O derradeiro pouso do ônibus espacial Atlantis na semana passada colocou um ponto final no mais recente capítulo da relativamente curta história da exploração do cosmo, deixando para trás grandes conquistas, enormes descobertas, alguns traumas e inúmeros aprendizados.

Como todo bom representante da mais alta tecnologia as naves Columbia, Challenger, Discovery, Atlantis e Endevour eram equipados com uma série de computadores responsáveis por manter seus controles e sistemas funcionando adequadamente em suas decolagens, órbitas e aterrissagens. Mas ironicamente, esses equipamentos não representavam exatamente o topo da tecnologia que tínhamos aqui da terra.

Entre 1981 e 1989 os ônibus espaciais tinham seus controles de voo mantidos por computadores aeronáuticos IBM AP-101 de 32 bits, que já naquela época estavam longe de representar o máximo o que a tecnologia poderia oferecer. Em atividade desde os anos 50, quando voava embarcado em bombardeiros B52, o computador dispunha de módicos 432 kilobytes de memória de ferrite, arquitetura usada até meados dos anos 70. Ele também vinha com um processador capaz de realizar 480 mil cálculos por segundo (um módico e atual Intel Atom é capaz de executar 3300 milhões de instruções no mesmo tempo). Sem qualquer tipo de sistema de armazenamento, os computadores liam suas instruções a partir de cartuchos.

Desenvolvidos para oferecer confiabilidade, não desempenho, os AP-101 tinham desempenho equivalente aos dos computadores pessoais disponíveis nas prateleiras na época em que os ônibus espaciais começavam a ganhar os céus. Lançado em 1977, o famoso Apple II era equipado com um processador – de apenas 8 bits – capaz de realizar 500 mil instruções por segundo de 4Kb de RAM.

Cada ônibus espacial contava com quatro computadores AP-101 instalados em redundância, prontos para entrar em atividades caso um falhasse, e um quinto responsável pelo backup de todo sistema de navegação. Como a baixa capacidade das máquinas e alta complexidade das operações deixaram os AP-101 sobrecarregados boa parte do tempo, a Nasa destinou aos próprios astronautas a tarefa de realizar “cálculos críticos de voo”, incluindo o do centro de gravidade das naves, que eram feitos a partir de calculadoras HP 41C, modelo de mão que podia ser adquirido em lojas na época por US$ 125.

Em 1990 os sistemas de controle dos ônibus espaciais foram atualizados para o IBM AP-101S, modelo com incríveis 1MB de RAM e processador capaz de realizar 1,2 milhões de operações por segundo, versão “definitiva” que acompanhou as naves até o último voo.

Ainda nos anos 90 o nível de antiguidade dos equipamentos chegou a provocar situações curiosas, como fazer com que a Nasa anonimamente participasse de leilões de sucata de equipamentos hospitalar para conseguir componentes que poderiam ser usados na manutenção de seus computadores. Depois que foi descoberta, tal prática fez com que alguns aproveitadores conseguissem ganhar algum dinheiro sobre a agência espacial, que preferia investir na manutenção de um sistema comprovadamente confiável do que se arriscar a testar novas possibilidades: os desastres envolvendo a Challenger, em 1986, e Columbia, em 2003, não foram provocados por problemas nos controles.

Assim, Columbia, Challenger, Discovery, Atlantis, Endervour, além do protótipo Enterprise (batizado assim em homenagem ao seriado Star Trek) fizeram com que um punhado de computadores antigos liderassem uma das maiores evoluções da história da humanidade: a corrida espacial.

Toda nossa reverência a eles.

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João Brunelli Moreno

João Brunelli Moreno

Ex-redator

Formado em comunicação e jornalismo pela Universidade Metodista de Piracicaba, João Brunelli Moreno é redator, blogueiro, roteirista e produtor de conteúdo. Venceu mais de 100 prêmios de publicidade, incluindo o 40° Profissionais do Ano realizado em 2018. Foi autor no Tecnoblog entre 2009 e 2012 cobrindo assuntos relacionados a gadgets, computadores, Apple, Google, Microsoft, entre outros.

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