LG G Flex 2: o esbelto smartphone de tela curva

Por 3.299 reais, G Flex 2 é o primeiro smartphone com Snapdragon 810 a chegar ao Brasil.
Design curvo e tela de alta resolução agradam, mas desempenho inconstante atrapalha.

Paulo Higa
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• Atualizado há 1 semana
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As telas curvas seguem firmes nos eletrônicos. Além das TVs, o mercado de smartphones já possui alguns modelos que fogem dos tradicionais displays planos. Um deles é o G Flex 2, segunda geração do aparelho topo de linha da LG com painel curvo de 5,5 polegadas, que segue a mesma ideia do antecessor, mas traz uma série de avanços tecnológicos.

Com processador octa-core Snapdragon 810, tela P-OLED com resolução de 1920×1080 pixels e preço sugerido de 3.299 reais, o G Flex 2 é uma boa opção de compra? Depois de uma semana usando o lançamento da LG como aparelho principal, deixo minhas impressões nos próximos parágrafos.

Design e tela

Um dos primeiros questionamentos das cinco pessoas a quem mostrei o G Flex 2 foi: “para que serve essa tela curva?” ou “mas isso faz alguma diferença?”.

Na verdade, não há nenhum recurso de software que realmente faça uso da tela curva. E não há problema nisso: como citei no Tecnocast sobre telas curvas, nós estamos acostumados a procurar utilidades em inovações tecnológicas, para tentar justificar a existência delas. No caso do G Flex 2, a tela curva existe apenas por uma questão de design, e está difícil negar que o aparelho ficou muito bonito.

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É claro que o G Flex 2 segue o contorno do rosto e fica mais confortável dentro do bolso, mas essas vantagens não são suficientes para justificar a utilidade de uma tela curva. Do ponto de vista da ergonomia, também não existe diferença relevante: com tela de 5,5 polegadas e 75,3 mm de largura, ele exige algumas esticadas de dedo para alcançar os cantos da tela, como todos os smartphones da mesma categoria.

Já em relação ao design, o G Flex 2 me agrada. Embora o aparelho seja feito predominantemente de plástico, as curvas são bonitas e saem do convencional. A traseira, com um acabamento brilhante, tem um revestimento que se cura automaticamente de pequenos arranhões, o que deixa o visual do aparelho com cara de novo por mais tempo.

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A traseira é removível, mas a bateria é selada. Ao remover a tampa, temos acesso ao slot para o chip Micro-SIM da operadora e uma entrada para cartões de memória, item que está se tornando cada vez mais raro nos smartphones mais avançados. No caso do G Flex 2, essa entrada é especialmente importante porque a LG decidiu trazer apenas o modelo com 16 GB de armazenamento ao Brasil. Falarei sobre isso adiante.

Como de costume, a LG colocou todos os botões físicos na parte traseira. O posicionamento diferenciado exige uma certa curva de aprendizagem, mas não causa nenhum incômodo. Como o software da LG permite ligar a tela com dois toques, acabei usando pouco o liga/desliga. Mas o botão de diminuir volume foi bastante requisitado, já que funciona como um atalho para a câmera (basta segurá-lo por um segundo quando a tela estiver bloqueada, e ele estará pronto para tirar uma foto).

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A tela, provavelmente o principal ponto negativo do primeiro G Flex, é muito boa. O painel P-OLED de 5,5 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels exibe uma imagem limpa, sem aqueles problemas de granulação do display de 6 polegadas da geração anterior. Todas as vantagens do OLED estão aqui: os pretos são reais (e consequentemente o contraste é ótimo), as cores são vivas e o brilho é alto.

Por padrão, a tela exibe cores bastante naturais, sem exagerar na saturação. Quem quiser, pode ativar um modo vívido nas configurações do sistema, que basicamente estoura tudo o que você imaginar: os vermelhos passam a doer nos olhos e tudo fica excessivamente colorido. É uma configuração que particularmente não me agrada e era quase um padrão em telas OLED antigas.

Um ponto interessante da tela do G Flex 2 é que, por ter um formato curvado, os reflexos ficam distorcidos — eles ficam mais altos e estreitos. Em alguns casos, fica mais fácil se esquivar das fontes de luz que atrapalham a visualização da tela. Particularmente, não enfrentei nenhum problema ao usar o G Flex 2 em locais muito claros ou sob a luz do sol.

Software e multimídia

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O Android 5.0 Lollipop do G Flex 2 é basicamente igual ao Android 4.4 KitKat do G3, por mais estranho que isso possa parecer. Há algumas alterações sutis, como na central de notificações e na barra inferior de botões, mas a LG não fez quase nada para se adaptar ao Material Design e a experiência continua a mesma. Essa ainda não é a LG UX 4.0 do G4, que trouxe modificações mais profundas.

O que dizer da interface do G Flex 2? Resumidamente, é uma mistureba de interface flat com skeumorfismo. De longe, ela possui um visual sóbrio, com cores sólidas e botões planos. Vendo mais de perto, encontramos estranhas linhas de caderno no aplicativo de SMS, medidor de VU no gravador de voz e um tuner analógico no rádio FM. Bem frankenstein.

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A LG tentou implantar alguns recursos para valorizar o display grande, como a função de colocar dois aplicativos dividindo a tela, mas eles são pouco práticos e beiram a inutilidade. Você precisa acessar a tela de apps recentes, tocar no botão Janela Dupla, arrastar um ícone de um aplicativo para cima, outro para baixo… Os apps estão numa lista pré-definida e poucos possuem suporte ao recurso da LG.

Os alto-falantes emitem áudio claro e não distorcem facilmente, mesmo no volume máximo, sendo praticamente iguais aos do G3. Na caixa, a LG envia os fones de ouvido intra-auriculares QuadBeat 2, que devem agradar a maioria dos usuários, com bons graves, controles embutidos, borrachinhas adicionais de outros tamanhos e um cabo flat que não enrosca facilmente.

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Câmera

A LG melhorou bastante a qualidade de suas câmeras nos últimos anos. O G Flex 2 possui um conjunto bem similar ao G3: sensor com resolução de 13 megapixels, lente de abertura f/2,4 e estabilização óptica de imagem, que ajuda em condições de baixa iluminação. Também há um foco automático auxiliado por laser, mais rápido em ambientes escuros.

As fotos do G Flex 2 agradam. O nível de ruído é muito baixo, inclusive em fotos noturnas, ao mesmo tempo em que os detalhes da imagem se mantêm. A nitidez está dentro do que esperamos para um sensor de celular, mas o alcance dinâmico é um pouco limitado — o azul dos céus estoura com bastante facilidade, ou os objetos em áreas de sombra ficam escuros demais.

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Como a abertura da lente do G Flex 2 (f/2,4) é pequena em comparação com os smartphones mais recentes (que chegam a f/2,0 ou f/1,8 no G4) e a LG decidiu manter o ISO baixo no modo automático para reduzir o ruído, o aparelho constantemente escolhe tempos de exposição mais longos. Isso pode borrar objetos mesmo quando as condições de iluminações estão boas, então vale dar uma olhada na foto logo depois do clique para garantir que ela saiu como esperado.

Hardware e bateria

Este é o ponto mais crítico do G Flex 2.

O modelo brasileiro tem o novíssimo processador Snapdragon 810, da Qualcomm, que suporta instruções de 64 bits e traz oito núcleos de processamento na configuração big.LITTLE, sendo quatro Cortex-A57 de 2,0 GHz (alto desempenho) e quatro Cortex-A53 de 1,5 GHz (baixo consumo de energia).

No mundo, ele foi lançado com duas opções de armazenamento: 16 GB ou 32 GB. Estranhamente, apenas a versão com menor capacidade chegou ao Brasil, e um dos problemas disso é que ela possui 2 GB de RAM, contra 3 GB do irmão com mais espaço. Com preço nada acessível de 3.299 reais, fica difícil engolir esse corte no hardware da versão brasileira.

Dos 16 GB de armazenamento, apenas 7 GB estão disponíveis na primeira inicialização; os outros 9 GB são tomados pela personalização da LG e joguinhos de demonstração. Para amenizar a deficiência, a LG envia um microSD de 16 GB na caixa. Só que isso não resolve o problema e cria o constante inconveniente de ter que gerenciar onde os apps serão armazenados, o que não deveria existir num topo de linha em pleno ano de 2015.

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Além disso, embora o hardware seja tecnicamente poderoso, o G Flex 2 foi uma enorme decepção no uso diário. Em momentos aleatórios do dia, o desempenho se torna intragável, com aplicativos demorando vários segundos para abrir, respostas ao toque demoradas e animações engasgando constantemente. O launcher frequentemente recarrega todos os widgets.

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Levantei duas hipóteses, mas não cheguei a nenhuma conclusão sobre o desempenho inconsistente do G Flex 2. A primeira era que o Snapdragon 810 possui problemas de superaquecimento, o que prejudicaria a performance. Para diminuir a temperatura, o processador da Qualcomm reduz a frequência de maneira forçada, já que não há ventoinhas.

Mas, no geral, senti que o G Flex 2 simplesmente esquenta tanto quanto qualquer outro smartphone (embora, às vezes, uma mensagem nada amigável me impeça de aumentar o brilho da tela, sob a alegação de que o aparelho está quente). E, olha só: mesmo com clock reduzido, o Snapdragon 810 teoricamente ainda é um ótimo processador.

A outra hipótese seria que o Lollipop tem problemas de desempenho conhecidos, especialmente o vazamento de memória que deixa o aparelho lento com o tempo. No entanto, os soluços do G Flex 2 aparecem mesmo quando ele acabou de ser reinicializado e, de qualquer forma, eu não tive nenhum problema de lentidão com o Android 5.0 no Moto X (2ª geração) ou Moto Maxx.

O mesmo problema foi percebido por diversos proprietários do G Flex 2 ao redor do mundo, mas alguns relataram que uma correção distribuída em abril resolveu a questão. No meu caso, as lentidões aconteceram com o software totalmente atualizado. Contatada, a LG informou que não possui “notificações de problemas de performance notáveis com o G Flex 2” e que todas as atualizações de firmware globais são disponibilizadas aos aparelhos nacionais após adaptações aos parâmetros brasileiros.

O problema continuou mesmo após restaurar o G Flex 2 para as configurações de fábrica. Após este review, o smartphone seguiu para análise pela LG do Brasil. O texto será atualizado caso a empresa se pronuncie sobre o assunto.

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Em relação à bateria, o G Flex 2 traz uma autonomia mediana, diferente do primeiro G Flex, que possuía uma duração acima da média. Faz sentido: o processador é mais potente e a tela possui o dobro da quantidade de pixels, mas a capacidade de 3.000 mAh se manteve.

No dia de testes, tirei o G Flex 2 da tomada às 10h40, ouvi áudio por streaming (Spotify e Pocket Casts) no 4G por 2h30min e naveguei na web (emails, sites e redes sociais) por cerca de 2h. A tela ficou ligada por exatamente 2h21min. A carga chegou a 13% às 19h12, quando coloquei o aparelho no modo de economia de energia até arranjar uma tomada.

O G Flex 2 não tem uma autonomia ruim, mas às vezes pode deixar o usuário no sufoco. Em todos os dias da semana de testes, cheguei em casa com menos de 25% de bateria.

Conclusão

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Vale a pena comprar um G Flex 2? Talvez um dia, mas a resposta atual é não.

Não está claro se o problema do G Flex 2 está relacionado ao software ou hardware, mas este foi o smartphone topo de linha com o pior desempenho que testei até o momento. Embora o hardware do aparelho da LG mostre seu poder de fogo em tarefas pesadas (como ao rodar Dead Trigger 2), a performance fica inexplicavelmente ruim em momentos aleatórios do dia, do tipo que me faz sentir saudades do Moto E, de 500 reais. O defeito não é isolado e foi citado em várias análises do aparelho, inclusive em publicações internacionais.

Além disso, o preço sugerido de R$ 3.299 do G Flex 2 ficou muito alto para o que ele oferece, mesmo comparando com produtos da própria LG, como o G3, que foi lançado por R$ 2.299 e hoje pode ser adquirido por cerca de 1,3 mil reais — ou seja, a metade do valor cobrado atualmente pelo G Flex 2 no varejo brasileiro. Pagar dois salários mínimos a mais para ter uma tela curvada e um desempenho pior não me parece uma opção razoável.

Smartphones da LG costumam se desvalorizar rapidamente, o que os tornam uma boa opção de compra para quem não faz questão de adquirir o produto logo no lançamento. Se você estiver lendo este review daqui a alguns meses, se o problema de desempenho tiver sido corrigido, e se o preço estiver no mesmo nível do G3, então o G Flex 2 é uma opção a se considerar. Caso contrário, você será mais feliz com um Moto Maxx, Xperia Z3 ou LG G3.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.000 mAh;
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 2 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, Bluetooth 4.0, USB 2.0, infravermelho;
  • Dimensões: 149,8 x 75,4 x 9,3 mm
  • GPU: Adreno 430;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 2 TB;
  • Memória interna: 16 GB (7,1 GB disponíveis para o usuário; cartão de 16 GB incluso);
  • Memória RAM: 2 GB;
  • Peso: 148 gramas
  • Plataforma: Android 5.0.2 (Lollipop);
  • Processador: octa-core Snapdragon 810 de 2,0 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, luminosidade, infravermelho;
  • Tela: P-OLED de 5,5 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels.

LG G Flex 2

Prós

  • Design curvo e atraente.
  • Tela de alta resolução, muito melhor que a do antecessor.

Contras

  • Apenas 16 GB de armazenamento interno na versão brasileira.
  • Desempenho inconsistente e lentidão excessiva em momentos aleatórios.
  • Personalização da LG não evoluiu com o Android.
Nota Final 7.9
Bateria
7
Câmera
8
Conectividade
10
Desempenho
5
Design
9
Software
7
Tela
9

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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