Bancos digitais oferecem maior comodidade, mas isso pode ter um preço

É realmente seguro depender tanto do celular para controlar nossa vida financeira?

Josué de Oliveira
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• Atualizado há 11 meses
É realmente seguro depender tanto do celular para controlar nossa vida financeira? (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
É realmente seguro depender tanto do celular para controlar nossa vida financeira? (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

O celular roubado e um prejuízo de mais de R$ 100 mil. A essa altura, você já deve ter ouvido a história de Bruno De Paula. A thread teve grande repercussão no Twitter e gerou matérias em diversos veículos de imprensa. E não é para menos. Os fatos narrados mostram alguém que, após uma sofrer uma violência, ainda teve que lidar com a lentidão de instituições financeiras para resolver a situação.

Outra consequência do relato foi o medo generalizado de passar por algo parecido. Se os aplicativos que usamos para transações financeiras são tão frágeis em segurança, como podemos nos proteger?

Há muitas dicas de como acrescentar camadas de segurança ao seu smartphone. A implementação delas, no entanto, mostra algo importante: se proteger quase sempre implica numa perda em comodidade.

Nossas finanças estão em nossos celulares

A ação de criminosos especializados em invadir contas já chama a atenção da Polícia Civil de São Paulo desde o ano passado. O thread que viralizou é só mais um dos casos de pessoas roubadas duplamente: primeiro o celular — e desbloqueado, principal alvo dos bandidos —, depois o dinheiro guardado em bancos e carteiras digitais. Especula-se até mesmo a participação do PCC nessas ações.

Esse crime acompanha o crescimento do uso de smartphones para pagamentos e movimentações bancárias. A pandemia fez com que esses meios se popularizassem ainda mais. Com isso, os bandidos perceberam a necessidade de se adaptar. Agora, se aproveitam de certas facilidades oferecidas pelos aplicativos para tomar o controle das contas da pessoa roubada.

O ponto é que, para muita gente, concentrar a vida financeira no celular é simplesmente muito cômodo. Transferir dinheiro via PIX, fazer investimentos, até pedir empréstimos: tudo isso é possível no mesmo aparelho. Bastam alguns poucos cliques.

Assim, qualquer estratégia para acrescentar camadas de segurança vai inevitavelmente interferir nessa praticidade. Você pode inserir uma senha obrigatória para abrir seus aplicativos bancários, ou usar o recurso Tempo de Uso para forçá-los a fechar após um minuto. Essas e outras ações dificultam a vida de um criminoso que por acaso roube seu celular desbloqueado. Porém, no dia a dia, também tornará o seu uso legítimo desses aplicativos um tanto mais chato.

Talvez seja um preço necessário a pagar.

Não é necessário voltar à burocracia dos bancões

O contraste das fintechs é com os bancos tradicionais, mais burocráticos quando se trata de mudar senhas, por exemplo. A necessidade de se deslocar até um caixa eletrônico para validar certas ações pode se tornar uma segurança a mais contra invasão de contas. Mas não é preciso acrescentar burocracias à jornada do usuário. O melhor caminho é inserir proteções nativas nos aplicativos, de modo que o usuário se acostume com elas e não as veja como um incômodo.

Validar todas as transações por biometria facial, por exemplo. Alguns bancos já exigem essa ação. No dia a dia pode ser meio irritante, mas ela gera um impedimento muito claro a alguém tentando limpar a sua conta.

Dificultar um pouco mais a troca de senhas também seria bom. Esse é o caminho mais fácil para o criminoso conseguir movimentar a conta. E se a biometria também fosse exigida nesses casos, e não apenas o e-mail, sempre já logado no celular?

Uma vez que as instituições já associaram tanto de sua imagem à comodidade, pode ser complicado mexer nesse elemento agora. No entanto, os relatos de roubo de celular e contas invadidas deixam claro que a vida dos criminosos está fácil demais. Existem meios para proteger seu smartphone, mas é inegável que, com proteções nativas, os usuários poderiam ficar mais tranquilos.

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Josué de Oliveira

Josué de Oliveira

Produtor audiovisual

Josué de Oliveira é formado em Estudos de Mídia pela UFF. Seu interesse por podcasts vem desde a adolescência. Antes de se tornar produtor do Tecnocast, trabalhou no mercado editorial desenvolvendo livros digitais e criou o podcast Randômico, abordando temas tão variados quanto redes neurais, cartografia e plantio de batatas. Está sempre em busca de pautas que gerem conversas relevantes e divertidas.

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