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Recentemente escrevi, na revista Mac+, uma crítica à Apple e ao modelo de comércio praticado na sua loja de aplicativos, a AppStore, indiscutivelmente uma das iniciativas mais bem sucedidas no mundo da tecnologia móvel. Lógico que ganhei uma coleção de críticas (e alguns elogios), as mais comuns dizendo coisas do gênero “se não gosta da Apple não usa, ué!”

Como se usuário da Apple não pudesse tecer críticas sobre a plataforma que usa! Às vezes, a mais leve critica ao universo de Steve Jobs ofende profundamente muitos usuários. Parece religião.

Sim, o modelo da AppStore é muitíssimo bem sucedido! Porque é a coisa mais simples do mundo, como tudo no iPhone. O usuário toca num ícone, entra na loja, navega pelos milhares de aplicativos devidamente categorizados e rankeados, e com apenas mais uns 2 ou 3 toques na tela, seu aplicativo está comprado, pago e instalado no aparelho. Boa parte de graça ou custando apenas $0.99. Além disso, as políticas de incentivo aos desenvolvedores são bastante convidativas, o que explica o tamanho gigantesco do catálogo à disposição dos clientes.

Mas a origem do debate é a dicotomia comercial que permeia o mundo da maçã móvel. A fama de rigorosa na seleção e liberação dos aplicativos choca-se com a presença de aplicativos de qualidade duvidosa, alguns claramente para tirar dinheiro de usuários ingênuos. E os acordos comerciais com a empresa de telefonia AT&T acirram o debate.

Felizmente há vida fora da maçã. Outras plataformas copiaram o modelo, como a Nokia-Symbian, o Android, o Windows Mobile, o webOS da Palm, o Blackberry. Assim, poderão levantar um dinheiro e incentivar os usuários a turbinarem seus aparelhos, já que não precisarão vasculhar a internet à caça de novidades.

O chato dessas lojas (todas!) é mesmo a seleção dos aplicativos por país. Será que na nossa aldeia global e digital isso ainda faz sentido? E há também os conflitos de interesses, pois acordos entre empresas de hardware, software e telefonia podem barrar a presença de certas categorias de programas.

Os fãs da Apple podem chiar à vontade, mas aquilo que eles consideram o maior fiasco da concorrência é, na verdade, um grande trunfo: ninguém é obrigado a instalar nada a partir da loja online. Pode-se baixar programas de qualquer lugar, como sites independentes e lojas dos próprios desenvolvedores. Pergunte a qualquer veterano dos finados Palms e Pocket PCs como ele abastecia seu dispositivo no início desta década. Eu e muita gente continuamos a instalar coisas em nossos Windows Mobile, Symbians e Blackberries desta maneira. Nenhuma operadora se mete nas funcionalidades dos aplicativos.

A Apple também desdenha a pulverização dos dispositivos Android – marcas diferentes, telas diferentes, teclados diferentes, funcionalidades diferentes… e diz que, no seu universo, o desenvolvedor só escreve o programa uma vez, para um único formato de aparelho.

Isso só é vantagem para os desenvolvedores de primeira viagem, que entraram nesse mercado em busca de dinheiro fácil. A disseminação de histórias de desenvolvedores que faturam milhares de dólares por mês com uma ou outra aplicação atiçou a ganância de muitos oportunistas. Desenvolvedores consagrados, com experiência em mobilidade, nunca reclamaram da pluralidade que sempre existiu no Palm OS, no Windows Mobile e no Symbian.

Como explicar o sucesso da AppStore, indo além do sucesso do próprio iPhone? Simples: a inclusão maciça de calouros no mundo da tecnologia móvel, pois tudo ali é simples e rápido, não demanda conhecimento técnico. O iPhone pode ser apenas a porta de entrada para essa gente, pois com o tempo, eles também se tornarão veteranos, se interessarão em acompanhar as novidades e compará-las. A concorrência está se mexendo – basta ver os mais recentes Androids anunciados, como o Xperia X10, da Sony Ericsson, e o Droid, da Motorola, para constatar que a briga ainda nem começou direito, mas promete.

Só para constar: eu tenho iPhone. Uso todo dia, junto com o MobileMe, o qual não vivo mais sem. E já comprei um catatau de coisas na AppStore, como o OmniFocus, do qual me tornei dependente – e não existe em outras plataformas. Mas também tenho aparelhos de todos os outros sistemas operacionais. Estou sempre me alternando entre eles. Não louvo ou condeno nenhum contra os outros. Não sou acionista de nenhuma empresa de TI. Conheço bem as qualidades e defeitos de todos os dispositivos móveis. Também não me enquadro no perfil “colunista rabugento” como o Dvorak, o nosso Garfield do jornalismo tecnológico. Eu sou uma usuária, como todos vocês que estão lendo esta coluna, e como tal, sinto-me no direito de elogiar, reclamar e, principalmente, soltar o verbo quando alguma empresa de tecnologia decide fazer os consumidores de bobos. Vocês não fariam o mesmo?

Na semana que vem volto a falar de lojas de aplicativos móveis, e darei um descanso à Apple. Juro.

Adendo: mais um protesto

Os leitores devem ter percebido que, além da minha coluna sair com um dia de atraso, também ficou sem cartoon. A culpa é da HP, que andou me dando uma senhora dor-de-cabeça esses dias. Meu multifuncional, o PSC 1315, deixou de funcionar com o Snow Leopard, o novo driver demorou para sair e, quando saiu, veio com um belo comunicado: o driver do scanner foi descontinuado. Vários modelos de multifuncionais da fabricante agora só funcionarão com a impressora no Snow Leopard. E encerram o aviso com um “nós recomendamos que você faça um upgrade de produto HP”. Pois bem, eu preferirei um upgrade de marca!

A imagem que ilustra essa coluna não é de minha autoria. Tirei de lá do blog do Fake Steve Jobs, que por sua vez trouxe do iPhone Savior.

Chega por hoje. Vou ver se acho um Lexotan por aí.

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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