Apple Watch Series 4: muitas melhorias por muito dinheiro

Smartwatch caro da Apple é a melhor opção para iPhone e traz monitoramento de exercícios com GPS, 4G e capricho no watchOS

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses
Apple Watch Series 4

O Apple Watch Series 4 é a primeira grande evolução do smartwatch da Apple desde o lançamento, em 2015. Além das novidades na bateria, no processador e nas pulseiras, que chegam todos os anos, a empresa renovou o gadget, com telas maiores, design mais caprichado e sensores adicionais que, mais do que nunca, reforçam o foco em saúde e fitness.

No Brasil, quem quiser o relógio inteligente da Apple precisa desembolsar pelo menos R$ 3.999, mas o preço facilmente bate nos cinco dígitos dependendo do material do smartwatch e da pulseira escolhida. Será que vale a pena gastar tanto dinheiro assim? O que melhorou em relação aos Apple Watches anteriores? E para que ele serve, exatamente?

Eu passei as últimas semanas com o Apple Watch Series 4 no pulso e conto tudo nos próximos minutos.

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Se é para começar com os pontos positivos, não tem como abrir este review sem falar da tela. A geração anterior já tinha um painel OLED de excelente qualidade, com cores vivas, definição impecável e brilho forte o suficiente para enxergar tudo, mesmo sob a luz do sol. O Series 4 tem tudo isso, só que em um display bem maior: a tela do modelo que eu testei, de 40 mm, chega a ser maior que a do antigo de 42 mm.

Apple Watch Series 4

O espaço adicional foi muito bem aproveitado pelos novos mostradores, que podem exibir mais informações ao mesmo tempo. No mostrador Infográfico, por exemplo, eu coloquei o horário do pôr do sol, a previsão do tempo, os eventos do calendário, o nível de bateria, a velocidade do vento, um atalho para iniciar uma atividade física, um timer e as calorias queimadas do dia. Ufa! Dá até para ver as horas.

Tem tanta informação que algumas pessoas podem ficar perdidas — mas eu me acostumei rapidamente e talvez sentisse falta do novo mostrador em um Apple Watch mais antigo. As complicações ficaram mais detalhadas, e é boa a sensação de ter acesso a tudo com uma simples virada de pulso. Quando eu não quiser ver tantas letrinhas, é só deslizar o dedo e alternar para um mostrador mais simples.

Apple Watch Series 4

O design também merece destaque. Eu prefiro relógios com formato circular, mas o Apple Watch Series 4 também me agrada porque ele é discreto, é confortável e é funcional. Ele serve tanto para destro quanto para canhoto, como é o meu caso; e fica em harmonia com pulsos mais finos, diferente de alguns smartwatches que mais parecem um morfador.

Ele não chama a atenção se você usar uma pulseira mais neutra, como a esportiva na cor preta. A minha preferida é a estilo milanês, com um fecho magnético e uma trama de aço inox que funciona bem em ocasiões mais formais — eu só troco ela na hora de correr. Aqui, outro ponto positivo para a Apple: mesmo aumentando a tela, o encaixe de pulseira permaneceu o mesmo, o que significa que todos os acessórios do Apple Watch de 38 mm continuam funcionando perfeitamente no modelo de 40 mm.

Apple Watch Series 4

A experiência de uso é boa, tanto por causa do design quanto pelo watchOS, que segue sendo quase uma unanimidade para usuários de iPhone: é um sistema muito bem desenvolvido, fluido mesmo e com aplicativos bem feitos que se integram bem com as versões para iOS. E a única ausência que eu comentei no review do Apple Watch Series 3, o Spotify, finalmente chegou ao relógio da Apple.

A usabilidade do watchOS é reforçada pela coroa digital, que perdeu aquela verruguinha vermelha na versão com 4G. É uma forma prática de rolar as telas, aumentar o volume da música e controlar o zoom de um aplicativo, como um mapa, sem precisar fazer gestos em uma telinha — isso é algo que funciona muito bem nos relógios da Samsung, por exemplo, e que deveria ser padrão em qualquer smartwatch com tela sensível ao toque.

Apple Watch Series 4

Por fim, o monitoramento de exercícios, um ponto que eu critiquei no review da geração anterior, melhorou bastante para quem pratica corrida. Com o watchOS 5, que também chegou aos modelos passados, o Apple Watch consegue mostrar a cadência (em passos por minuto) e enfim permite configurar alertas de ritmo, que ajudam a manter a velocidade constante nos treinos.

Mesmo quem não pratica atividades físicas com frequência pode se sentir estimulado pelo sistema de três círculos do Apple Watch: você precisa cumprir uma determinada meta de calorias queimadas, tempo gasto em exercícios e horas em que não ficou parado. Eu estou particularmente viciado nos Prêmios, os troféus virtuais conquistados quando um recorde é batido ou certos objetivos são concluídos.

Apple Watch Series 4

Fiquei em dúvida se colocaria a bateria do novo Apple Watch como um ponto positivo ou negativo, mas decidi abrir os contras com ela. Sim, a autonomia é melhor que a da geração passada e, mais importante, dura o dia inteiro, sem surpresas. Em nenhum momento eu tive medo de ficar sem bateria antes de chegar em casa; normalmente termino o dia com algo entre 40% e 50% de bateria.

Segundo a Apple, a bateria dura 18 horas, mas eu fiz um teste dormindo com o Apple Watch, sem recarregar, como um experimento para medir meus batimentos cardíacos em repouso total, e consegui ir das 9h da manhã até as 14h do dia seguinte, com 10% de bateria restante — ou seja, quase 30 horas de duração.

A questão é que a concorrência já entrega baterias melhores. Não estou comparando com relógios muito mais simples, que duram uma semana ou mês: a Samsung, por exemplo, já consegue, no Galaxy Watch, com tela AMOLED e um sistema operacional completo, atingir três ou quatro dias de autonomia.

Uma autonomia de vários dias é bacana porque permite monitorar o sono, o que é quase inviável com o Apple Watch, e também abre espaço para exercícios mais longos. A Apple diz que a bateria dura 6 horas em atividades ao ar livre. Nos meus testes, ouvindo música pelo Apple Music (com as músicas já armazenadas na memória), correndo 5 km em 29 minutos, com 4G desligado e no brilho no máximo, a bateria caiu de 87% para 74%; uma média de aproximadamente 25% por hora.

Apple Watch Series 4

Para as corridas curtas de 5 ou 10 km do dia a dia, dá e sobra. Para um longão de final de semana ou uma maratona, talvez a bateria não aguente, dependendo dos recursos que você usar e se o 4G estiver ligado ou não. Então, apesar das melhorias, o Apple Watch ainda não deve chamar tanto a atenção de pessoas que hoje costumam optar por modelos mais sofisticado da Garmin ou Suunto.

E falando em público mais hardcore, um detalhe que me incomoda é o aplicativo Exercícios. Em um relógio tradicional com GPS, funciona assim: você seleciona o exercício, espera ele captar a localização (o que demora uns 10 ou 20 segundos) e então pode começar a correr. No Apple Watch, ele simplesmente faz uma contagem regressiva, inicia o exercício e torce para que o GPS esteja pronto (e normalmente não está). No meu caso, ele sempre perdeu precisão nos primeiros 100 ou 200 metros.

Além disso, para um relógio focado em saúde, que avisa quando detecta uma frequência cardíaca muito baixa e até liga para a emergência se você cair no chão, o Apple Watch Series 4 chega incompleto ao Brasil. A empresa destacou bastante o recurso de eletrocardiograma, que lê os sinais elétricos do coração e pode indicar arritmias, mas ele não pode ser usado por aqui. E a Apple diz que só vai liberar a função fora dos Estados Unidos quando tiver a autorização das autoridades locais (no nosso caso, a Anvisa), então isso pode demorar. Ou nem chegar.

Apple Watch Series 4

Um dos grandes problemas do ecossistema da Apple continua sendo a Siri. Ela é visivelmente inferior ao Google Assistente, tem dificuldades de reconhecimento de fala e muitas vezes não consegue fazer o que você pediu. Até funciona para tarefas básicas, como configurar o timer quando você colocar alguma coisa no forno, ou falar a previsão do tempo, mas nada muito além disso. Inclusive, é bem comum a Siri demorar demais para responder ou simplesmente desistir de atender ao seu comando.

Somado a esses problemas de “falta de compreensão” da Siri, uma das novidades do watchOS não funcionou muito bem comigo: a promessa é que você não precisa mais segurar o botão de início nem falar “E aí, Siri”, é só levantar o braço e dar o comando de voz. Mas a Siri me deixou no vácuo tantas vezes que eu simplesmente desisti de fazer isso.

Vale a pena?

Apple Watch Series 4

Eu não tenho coragem de olhar para a cara de uma pessoa e falar que vale a pena gastar quatro, cinco ou dez mil reais em um relógio. Mas o Apple Watch Series 4 é o smartwatch que mais chega perto de valer a pena para quem usa iPhone.

Cobrando caro, a Apple entrega uma tela excelente, um design que deve agradar quase todo mundo, opções de pulseiras para todos os gostos e, principalmente, um sistema operacional bastante amadurecido. Ele não vai atender todos os públicos, mas é um smartwatch muito bem construído, com monitoramento de exercícios, recursos de saúde e muito espaço para músicas, que te entrega todas as informações no seu pulso, inclusive a hora.

Claro que existem modelos mais acessíveis para quem só quer o básico em um relógio inteligente — como mostrar notificações, o número de passos e a hora. O Apple Watch Series 4 tem sensores de batimento cardíaco mais avançados, uma tela de altíssima qualidade, 16 GB de memória flash e outros componentes que encarecem o produto, além da grande margem da lucro da Apple, obviamente. Mas, no final das contas, é um smartwatch bastante refinado e bem desenvolvido.

Para quem pode se dar ao luxo de gastar milhares de reais em um smartwatch, sim, o Apple Watch Series 4 é uma excelente opção.

Especificações técnicas

  • Bateria: até 18 horas;
  • Conectividade: 3G, 4G LTE (bandas 3 e 7), GPS, Glonass, Galileo, QZSS, Wi-Fi 802.11n, NFC (Apple Pay), Bluetooth 5.0;
  • Dimensões: 39,8×34,4×10,7 mm;
  • Memória interna: 16 GB;
  • Peso: 30,1 gramas (sem pulseira, alumínio);
  • Plataforma: watchOS 5.1.1;
  • Processador: dual-core Apple S4;
  • Sensores: acelerômetro, giroscópio, luminosidade, barômetro, sensor cardíaco óptico, sensor cardíaco elétrico;
  • Tela: OLED LTPO com resolução de 394×324 pixels e sensibilidade à pressão (Force Touch).

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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