais efêmeras como Snapchat e Instagram Stories. Mas, será que existe forma segura de fazer isso online?

Top 5 dicas para um “nude seguro”

  • Não mostrar o rosto, nem marcas de nascença, tatuagens ou piercings;
  • Enviar somente para pessoas confiáveis que jamais irão vazar a foto;  
  • Usar aplicativos de mensagem com encriptação ponta a ponta;
  • Usar aplicativos de mensagem que inibem print, share e outras conexões;
  • Desligar o upload automático de fotos de aplicativos de armazenamento (nuvem).

Com recursos simples é fácil burlar todos essas dicas rasas de segurança. Ainda que você evite identificar-se na foto, basta um print na tela completa do chat no WhatsApp ou Tinder, por exemplo, para revelar nome, foto do rosto ou telefone na interface.

“Por mais que a rede seja segura e você utilize ferramentas seguras, ao enviar uma informação você confia a sua informação a uma outra pessoa, que pode não se preocupar tanto em protegê-la. Existem uma série de ferramentas para manter a privacidade dos dados mas ainda assim tem-se o fator humano”, alerta Christiane Santos, professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).

E, mesmo que você envie apenas para “alguém confiável”, não poderá ter certeza de que sua conexão não foi interceptada, que seu celular é um ambiente seguro, ou que o aparelho de quem irá recebê-la é. A encriptação de ponta a ponta ajuda a impedir que o envio das mensagens seja interceptado, mas celulares com malwares, senhas frágeis e redes públicas sem proteção colocam tudo a perder quando o papo é segurança.

Christiane lembra que, para enviar informações de maneira segura, existem ferramentas de mensagem como Signal e Telegram (com chat seguro), recomenda-se o uso de VPN, e-mails via protonmail, sistemas atualizados e redes seguras.

Mas, dificilmente, o seu crush vai usá-las.

Existe forma segura de enviar nudes?

Há quem acredite que uma foto enviada via internet não corre risco de vazamento. Para começar, provavelmente, a foto foi feita pelo celular (que vive conectado e se comunicando com vários aplicativos). Depois, enviada por mensageiros ou redes sociais, alguns sem criptografia. E ainda, armazenada no aparelho, conectado à nuvem, 24 horas.

Especialistas como Thiago Marques, da Kaspersky, se mostram descrentes de que exista uma forma segura de “mandar nudes” no mundo digital. “Uma vez que você mandou, não sabe mais o que a outra pessoa fez. Vemos isso nas redes sociais o tempo todo: um famoso que postou no Twitter e deletou, mas os prints continuam existindo“, disse.

Questionado se existe algum aplicativo capaz de garantir a segurança, a resposta é negativa. “Não posso dizer, use a aplicação X. A única forma de se proteger é não compartilhar. A pessoa viu no seu celular e depois você deleta. A partir do momento que você enviou, não tem mais controle. O fato de estar conectado já tira o seu controle”, afirma.

Esse caminho percorrido num vai e vem de servidores (onde os aplicativos armazenam e processam dados) pode sofrer com a interceptação da conexão por terceiros, o que abre portas para vazamento. E, ainda que a aplicação escolhida ofereça chaves de segurança, encriptando dados (incluindo fotos), pergunte-se: seu celular está seguro?

A nuvem e o upload constante

Estar conectado o tempo todo é determinante. Aplicativos diversos pedem para ter acesso à câmera, galeria e pasta de downloads. E, além disso, você facilmente usa um serviço de nuvem como iCloud ou Google Fotos para ganhar espaço no celular (ou manter um backup) que faz uploads periódicos de fotos (recebidas e enviadas).

Esses processos acabam gerando cópias, armazenando em outros ambientes fora do seu celular e que, nem sempre, estão seguros. Seja pelo caminho que percorrem até a nuvem, no servidor de quem presta o serviço ou protegidos com senhas fracas, sob o login de usuários que instalam aplicativos com malware e caem em todo tipo de golpe de WhatsApp.

“Poucas pessoas utilizam boas práticas de segurança. São contas que simplesmente tem proteção por senha, e muitas vezes uma senha fraca, que acabam se expondo. Elas precisam ativar a verificação em duas etapas, usar uma senha segura (forte) e trocar essa senha com alguma frequência. Se você tem seu celular infectado por um malware vai ter seu dispositivo totalmente exposto. O atacante pode pegar fotos e roubar senhas”, explica.

Contra isso, o usuário precisa tomar cuidado com o que instala no celular, baixar apps apenas na lojas oficiais, investigar as permissões dos aplicativos e ficar de orelha em pé com corrente de WhatsApp. Além disso, evitar usar redes de Wi-Fi públicas sem VPNs.

Obviamente, isso não blinda todos os tipos de ataques, mas se você tem fotos sensíveis armazenadas no iPhone ou no seu Android, comece a pensar em apagar e/ou proteger.

Roubo e perda física do celular

Se você perder seu celular ou for roubado existem formas de, remotamente, acionar a destruição do conteúdo do aparelho. Mas, para isso, você vai precisar usar aplicativos antivírus que oferecem o serviço e mantê-lo configurado para uma emergência. Geralmente, o anti-roubo pode localizar o dispositivo, bloquear e apagar o conteúdo.

Além disso, trocar imediatamente todas as senhas de nuvem, rede sociais e e-mails (usados para fazer login e acessar esses serviços). Entretanto, apenas baixar ou comprar um antivírus não fará milagre. As funções fazem parte de produtos anti-roubo mas são ativadas separadamente: algumas são habilitadas por padrão e outras manualmente.

Não lembra se tem nudes no celular?

iCloud e Google Fotos já foram alvo de polêmica por “revelar os nudes” facilmente. Uma simples busca por sutiã revela fotos com decotes, de roupas íntimas e/ou biquínis no app. Aproveite e faça uma varredura na sua conta buscando por palavras similares.

Já pensou em um nude analógico?

Poxa, mas será que não dá nem para brincar? O bom e velho analógico pode ser uma opção divertida. Adotar câmeras do tipo Polaroids e Instax, com fotos instantâneas, evita o envio online das imagens, as torna únicas e destrutíveis com suas próprias mãos.

Canais de ajuda sobre “sextorção”

A SaferNet tem um guia bastante parecido, incluindo outras dicas como usar senhas no próprio celular e nas pastas internas, evitar manter fotos delicadas em redes sociais (mesmo marcadas como privadas), e uma série de outras dicas sobre como lidar com sextorçao (prevenir e denunciar). Em 2017, foram quase 300 casos de atendimento a denúncias de exposição íntima via chat e e-mail — 204 por mulheres e 85 por homens.

A helpline é um canal gratuito da organização em que as vítimas são atendidas por um psicólogo, com respeito, anonimato e sigilo. O site oferece orientação para esclarecer dúvidas, ensinar formas seguras de uso da Internet e também orientar crianças e adolescentes sobre situações de violência e intimidações online de todos os tipos.

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Melissa Cruz Cossetti

Melissa Cruz Cossetti

Ex-editora

Melissa Cruz Cossetti é jornalista formada pela UERJ, professora de marketing digital e especialista em SEO. Em 2016 recebeu o prêmio de Segurança da Informação da ESET, em 2017 foi vencedora do prêmio Comunique-se de Tecnologia. No Tecnoblog, foi editora do TB Responde entre 2018 e 2021, orientando a produção de conteúdo e coordenando a equipe de analistas, autores e colaboradores.

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