A tímida, mas prometida estreia do buscador chinês Baidu no Brasil
Entre o início das operações da empresa no Brasil e a prometida estreia de seu principal produto, o buscador, passaram-se quase nove meses, mas aí está: a versão brasileira do Baidu começou a funcionar oficialmente na última semana e vem com a árdua missão de fazer frente ao líder absoluto do segmento, o Google. Será que os chineses terão algum sucesso?
O Google domina o mercado de buscas porque não se permite ficar parado no tempo. Seu mecanismo de busca é um sistema em constante evolução, entregando resultados cada vez mais personalizados e integrados a outros serviços (Google Maps, Shopping, YouTube e assim por diante). A consequência é uma dependência massiva quase que inconsciente do ecossistema da empresa.
Pode ter certeza de que os chineses sabem disso. Mesmo assim, a (empresa) Baidu acredita ser capaz de conseguir abocanhar pelo menos uma fatia do segmento: em um evento realizado no final de 2013 em São Paulo, o diretor-geral da empresa disse haver algo de errado no Brasil para que a companhia de Mountain View concentre 91% das buscas no país enquanto que, globalmente, a sua média é de 70%.
De fato, o Google é derrotado em poucos países, como Rússia e China. Neste último, o mecanismo de busca mais utilizado é justamente o Baidu, cuja fatia de mercado também gira em torno dos 70%. Talvez seja este número expressivo que faça a companhia acreditar que pode competir em outros países, embora as tentativas já realizadas tenham dado pouco resultado – no Japão, por exemplo, a participação do Baidu é pífia.
Acessível apenas pelo endereço “https://br.baidu.com” (o domínio “baidu.com.br” está “travado” no Registro.br), a versão brasileira do Baidu parece funcionar bem. Nos testes feitos para este post, o buscador entregou links consistentes nos primeiros resultados (e não páginas de conteúdo duvidoso). Além disso, é rápido, tem visual limpo (sem links patrocinados ou banners) e faz sugestões de termos relacionados à pesquisa atual no topo da página.
Na home do Baidu, há links para serviços como Facebook, YouTube e UOL. Há necessidade disso? Não, mas talvez esta seja uma forma de atrair empresas interessadas em pagar para exibir sua marca ali.
Assim como no Google, o campo de busca também é capaz de autocompletar resultados e, curiosamente, possui uma seta à direita que indica as pesquisas mais realizadas naquele momento.
O serviço também é capaz de fazer buscas por imagens e vídeos. Talvez o seu maior diferencial em relação ao Google fique para o Postbar, uma espécie de fórum que permite ao usuário pesquisar opiniões ou debater temas procurados (mas que, atualmente, não exibe nada de muito relevante).
Mesmo funcionando bem, não é difícil perceber que os recursos do Baidu não são suficientes para “roubar” usuários do Google. Talvez seja por isso que o serviço teve uma estreia tão tímida por aqui: é possível que a intenção da empresa nesta primeira fase seja a de entender as peculiaridades do mercado brasileiro.
Sim, a estreia foi bastante discreta. É verdade que o lançamento se deu durante um evento em Brasília que contou inclusive com a presença da presidente Dilma Rousseff, mas a cerimônia, na verdade, foi realizada para celebrar mais de 30 acordos de cooperação entre Brasil e China.
A estreia do buscador representa apenas um deles, mas vem com audácia, prevendo até mesmo parcerias com universidades para a criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento da Baidu no Brasil.
É como se a empresa estivesse dizendo que a sua chegada é lenta, mas que está vindo para ficar, embora seus executivos sejam cuidadosos o suficiente para não revelar metas ou planos.
Mesmo assim, já podemos esperar por uma estratégia mais agressiva para os próximos meses: ao The Next Web, o CEO da companhia Robin Li explicou que “o Baidu não vai esperar as pessoas descobrirem o serviço e então usá-lo por conta própria”.
A declaração pode significar muitas coisas, desde campanhas publicitárias a acordos para portais estabelecerem o Baidu como seu mecanismo de busca padrão.
Tomara que não, mas a afirmação também pode sinalizar que a empresa adotará a inconveniente (para não dizer outra coisa) estratégia de distribuir extensões do Baidu brasileiro junto a instaladores de programas baixados em sites de download, a exemplo do que já ocorre com produtos como Hao123 e Baidu Antivirus.
Certeza mesmo é que, por ora, não há nada capaz de quebrar a hegemonia do Google no Brasil.
Atualizado às 23:30