Como foi participar de um projeto que incentiva mulheres a programar
Reprograma é uma iniciativa com o objetivo de empoderar mulheres ensinando programação front-end
Nota do editor: o Reprograma é um curso intensivo para capacitar mulheres a se tornarem programadoras front-end, apoiado por empresas como Nubank, Microsoft, ThoughtWorks e Itaú. A Evy Perez participou da iniciativa e conta sua experiência. (Paulo Higa)
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Não é novidade que o setor de tecnologia é predominantemente masculino. Os motivos são diversos, vão desde a falta de incentivo, passando por menores oportunidades de crescimento e também desigualdade salarial. Por isso, existe bastante importância em incentivar mulheres nesse meio, pois quanto menor a diversidade, mais os ambientes, produtos e serviços continuarão pouco amigáveis para mulheres.
Eu, particularmente, sempre gostei de tecnologia, mas nunca tive coragem de me envolver profundamente com a área. Eu preferi trabalhar como designer, mas sempre tive vontade de aprender programar e me via colocando empecilhos para não começar. Até que em um dos muito grupos de Facebook que participo, acabei encontrando uma iniciativa chamada Reprograma. O objetivo é empoderar mulheres, ensinando programação front-end. Taí minha oportunidade de aprender a programar. 😉
O Reprograma é uma iniciativa em formato experimental, com uma equipe de voluntários dispostos a ensinar e integrar mulheres na área de tecnologia. A ideia não é apenas capacitar mulheres em programação front-end, mas oferecer todo o suporte possível. Isso inclui dar apoio profissional e psicológico, ensinar empreendedorismo, além de oferecer mentoria liderada por profissionais mulheres reconhecidas.
O curso é integral, com duração de seis semanas. A única exigência é ter tempo disponível e vontade de aprender a programar. Passei por uma seleção e fui chamada — eram mais de 300 mulheres inscritas, apenas 25 selecionadas, todas muito diferentes umas das outras. Foram semanas muito intensas, é uma imersão inexplicável. Apenas um spoiler: quebrar a cabeça era rotina.
Na primeira semana tudo parecia bem tranquilo. Tivemos aulas incríveis sobre design UX, design sprint, empreendedorismo e dicas de como entrar na área de tecnologia.
Na segunda semana começamos a quebrar a cabeça, aprendemos o básico sobre internet, banco de dados, navegadores, etc. Depois começamos a aprender HTML5 e CSS. Os desafios foram ficando mais difíceis: tivemos que fazer uma espécie de feed imitando o Facebook e depois um quadro com a foto de todas as alunas.
Nós sofremos com os desafios, pois o Reprograma ainda não tinha passado conteúdo suficiente — a ideia era fazer a gente quebrar a cabeça com aquilo que sabíamos, para depois ensinar do jeito correto. Nessa fase, algumas mulheres tiveram muita dificuldade e vontade de desistir, isso que ainda nem sonhávamos com JavaScript.
Na quarta semana começou o JavaScript. Foi nessa hora que veio o desespero. Ninguém estava entendendo nada, as linhas de código eram confusas, tinha dias que não dava vontade de ir para a aula e algumas mulheres eram arrastadas pelas amigas. Vamos combinar que JavaScript é complicadíssimo para quem nunca programou nada, né? Foi só na quinta semana que realmente aprendemos mais sobre a linguagem, a fazer formulários, executar ações e dar alertas, nos dando aquela vontade de aprender mais.
Agora a gente tinha que se preparar para a sexta semana, o temido projeto final. Foram três dias para fazer um site aplicando tudo que aprendemos durante as seis semanas; achei pouco tempo e passei a semana com sono, pois estudava de madrugada para entregar no prazo. Mesmo passando por diversos perrengues (com direito a uma queda de energia na véspera do dia da entrega), fiquei com muito orgulho do meu trabalho.
Durante o curso recebemos diversas profissionais reconhecidas, onde tivemos uma conversa sobre suas carreiras e as dificuldades de ser mulher em ambientes tecnológicos.
Conhecemos grandes empresas de tecnologia, como Twitter, Nubank, MasterCard, Microsoft e Cubo Itaú, conversando sobre suas tentativas de mudar a disparidade de gêneros.
No último dia o clima era de festa, os projetos finais ficaram incríveis e todo mundo tinha superado suas expectativas pessoais. A formatura foi no Nubank, onde conhecemos o CEO e fundador David Veléz, a cofundadora Cris Junqueira, e a desenvolvedora de software Isabela Gonçalves.
Foi uma experiência incrível e só tenho que agradecer a todos que fizeram esse projeto ser uma realidade. A disparidade entre os gêneros ainda é grande, mas sem dúvidas o Reprograma contribuiu para termos mais mulheres na tecnologia.
Se quiser participar do Reprograma como aluna ou voluntária, uma nova turma vai começar no primeiro semestre de 2017. Entre em contato com as organizadoras e colabore por um mundo mais diverso. 😉
Um obrigado a todos da equipe do Reprograma, que me deram essa incrível oportunidade.
Sobre a autora
Me chamam de Evy, sou designer, aprendendo a programar. Gosto de me expressar criando montagens. Você pode me encontrar no Twitter, Instagram ou no meu site.