Review Sony Xperia Z3: aparando as arestas
Com alguns refinamentos em relação ao Xperia Z2, novo topo de linha da Sony custa R$ 2.699
Com alguns refinamentos em relação ao Xperia Z2, novo topo de linha da Sony custa R$ 2.699
A Sony continua com sua estratégia diferenciada ao lançar duas gerações de smartphones no mesmo ano. O Xperia Z3 chega ao Brasil apenas cinco meses após o antecessor e mantém o belo hardware, com processamento de ponta e acabamento com materiais caprichados, como alumínio e vidro, que tentam justificar o preço sugerido de 2.699 reais no Brasil.
Irmão do pequeno Xperia Z3 Compact, que agradou no review, o Xperia Z3 possui tela de 5,2 polegadas, câmera de 20,7 megapixels e opção com suporte a dois chips. É uma boa compra? Depois de usá-lo por mais de uma semana como smartphone principal, deixo minhas impressões a seguir.
O Xperia Z3 é um smartphone que apara as arestas do Xperia Z2, literalmente. A moldura está com um formato mais arredondado, que em conjunto com a espessura fina, de 7,3 milímetros, torna o aparelho mais confortável de segurar que o antecessor. Os quatro cantos, com visual diferenciado, têm função dupla: permitem a recepção do sinal e protegem o acabamento metálico do aparelho caso ele caia de quina.
A traseira de vidro já deixa claro que estamos falando de um flagship da Sony. É um material com boa aderência na mão, que não passa a sensação de que o aparelho pode cair a qualquer momento. Ao mesmo tempo, ele não encara bem superfícies planas, portanto, qualquer esbarrão que você der enquanto o Xperia Z3 estiver sobre uma mesa pode causar algum desastre.
Funcionalmente, quase não há mudanças no design: continuamos com o útil botão dedicado da câmera, a entrada para o cartão de memória, o botão liga/desliga em uma posição confortável para ser acionado e os alto-falantes duplos na parte frontal. O design à prova d’água, que está virando uma marca registrada da Sony, também está presente no Xperia Z3.
A tela LCD de 5,2 polegadas tem resolução de 1920×1080 pixels e uma qualidade de imagem muito boa. Achei as cores um pouco mais frias que o normal, com tons tendendo para o azul, mas isso é mais uma questão de gosto do que um defeito. As cores são vivas, sem exageros na saturação, o ângulo de visão é satisfatório e o brilho é um dos mais altos que já vi em um smartphone.
O Android 4.4.4 do Xperia Z3 tem o mesmo visual que acompanha os outros aparelhos da Sony. Isso é bom e ruim. Bom porque a personalização da Sony não é invasiva: há mudanças no esquema de cores, nos ícones e nas interfaces de aplicativos, mas nenhuma delas incomoda e algumas até melhoram a experiência. Ruim porque, como eu já havia dito, a personalização da Sony está cada vez mais pesada, confusa e datada.
Muitos aplicativos vêm instalados de fábrica no Xperia Z3. A lista inclui um GPS que só funciona por 30 dias, um atalho para o blog da Sony, um antivírus (!), alguns games de demonstração que são bloqueados após duas execuções e um aplicativo com botões para baixar jogos da Gameloft. É o tipo de adicional que não agrega nenhum valor, e só tem a função de desperdiçar espaço na memória do aparelho.
Na parte de multimídia, a Sony acerta em cheio, com excelentes players de áudio e vídeo, que possuem interfaces bem trabalhadas e funções de sobra. A empresa integra seus próprios serviços de streaming, o Music Unlimited e o Video Unlimited. Eles não são ruins, mas além de não oferecerem grandes diferenciais, sofrem a concorrência pesada do Play Música e Play Filmes, que já vêm no Xperia Z3 e em qualquer outro Android. É difícil convencer alguém a mudar de serviço.
O som estéreo que sai dos alto-falantes é excepcional: possui uma qualidade acima da média e não distorce mesmo em volumes mais altos — tão altos que é possível sentir as vibrações em todo o aparelho. Os alto-falantes estão localizados na parte frontal, um detalhe que melhora a experiência ao assistir a filmes e ainda evita o abafamento do som quando o smartphone estiver sobre uma mesa.
A TV digital, um recurso que a Sony coloca nos topos de linha desde o Xperia Z1, também está presente no Xperia Z3. Uma pena que a função só esteja disponível no modelo com suporte a apenas um chip; o Xperia Z3 Dual não tem a antena necessária para sintonizar os canais. Será que faltou espaço?
Um aplicativo que merece destaque no Xperia Z3 é o Lifelog. Ele sincroniza dados com a SmartBand SWR10, pulseira inteligente que acompanha o aparelho e que custaria R$ 399 quando comprada separadamente. O Lifelog faz mais do que apenas registrar o número de passos e calorias queimadas no dia: ele se integra bem com o Android e mostra por quanto tempo você navegou na web, assistiu a filmes ou ouviu músicas, por exemplo.
A SmartBand SWR10 é uma das melhores smartbands disponíveis no Brasil. Confortável e à prova d’água, a pulseira da Sony pode vibrar quando alguém está ligando e tem a útil função de despertador inteligente: basta selecionar uma faixa de horários (das 7h30 às 8h15, por exemplo) e o gadget irá vibrar para te acordar nesse intervalo quando você estiver com sono leve.
Assim como no Xperia Z3 Compact, a câmera de 20,7 megapixels do Xperia Z3 é um misto de sensações. Ela é capaz de tirar fotos boas e o aplicativo da câmera é bem completo, com algumas opções avançadas e uma série de modos rápidos para quem deseja apenas apertar um botão e tirar a foto. Mas é forte a sensação de que a Sony poderia entregar algo melhor.
O modo automático é imprevisível, gerando imagens muito saturadas ou então lavadas demais; em algumas situações, o software tende a superexpor as cenas, estourando as áreas mais claras. O pós-processamento, que sempre foi bastante pesado nos aparelhos da Sony, parece estar mais leve, preservando mais detalhes dos objetos — mas ao custo de um nível de ruído um pouquinho maior. Vale lembrar que, nesse modo, as fotos de 20,7 MP são automaticamente reduzidas para 8 MP com um algoritmo de oversampling, técnica semelhante ao do Lumia 1020.
Quer um aparelho com câmera boa? O Xperia Z3 deverá satisfazer suas necessidades. Mas não há grande diferença entre um topo de linha da Sony, da Apple e da Samsung, portanto, considerando só a câmera, você estaria bem servido com qualquer um — e em alguns pontos, como a definição da imagem e o modo automático, os outros são até melhores. Para uma empresa que faz um ótimo trabalho nas mirrorless e poderia usar a experiência para colocar a câmera de seus smartphones como um grande diferencial, o resultado às vezes é meio frustrante.
É bizarro que a diferença de hardware entre uma geração de smartphone e outra fique por conta de um aumento de 200 MHz no clock da CPU. O Xperia Z2 vinha com Snapdragon 801 quad-core de 2,3 GHz, enquanto o Xperia Z3 tem Snapdragon 801 quad-core de 2,5 GHz. A RAM continua sendo de 3 GB, a GPU é a mesma Adreno 330, o armazenamento interno ainda é de 16 GB e a bateria diminuiu de 3.200 mAh para 3.100 mAh.
O ciclo semestral de lançamentos da Sony permite que a empresa entregue sempre o melhor hardware possível, mas acaba criando atualizações sem sentido, como o Xperia Z3. Uma prova de que isso não funciona como deveria é que, apenas uma semana depois do lançamento da Sony no Brasil, outra fabricante começou a vender um aparelho com SoC mais recente.
De qualquer forma, o Xperia Z3 tem um ótimo conjunto de hardware, que entrega uma experiência bastante fluida no Android. Com 3 GB de RAM, é possível manter vários aplicativos abertos sem notar nenhuma perda de desempenho, e a Adreno 330 permite rodar qualquer jogo com excelente qualidade gráfica. A única decepção é o armazenamento de 16 GB; para um aparelho extremamente caro, a Sony poderia pelo menos ter trazido a versão de 32 GB ao Brasil.
A bateria de 3.100 mAh consegue aguentar até o final de um dia corrido. Em um dos testes, tirei o Xperia Z3 da tomada às 10h, naveguei na web por cerca de uma hora, assisti a um vídeo no YouTube por streaming no 4G durante 45 minutos e escutei podcasts por streaming, variando entre 3G e 4G, por duas horas. Às 22h40, o nível de bateria marcava 35%, com 1h58min de tela ligada. O aparelho ficou com brilho no automático e rede de dados ativada na maior parte do tempo. É uma ótima marca.
O maior vilão do Xperia Z3 é certamente a tela: com brilho no máximo, o aparelho aguentou por 5h24min exibindo O Poderoso Chefão: Parte II na Netflix — o que está na média dos outros smartphones e é bem menos que as mais de nove horas do Moto Maxx, que possui uma bateria não muito maior. Então você já sabe: se comprar um Xperia Z3, deixar o brilho no automático é a melhor opção.
O Xperia Z3 é um dos melhores smartphones do mercado e certamente vai agradar a todos que o comprarem. Junto com o novo Moto X, é um dos Androids com o design mais bem acabado do mercado brasileiro. Além disso, o topo de linha da Sony tem uma tela sensacional, uma bateria com duração acima da média, uma câmera boa e um hardware competente.
O grande problema do Xperia Z3 é o custo. Mesmo com a SmartBand inclusa no pacote e algumas características únicas, como o corpo à prova d’água, é difícil engolir o preço de lançamento de R$ 2.699, ainda mais considerando que estamos falando de um smartphone com produção nacional — não fica muito longe dos R$ 3.199 cobrados no iPhone 6, que é importado.
Por R$ 2.199, o Moto Maxx entrega um hardware mais atualizado, uma tela igualmente boa e quatro vezes o armazenamento interno. O LG G3, que é vendido por menos de R$ 1,5 mil em promoções, também é uma opção mais interessante. Uma terceira alternativa é o novo Moto X: você terá uma câmera pior e uma duração de bateria menor, mas as vantagens do Xperia Z3 nesses dois pontos não justificam os mil reais a mais.
Enquanto escrevo este review, o Xperia Z3 é um bom smartphone — mas fica longe de ter um bom custo-benefício.