Review Moto Z Play: energia de sobra
Quando se faz um bom smartphone, não há necessidade de módulos
Quando se faz um bom smartphone, não há necessidade de módulos
A Motorola era uma das poucas fabricantes que dava atenção para as baterias dos smartphones, com aparelhos como Moto Maxx, Moto X Play e alguns mais antigos. A Lenovo continua essa história com o Moto Z Play, um smartphone modular com hardware mais simples que o do irmão mais caro, mas bateria de 3.510 mAh, que promete aguentar muito tempo longe da tomada.
Como o smartphone da Lenovo com Snapdragon 625 se comporta? A câmera de 16 megapixels é boa? E o mais importante: a bateria atende às expectativas? Eu conto todos os detalhes nos próximos parágrafos, mas posso adiantar que sim.
O Moto Z Play me parece um Moto Z consertado. Ele tem o mesmo formato do smartphone premium da Lenovo, mas traz mudanças que, no final das contas, melhoram a experiência. É mais fácil apresentá-las em formato de lista:
Os únicos pontos contra o design continuam sendo o calombo pronunciado na câmera traseira e a espessura do aparelho com os Moto Snaps. O primeiro “defeito” pode ser parcialmente resolvido com a Style Shell inclusa na caixa: a Lenovo manda uma traseira marrom de nylon balístico, que é bonita, mas bem escorregadia.
Quanto à grossura, há uma limitação tecnológica aqui, porque mesmo os Moto Snaps mais compactos, como a bateria externa de 2.220 mAh, deixam o Moto Z Play com pelo menos 13 mm de espessura, o que é bastante desconfortável para um aparelho de 5,5 polegadas. De qualquer forma, se você não conectar nenhum módulo (e ainda não há nenhum que de fato encha os olhos), esse problema pode ser desconsiderado.
No resto do aparelho, temos os tradicionais 16 pinos de conexão dos Moto Snaps; um alto-falante mono na parte superior, que é apenas satisfatório, não fugindo da média do mercado; e um leitor de impressões digitais, que desbloqueia o aparelho rapidamente e também serve para desligar a tela.
Já a tela de 5,5 polegadas do Moto Z Play tem painel AMOLED e resolução de 1920×1080 pixels, levemente inferior aos 2560×1440 pixels do Moto Z, o que não afetou a qualidade. A definição é ótima, sendo quase impossível enxergar pixels individuais, o brilho é forte o suficiente para você não ter problemas com a luz do sol e, claro, o preto é real, contribuindo com o contraste. Ela mostra tons mais frios, com brancos e cinzas tendendo ao azul, mas isso é ajustável nas configurações do sistema.
O software do Moto Z Play é o mesmo do Moto Z. Eis o que eu havia dito:
O Android 6.0.1 Marshmallow do Moto Z é aquele que já estamos familiarizados na linha Moto. Ele praticamente não traz modificações na interface e também não possui aplicativos inúteis pré-instalados.
Os diferenciais de software do Moto Z ficam concentrados no aplicativo Moto. Ele suporta alguns gestos úteis: agite duas vezes para ligar a lanterna; deslize a partir da parte inferior para reduzir o tamanho da tela; ou gire o aparelho para abrir o aplicativo de câmera. Certas funções comuns em concorrentes, como a possibilidade de manter a tela ligada enquanto você estiver olhando para o aparelho, também estão disponíveis no Moto Z.
O Moto também reúne outras duas funções: o Moto Voz e o Moto Tela. Com o Moto Voz, o Moto Z te escuta mesmo enquanto estiver em standby: basta dar o seu comando de voz personalizado (como “Ok Moto Z”) e a tela ligará. Já o Moto Tela mostra prévias de notificações com o aparelho bloqueado e permite que você interaja com elas. São recursos que surgiram com o primeiro Moto X, foram aprimorados com o tempo e continuam muito bacanas.
Eu fiquei um pouco decepcionado com o fato da Lenovo não se comprometer mais com atualizações de segurança mensais do Android. Esses patches não alteram a versão do Android, mas corrigem falhas de segurança graves (e ultimamente isso tem sido mais importante do que nunca). O primeiro sinal da nova política já apareceu durante os meus testes: enquanto o Galaxy S7 Edge está com o patch de agosto, o Moto Z ainda está com o patch de julho. Outros smartphones da linha Moto também deixaram de receber atualizações com a mesma frequência. Bola fora da Lenovo.
As considerações continuam as mesmas, com uma pequena novidade na parte da segurança: o Moto Z Play está com o patch de agosto, enquanto o Galaxy S7 Edge já recebeu a atualização de setembro, que corrige uma falha grave no kernel. A Lenovo, portanto, continua decepcionando nesse ponto e colocando em risco a segurança dos usuários.
A câmera traseira do Moto Z Play me surpreendeu positivamente. Enquanto o Moto Z não traz uma câmera impressionante para a sua faixa de preço, a versão menos cara até que se dá bem. Apesar da lente com abertura menor (f/2,0, contra f/1,8 no Moto Z) e da ausência de estabilização óptica, eu não consegui notar diferenças significativas de qualidade entre o Moto Z Play e o Moto Z, inclusive em ambientes noturnos — o que é muito bom se pensarmos que estamos falando de uma diferença de 1.000 reais.
Com boa iluminação, o Moto Z Play entrega fotos com definição bastante satisfatória e alcance dinâmico decente, sem aumentar tanto o ruído em áreas de sombra. O foco, que é auxiliado por laser e funciona por detecção de fase, também ajuda na hora de fotografar, sendo bastante preciso. As cores também agradam, com saturação na medida certa.
Em condições de baixa iluminação, o smartphone também não faz feio. Assim como no Moto Z, há um aumento considerável de ruído à noite, mas que não chega a inutilizar a foto. Sem um forte pós-processamento para remover o ruído, a definição permanece boa e não há perda de saturação, como aconteceria em uma câmera mais barata.
É possível encontrar câmeras melhores pelo preço de R$ 2.199 no Moto Z Play, mas dá para afirmar que a Lenovo fez um bom trabalho — e deve agradar inclusive quem estiver pensando em fazer um upgrade do Moto X Play, por exemplo.
O Snapdragon 625 que equipa o Moto Z Play é um pequeno avanço em relação ao Snapdragon 615 do Moto X Play: ele traz os mesmos núcleos econômicos Cortex-A53, mas rodando a uma frequência maior (até 2,0 GHz). Embora esteja atrás dos Snapdragon 652 e 820, é um processador competente, que não faz feio nas tarefas diárias — muito pelo contrário.
No dia a dia, o Moto Z Play aguenta o tranco, não apresentando nenhum sinal de engasgo. Em jogos, a Adreno 506 lida bem com a tela de 1920×1080 pixels, rodando jogos como Unkilled com os gráficos na qualidade média (na qualidade alta, a baixa taxa de frames já começa a incomodar). E os 3 GB de RAM colaboram com o multitarefa; não tive nenhum problema ao alternar entre aplicativos em sessões mais intensas.
Mas o maior trunfo do Moto Z Play é, sem dúvida nenhuma, a bateria. À primeira vista, a capacidade de 3.510 mAh não enche os olhos — a Motorola já havia lançado smartphones com 3.630 mAh (Moto X Play) e 3.900 mAh (Moto Maxx). Mas, aparentemente, os componentes estão mais econômicos ou houve um esforço para otimizar o consumo de energia do software, porque os resultados me surpreenderam.
Na minha rotina diária, com duas horas de streaming de música no 4G e 1h30min de navegação pela rede móvel, com brilho no automático, eu sempre cheguei em casa com algo entre 65% e 75% de bateria, depois de 13 horas de uso (das 10h às 23h). É uma marca bem impressionante: nas mesmas condições, o Moto Z não chegava com mais de 25% de carga.
Mesmo quando a bateria acaba, o carregador TurboPower de 15 watts faz um bom trabalho em reabastecer o Moto Z Play de zero a 100% em cerca de duas horas e meia. Mas a recomendação de sempre levar o cabo em viagens continua valendo, já que é pouco provável que algum amigo tenha um cabo USB-C para emprestar se você ficou distraído demais com Pokémon Go.
Por aguentar o primeiro dia com folga, eu decidi testar a bateria do Moto Z Play em dois dias seguidos. Tirei o aparelho da tomada às 18h e, 29 horas depois, com a rotina acima feita duas vezes, a bateria chegou a 27%. Não recarreguei o smartphone. Às 10h do dia seguinte, o Moto Z Play ainda estava vivo, com 13% de bateria.
No total, foram 40 horas de teste e 5h04min de tela ligada com uso intenso de 4G. É a melhor bateria que já passou na minha mão.
O Moto Z Play é um dos smartphones mais bacanas que testei no último ano. Ele não é o mais potente, não tem a melhor tela, nem a melhor câmera. Mas a sensação de ter certeza que a bateria vai chegar até o final do dia (e talvez até o final do dia seguinte) é muito boa e até gerou uma mudança na minha rotina — eu nem me preocupava em deixar o aparelho descansando na tomada na hora de dormir.
O fato de ser um smartphone modular ficou em segundo plano em todos os momentos em que utilizei o Moto Z Play. A única grande deficiência do Moto Z, a bateria subdimensionada, não existe no Moto Z Play, logo, o único módulo realmente interessante lançado até agora não vale no irmão mais barato — a não ser que, sei lá, você esteja planejando fazer um mochilão pelo Deserto do Atacama e esteja muito longe de qualquer tomada.
Por R$ 2.199, o Moto Z Play chegou muito mais caro em relação ao Moto X Play, mas, dado o cenário atual, ele é uma opção de compra a se considerar. A bateria impressiona, o desempenho agrada e a câmera não faz feio. O Moto Z Play é basicamente o que o Moto Z deveria ter sido desde o começo. Quando se faz um bom smartphone, não há necessidade de módulos.