Review Yoga 910: o sofisticado 2 em 1 da Lenovo
Yoga 910 capricha no hardware, no acabamento e na praticidade, mas cobra caro por isso: R$ 8.799.
Yoga 910 capricha no hardware, no acabamento e na praticidade, mas cobra caro por isso: R$ 8.799.
É interessante como, nos últimos meses, os notebooks gamers se tornaram referência quando o assunto é alto desempenho. Mas isso não quer dizer que a indústria negligenciou os laptops “normais”. O Lenovo Yoga 910, por exemplo, é um 2 em 1 topo de linha que promete encarar as tarefas do dia a dia com maestria e, eu diria, até alguma elegância.
Com corpo de alumínio anodizado e tela IPS de 13,9 polegadas, o Yoga 910 chama atenção logo na primeira olhada. Não por menos, é o modelo mais avançado que a Lenovo tem hoje no Brasil. Mas o que mais interessa é saber como o equipamento trabalha, inclusive com aplicações que exigem muito desempenho.
Para descobrir, eu usei o Lenovo Yoga 910 como o meu computador principal durante dez dias. Conta as minhas percepções neste review.
O Lenovo Yoga 910 é um laptop conversível, ou seja, você pode girar a tela dele em até 360 graus para deixá-lo no formato de tablet. Essa conveniência requer dobradiças bem articuladas e resistentes. É justamente aqui que está um dos aspectos mais curiosos do design externo do equipamento: o conjunto de dobradiças lembra a pulseira de um relógio.
É uma solução inusitada, mas funcional. Você pode posicionar a tela nos mais diferentes ângulos que não irá sentir, em nenhum momento, que as dobradiças irão quebrar ou se soltar. As várias peças que compõem as dobras não só conferem grande flexibilidade como criam uma espécie de engrenagem robusta.
Talvez o único ponto de fragilidade ali seja o cabo flat da tela, que fica ligeiramente exposto na parte central das dobradiças. Mas só talvez, pois o material que o reveste parece ser muito resistente.
Se há alguma excentricidade nessas dobras, o restante do equipamento compensa com um estilo bem sóbrio. As superfícies superior e inferior são lisas e foscas, por exemplo. Já as bordas são rapidamente curvadas para dentro.
No lado direito fica o botão Liga / Desliga, que está ao lado da entrada de fones de ouvido (3,5 mm) e de uma porta USB 3.0 com conector convencional (tipo A). Falando nisso, a conectividade do modelo não é lá essas coisas: o outro lado tem apenas duas portas USB-C, sendo que uma é usada para alimentação elétrica e tem suporte ao padrão USB 2.0; a segunda é USB 3.0.
Confuso, né? Mas é assim. Para completar, o Yoga 910 não tem porta HDMI — para conectá-lo a um monitor externo, só usando um adaptador para a porta USB-C — e não vem com ranhura para cartão SD. Eu descarrego fotos da minha câmera a partir do cartão com certa frequência, então senti falta desse recurso.
Pelo menos o Wi-Fi é 802.11ac. Nas redes que eu testei, tudo funcionou conforme o esperado, inclusive em uma de 5 GHz que criei apenas para avaliar o Yoga 910. O Bluetooth, no padrão 4.1, também trabalhou bem, embora tenha feito o laptop misteriosamente exibir uma tela azul na primeira vez que eu conectei uma caixa de som a ele.
O teclado é bem confortável e me pareceu (veja bem, pareceu) ser do tipo que não desgasta ou fica marcado facilmente com o passar do tempo. As teclas têm um espaço bom entre elas, logo, dificilmente você apertará uma por engano. Confesso, porém, que pressionei o botão de colchetes querendo apertar Enter durante o primeiro teste, afinal, os dois são estranhamente “grudados”.
Um detalhe muito útil é a configuração por padrão que faz as funções das teclas superiores, como controle de volume e ajuste de brilho, serem acionadas sem que você tenha que pressionar Fn junto. E, sim, o teclado é retroiluminado: aperte Fn + Espaço para ativar os LEDs; faça isso novamente para deixar a iluminação mais forte; na terceira vez, as luzes são desligadas.
Por sua vez, o touchpad é amplo, preciso e rápido. Você pode pressioná-lo duas vezes seguidas ou simplesmente dar dois toques rápidos para fazer as vezes do botão esquerdo do mouse, por exemplo.
Tudo fica mais interessante quando você aprende os gestos. Basta arrastar dois dedos ao mesmo tempo para cima ou para baixo para fazer rolagem de tela, só para você ter ideia; arraste três dedos ao mesmo tempo para baixo para visualizar a Área de Trabalho. Pode demorar para você pegar o jeito, mas é tudo tão prático que vale a pena o esforço.
Nos Estados Unidos e em outros mercados, a Lenovo comercializa uma versão do Yoga 910 com tela 4K (e 16 GB de RAM). Só a versão com tela full HD (1920×1080 pixels) chegou por aqui. Mas ela não é de qualidade inferior, pelo contrário: o painel, do tipo IPS e tamanho de 13,9 polegadas, como você já sabe, tem brilho máximo bastante forte, exibe cores com vivacidade e tem um preto que não chega a ser profundo, mas é escuro o suficiente para não deixar determinados pontos com aspecto acinzentado.
O display tem reflexos, mas nada fora do normal. Há perda de tonalidade na visualização sob ângulos diferentes, mas discreta. Como o Yoga 910 também pode ser usado como tablet, a tela é sensível a toques. Funciona bem: os toques são precisos e respondem imediatamente.
As bordas da tela têm por volta de meio centímetro de espessura. O aproveitamento de espaço seria ótimo se não fosse por um detalhe: há uma faixa preta gigantesca na parte inferior. Você se acostuma com ela, mas não deixa de ser estranho se deparar com toda aquela área, que só não está completamente vazia porque a webcam (de 1 megapixel) foi posicionada ali.
Aliás, que posição estranha para a câmera. A Lenovo não é a primeira a colocá-la ali — a linha Dell Inspiron 7000 é assim, só para dar um exemplo —, mas isso não tira a estranheza que é perceber como o seu queixo e as suas narinas ganham mais destaque, digamos assim. Em uma videoconferência, o negócio é virar a tela e usar o Yoga 910 no modo tablet. Assim a câmera fica na parte de cima.
Como sistema operacional, o Yoga 910 conta com o Windows 10 Home. Há alguns softwares próprios da Lenovo pré-instalados, mas não são muitos. Um deles, o Lenovo Settings, permite que você configure vários parâmetros, como brilho da tela, teclado (deixar a retroiluminação ativada por padrão, por exemplo) e áudio. Outro, o Lenovo Companion, verifica atualizações e checa o hardware.
Nenhum deles é indispensável, mas eles podem ajudar na hora de fazer algum ajuste. Há algumas inconveniências no meio, como o antivírus trial da McAfee, mas que pode ser removido facilmente. O mais importante é o fato de esses softwares não prejudicarem o desempenho do laptop.
Falando em desempenho, o Lenovo Yoga 910 conta com um hardware bem interessante. A configuração básica consiste em um processador Intel Core i7-7500U de 2,7 GHz (sétima geração), 8 GB de memória DDR4 de 2.133 MHz e SSD de 256 GB — o Windows 10 precisou de apenas seis segundos para carregar (memória Flash é mesmo um caminho sem volta).
As ferramentas do Office, o Chrome (com várias abas abertas), o Firefox, o aplicativo da Netflix, o Photoshop, enfim, tudo o que é mais rotineiro rodou sem problemas aqui.
Só que limites existem. O Yoga 910 tem GPU Intel HD Graphis 620, que é competente para o dia a dia, exibindo vídeos em alta resolução sem engasgar, por exemplo. No entanto, jogos exigentes, como Asphalt 8 Airborne, só vão rodar a contento com configurações gráficas medianas. Bom, a Lenovo não promove o Yoga 910 como um notebook gamer, convenhamos.
Enquanto fazia os testes, um detalhe que me agradou bastante foi o áudio. O equipamento tem dois alto-falantes estéreos de 2 W da JBL na parte inferior, perto da borda. O áudio é claro, alto e não distorce. Dá para curtir um filme numa boa ou até escutar música enquanto você trabalha. Só os graves que não são profundos, o que é compreensível em um laptop tão fino.
Outro item que me agradou foi a bateria (de quatro células, 78 Wh). No dia que eu mais exigi do componente, rodei um filme de três horas da Netflix via Chrome e tela com brilho máximo, joguei Asphalt 8 Airborne por cerca de meia hora e ouvi música via alto-falantes por duas horas, além das aplicações rotineiras (navegadores, Office e afins).
Somente à noite a bateria chegou em 10%. Pelo o que consegui constatar, o Lenovo Yoga 910 consegue bater nove horas de autonomia com relativa facilidade. O tempo de recarga, de 10% para 100%, foi de quase três e meia.
Ah, o barulho não chega a ser alto, mas você vai notar que o equipamento deixa as ventoinhas no máximo com frequência. Demorei uns três dias para me acostumar com aquela sensação de que o Yoga 910 estava tentando “levantar voo”.
Você entra em uma concessionária, olha com admiração para o carro em destaque no centro da loja, mas acaba levando um veículo bem mais em conta. As lojas sabem que modelos caros têm muitos menos saída, mas os expõem mesmo assim, pois eles acabam servindo de chamariz.
Pode apostar que o Yoga 910 segue a mesma estratégia. O laptop é excelente em vários aspectos: desempenho, construção, facilidade de transporte, design, tela e praticidade. Só a conectividade que acaba sendo um tanto limitada, mas dá-se um jeito. Problema mesmo é o fato de que, para contar com tudo isso, você pagará caro, muito caro: atualmente, o equipamento custa R$ 8.799.
O valor já foi maior. A Lenovo lançou o Yoga 910 no Brasil com preço sugerido de R$ 10.999. O desconto atual é substancial, mesmo assim, a relação custo-benefício não é das melhores. Há equipamentos com preços mais convidativos que, mesmo tendo especificações ligeiramente inferiores, na prática, vão entregar desempenho similar no dia a dia.
O efeito é este: a maioria das pessoas vai olhar, gostar e… levar o notebook ao lado. Mas pelo menos o Yoga 910 terá cumprido a missão de chamar atenção para a marca e representar a Lenovo no segmento de laptops sofisticados.
Isso significa que o modelo não vale a pena? Tecnicamente, vale sim, e muito. Mas só tecnicamente.