Review LG G Pad 8.3, o tablet com tela surpreendente
Lançado em janeiro, G Pad 8.3 marca o retorno da LG ao mercado de tablets.
Com preço sugerido de R$ 1.099, tablet tem bom custo-benefício.
Depois de um longo período focando em smartphones, a LG voltou ao mercado de tablets, que ainda carece de produtos de peso para concorrer com o iPad e os inúmeros modelos da Samsung. O primeiro tablet da LG após o hiato de três anos é o G Pad 8.3, lançado no Brasil em janeiro por R$ 1.099. Para tentar chamar a atenção do consumidor, a empresa aposta em qualidade de tela, acabamento elegante e recursos de software diferenciados.
Nas últimas duas semanas, usei o G Pad 8.3 como meu tablet principal. Será que a LG, depois de tanto tempo sem apresentar nenhum tablet novo, ainda consegue se destacar em relação aos concorrentes? A tela realmente é tudo isso que a LG diz? Como é o desempenho? E os dois alto-falantes na traseira, são bons? Todas as respostas você confere nos próximos parágrafos.
Design e pegada
Enquanto os tablets da mesma categoria, como os Nexus e a linha Galaxy Tab, costumam ter corpo feito inteiramente de plástico, a LG fez um pequeno agrado e colocou uma camada de alumínio escovado na parte traseira. Foi uma decisão acertada: além de ter ficado muito bonito, isso valoriza o design. É uma direção oposta ao que a LG vem tomando nos smartphones, onde passou a adotar o plástico com mais frequência, deixando um pouco de lado materiais mais sofisticados, como o vidro.
Na frente, o G Pad 8.3 é sóbrio e não possui nenhum botão físico. Os três botões (voltar, início e menu) são virtuais e exibidos pelo próprio Android. Como um tablet pode ser frequentemente usado tanto no modo retrato como no modo paisagem, acredito que esta seja a abordagem ideal para um tablet Android: os botões ficam facilmente acessíveis, independente do que você estiver fazendo.
O que não dá para entender é por que, em pleno ano de 2014, a LG ainda insiste no botão menu. Esse botão é considerado obsoleto pelo Google desde o Android 3.0 Honeycomb, anunciado no início de 2011, e os aplicativos da plataforma em geral já estão adaptados para exibir menus no canto superior direito da tela, não na parte inferior. Para alternar entre aplicativos, ainda é necessário segurar o botão início, como nos aparelhos com botão físico, o que é contraprodutivo. Não faz sentido.
Na lateral direita ficam o botão liga/desliga e o controle de volume. A parte superior contém a entrada para o fone de ouvido de 3,5 mm, um emissor de infravermelho (mais sobre ele depois!) e a sempre bem-vinda entrada para cartões microSD, algo importante para um tablet que só possui modelo com 16 GB de armazenamento interno. O conector Micro USB fica na parte inferior.
A LG diz que chegou ao tamanho de 8,3 polegadas após fazer pesquisas e descobrir que este seria o maior tamanho de tela possível para que o tablet continuasse podendo ser segurado com apenas uma mão. Isso realmente é possível, mas também é bastante desconfortável, então você naturalmente acabará segurando o tablet com as duas mãos na maioria das vezes.
A moldura ao redor da tela é bem fina, o que ajudou a manter o G Pad 8.3 estreito (e tornar possível segurá-lo com apenas uma mão). No entanto, o fato da moldura ser fina contribuiu para que eu desse vários toques acidentais na tela, fazendo com que o teclado virtual sumisse do nada e tentativas de rolagem de páginas no navegador travassem. Faltou uma tecnologia eficiente para detectar toques acidentais nas bordas da tela.
Tela
Eu já afirmei em oportunidades anteriores que, embora a LG possa decepcionar em alguns componentes nos smartphones, como a bateria e a câmera, as telas nunca foram problema nos topo de linha. Todos os cinco últimos smartphones da LG que tive contato (Optimus 4X HD, Optimus G, Nexus 4, G2 e Nexus 5) tinham displays acima da média em suas faixas de preço. No G Pad 8.3, posso dizer que a LG acertou de novo.
A tela de 8,3 polegadas tem resolução de 1920×1200 pixels (proporção 16:10), resultando em uma definição de 272 ppi. É possível notar diferenças em relação a telas de smartphones com maior densidade de pixels, mas apenas se você olhar bem de perto e fizer uma comparação lado a lado. Em distâncias normais, é quase impossível distinguir pixels. Filmes com proporção 16:9 ficam com faixas pretas nas partes superior e inferior, mas isso não chega a incomodar.
A LG colocou um painel IPS de excelente qualidade, com brilho alto, profundidade de preto mais que satisfatória e ângulo de visão decente, que permite enxergar bem o conteúdo da tela em todas as ocasiões. As cores são mais naturais e menos saturadas que em telas AMOLED, mas sem serem lavadas.
Software e multimídia
Como estamos falando de um dispositivo da LG, podemos esperar modificações profundas no Android. De fato, há muitas delas: todo o esquema de cores foi alterado, a fonte é diferente, não há praticamente nenhum ícone do Android feito pelo Google, os aplicativos nativos tiveram a interface modificada e novos recursos foram adicionados. Nem os botões virtuais foram poupados, como disse acima.
Não sou contra modificações no Android, desde que elas melhorem a experiência de uso. E algumas delas realmente são um bom adicional. No G Pad 8.3, em vez de apertar o botão liga/desliga, podemos simplesmente tocar duas vezes na tela para ativá-la, um comando bem familiar para usuários de Windows Phone. O gerenciador de arquivos, o Polaris Office e a ferramenta de backup da LG são bons e podem nos poupar uma ida à Play Store.
Há também alguns aplicativos para aproveitar o hardware do aparelho, como o QuickRemote, que usa o emissor de sinal infravermelho para transformar o tablet em um controle remoto. Funciona com TVs e aparelhos de DVD e Blu-ray, inclusive produzidos por outras empresas. Aqui, consegui controlar com sucesso TVs da LG, Sharp e Toshiba, além de um aparelho de som da Pioneer, após passar por um assistente de configuração bem intuitivo.
O player de vídeo da LG tem interface simples, mas é bem competente. Ele roda vídeos em 1080p sem nenhum problema e possui codecs nativos que tornam possível reproduzir filmes em .mkv sem ter que recorrer a um player alternativo. Há suporte inclusive para legendas em .srt. Dá para avançar o vídeo, controlar o volume e ajustar o brilho deslizando o dedo em determinados pontos da tela. É um dos melhores players nativos que já tive contato.
O som sai por dois alto-falantes localizados na parte traseira do tablet. De acordo com a LG, um deles toca sons graves, enquanto o outro emite sons médios e agudos. O volume é suficientemente alto para assistir a filmes e séries sem dificuldades. A qualidade de áudio, considerando a limitação física de uma carcaça de tablet, é boa.
A unidade que testei não veio com muitos aplicativos integrados e joguinhos de demonstração, diferente do que a LG costumava fazer antigamente. Além dos aplicativos do próprio Android, há o Caderno (para fazer anotações à mão), Life Square (guarda registros diários automaticamente), QPair (exibe notificações de chamadas e SMS do smartphone no tablet), Quick Translator (traduz palavras com a ajuda da câmera), entre outros.
O Android 4.2.2 modificado da LG vem com suporte ao USB On-The-Go (OTG). Com a ajuda de um cabo USB fêmea para Micro USB macho (que não vem com o tablet), consegui usar sem problemas um conjunto de teclado e mouse sem fio da Microsoft, e o gerenciador de arquivos da LG está preparado para lidar com pen drives.
Hardware e desempenho
Não há muito o que reclamar do hardware do G Pad 8.3. Com 2 GB de RAM e chip Snapdragon 600, que traz processador quad-core de 1,7 GHz e GPU Adreno 320, ele tem poder de processamento equivalente a de smartphones topo de linha que, há não muito tempo, foram lançados no Brasil por cerca de 2 mil reais. O armazenamento interno de apenas 16 GB pode ser um limitador em um tablet, mas pelo menos há uma entrada para microSD.
Os resultados dos benchmarks também são similares aos obtidos por smartphones caros:
Mas não se pode afirmar nada sobre o desempenho de um Android apenas lendo fichas de especificações técnicas e pontuações de benchmarks. Isso fica bem evidente no G Pad 8.3: por algum motivo, mesmo com um hardware bom, senti muito mais travadinhas do que gostaria. Animações engasgando ou com baixa taxa de quadros, bem como aplicativos demorando para abrir ou responder ao toque, aconteceram com bem mais frequência que o desejável.
É difícil apontar um culpado com certeza, mas o mais provável é que a interface da LG, com suas modificações profundas e aplicativos adicionais, tenham ocasionado as quedas de desempenho. Esse é um dos grandes pontos negativos da maioria das interfaces personalizadas das fabricantes, como a TouchWiz, da Samsung, que possui o mesmo problema. Quanto mais tempo o tablet estiver ligado, pior fica a performance.
Uma olhada rápida no gerenciador de aplicativos do Android mostra que somente os aplicativos da LG executando em segundo plano, incluindo os de utilidade duvidosa, ocupavam mais de 300 MB de RAM. Enquanto escrevo este parágrafo, o tablet apresenta pequenos engasgos na interface e o administrador de tarefas da LG informa que há apenas 564 MB de RAM livres (de 2 GB!), mesmo após fechar os aplicativos em execução.
Câmera
Meu baixo nível de desprendimento social não permite que eu fotografe em público usando um tablet, mas há quem faça questão de câmera boa neste tipo de dispositivo. Se esse é o seu caso, saiba que o G Pad 8.3 não é para você: a câmera traseira de 5 megapixels não consegue tirar fotos de boa qualidade.
Em situações com bastante luz natural, o G Pad 8.3 consegue tirar fotos minimamente decentes. As fotos podem ser compartilhadas em redes sociais, em tamanho redimensionado, sem maiores problemas. Apesar disso, é notável a falta de detalhes na foto e o excesso de pós-processamento por software com filtros para aumentar a nitidez, uma tentativa de disfarçar a baixa qualidade do sensor.
Já em ambientes internos, com iluminação artificial, não tem jeito: o ruído toma conta da cena, o nível de detalhes fica ainda pior e tirar fotos nítidas se torna mais difícil, já que o tempo de exposição aumenta bastante e, como não há um estabilizador de imagem eficiente, é necessário segurar o tablet com bastante firmeza.
Na foto abaixo, tirada no modo automático em um quarto iluminado apenas por uma lâmpada fluorescente, o software da LG escolheu ISO 300 e exposição de 1/10 segundo — algo um pouco desafiador até para quem tem mãos mais firmes. A lente não é muito luminosa para um dispositivo móvel, com abertura fixa de f/2,6.
Bateria
A bateria do G Pad 8.3 tem capacidade de 4.600 mAh. Trata-se de uma bateria SiO+, que na teoria é uma bateria de íons de lítio que possui partículas de óxido de silício para aumentar a densidade, o que garantiria até 25% de economia de energia, de acordo com a LG. Na prática, é uma bateria mediana, que não vai decepcionar no uso diário, mas também não vai surpreender.
Ao navegar na web e rodar jogos simples por cerca de 2 horas diárias, um uso não muito intenso, consegui usar o G Pad 8.3 seguidamente por dois ou três dias, o que é uma marca razoável para um tablet. Estranhamente, o G Pad 8.3 consumia uma quantidade relevante de bateria mesmo em standby. Não foi incomum acordar de manhã com 10% ou 20% a menos de carga que na noite passada, um problema que não tive em um iPad de 3ª geração.
Após executar um filme em .mp4 com resolução de 720p por meio do player de vídeo da LG, com Wi-Fi ligado, aplicativos em background encerrados e brilho no máximo, o tablet aguentou por exatamente 5 horas e 37 minutos até chegar aos 5% de carga, quando o brilho da tela foi automaticamente zerado.
Pontos negativos
- Câmera de baixa qualidade.
- Desempenho inconsistente.
- Interface mal otimizada e com modificações que pioram a experiência.
Pontos positivos
- Alto-falante com volume e qualidade acima da média.
- Design fino e leve, ainda que com algumas falhas.
- Tela com brilho e definição espetaculares.
Conclusão
Embora o G Pad 8.3 tenha seus defeitos, é possível afirmar que a LG fez um bom retorno ao mercado de tablets. O aparelho possui uma tela impecável, um componente que a LG sabe bem como fazer, enquanto o nível do acabamento e dos materiais usados na construção está acima do que estamos acostumados em um tablet Android.
O maior ponto negativo fica por conta do desempenho, que não chega a gerar crises de fúria, mas decepciona quando consideramos o hardware relativamente poderoso que está dentro do tablet. Nos EUA, onde o G Pad 8.3 está disponível também em Google Play Edition, publicações locais são unânimes em dizer que a versão com Android puro é notavelmente mais rápida que o modelo com as modificações da LG.
Lançado por R$ 1.099 e podendo ser encontrado sem dificuldades por menos de 900 reais em promoções, o G Pad 8.3 possui bom custo-benefício quando levamos em conta os preços dos concorrentes. O iPad mini com tela Retina possui desempenho superior e um ecossistema de aplicativos mais completo, mas tem preço sugerido a partir de R$ 1.499, então a compra pode não compensar para algumas pessoas. Já o Galaxy Note 8.0 está disponível por cerca de mil reais e tem hardware semelhante, mas possui tela inferior. O Nexus 7 de 2013, que poderia ser uma boa alternativa, não dá o menor sinal de que vai chegar ao Brasil.
Para quem procura um tablet compacto com Android, o G Pad 8.3 certamente é uma das melhores opções disponíveis atualmente no mercado brasileiro.
Especificações técnicas
- Bateria: 4.600 mAh.
- Câmera: 5 megapixels (traseira) e 1,3 megapixels (frontal).
- Conectividade: Wi-Fi 802.11n, GPS, NFC, Bluetooth 4.0 e infravermelho.
- Dimensões: 216,8 x 126,5 x 8,3 mm.
- GPU: Adreno 320.
- Kit contém: tablet LG G Pad 8.3, cabo USB, carregador e manual do usuário.
- Memória interna: 16 GB.
- Memória externa: suporte a cartão microSD de até 32 GB.
- Memória RAM: 2 GB.
- Peso: 338 gramas.
- Plataforma: Android 4.2.2 Jelly Bean.
- Processador: quad-core Qualcomm Snapdragon 600 de 1,7 GHz.
- Sensores: acelerômetro, bússola, proximidade.
- Tela: IPS LCD de 8,3 polegadas com resolução de 1920×1200 pixels.