O Fotolog morreu. Já não era sem tempo!
Quem já usava a internet pelos idos do ano 2000 provavelmente se lembra do fenômeno dos flogs, um termo cunhado para fazer a justaposição de “fotos” com “blogs”. Era febre. Quase todo mundo tinha um. É por isso que o encerramento do Fotolog nesta semana está gerando algum saudosismo. Esse foi o serviço de flog mais popular, pelo menos no Brasil. Mas também há quem tenha sentido alívio com a notícia.
A proposta do Fotolog — e de serviços similares — era bem simples: o usuário postava uma foto (geralmente, uma por dia) acompanhada de um pequeno texto. Depois era só aguardar os comentários. Tinha de tudo, de gente usando o Fotolog como diário online a meninas exibindo corpos exuberantes na frente do espelho. Até amantes de ônibus usavam o site para publicar fotos desse tipo de veículo (acredite se quiser).
Te lembra alguma coisa? Sim, dá para o considerar o Fotolog o precursor do Instagram. A diferença é que todo mundo registrava fotos com câmeras digitais e fazia upload da imagem a partir de um PC. Filtro? O máximo que você podia fazer era usar um editor para ajustar a foto ou aplicar um efeito, razão pela qual fotografias com ruído ou baixa resolução eram bem toleradas.
Naquela época, redes sociais mais abrangentes não existiam, pelo menos não para os brasileiros. O Orkut só viria a surgir em 2004 e, durante muito tempo, só permitiu que o usuário mantivesse 12 fotos em seu álbum. O Facebook surgiu no mesmo ano, mas só em 2006 o serviço passou a permitir a entrada de usuários que não tinham vínculo com determinadas instituições de ensino. Resultado: demorou para o Facebook pegar fora dos Estados Unidos. Isso tudo serviu para que o Fotolog mantivesse uma base fiel de participantes por muito tempo.
Os números nunca foram revelados, mas suspeito que os flogs rendiam uma quantia respeitável de dinheiro. Além da exibição de anúncios, esses serviços ofereciam planos pagos que permitiam personalização da página, habilitavam comentários infinitos e assim por diante.
Apesar do surgimento de vários rivais — Flogão, VibeBlog, MultiFlog, entre outros —, o Fotolog manteve a sua popularidade, tanto que, em 2007 (cinco anos depois da sua criação), foi adquirido pelo grupo francês HiMedia por US$ 90 milhões.
Parecia um negócio bom para todo mundo. Embora movimentasse uma grana, não dava para afirmar que o Fotolog gerava lucro — ou se gerava lucro no patamar adequado para um site que, em 2007, estava entre os 20 mais acessados do mundo. A chegada da Hi-Media poderia mudar esse cenário, dada a experiência da companhia com o mercado de publicidade online.
O problema é que, a partir daí, o Fotolog começou a descer a ladeira. Picasa, Flickr, Facebook e até mesmo o Orkut (que a essa altura já não tinha mais o limite de 12 imagens por usuário) passaram a ser preferência para fotos online. Além disso, os smartphones — com destaque para o iPhone —começavam a despontar no horizonte, mudando a nossa relação com a fotografia digital. O surgimento do Instagram em 2010 é prova disso.
Mas o comportamento dos usuários também começou a mudar. A maioria dos participantes do Fotolog era adolescente. Esse pessoal, à medida que amadurecia, passou a ter outras preferências. O Fotolog até tentou se reinventar (o serviço teve inclusive aplicativos móveis), sem sucesso: os flogs já não tinham tanta graça.
Aos poucos, o serviço caiu no esquecimento. Mas caiu de tal forma que, para muita gente, o Fotolog já estava morto. De certa, estava mesmo. As páginas do flog permaneceram no ar, mas já não tinham o apelo de outrora.
É como se o Fotolog tivesse se tornado “zumbi”. As fotos continuavam lá, mas parecia que ninguém mais respondia pela empresa. O layout do site parou no tempo e nenhuma tentativa de contato gerava retorno. A própria HiMedia não dava nenhuma informação sobre o serviço alegando que o Fotolog não pertencia mais a ela.
Mas, no início desta semana, esse zumbi morreu de vez. Sem nenhuma explicação, o Fotolog foi simplesmente tirado do ar, não dando chance nem para backup dos acervos que existiam ali. Para uns, sobrou a lembrança de um serviço online que marcou época e que, por ter guardado o histórico da juventude de muita gente, merecia um descanso — manter o site frente ao Instagram e semelhantes seria desrespeitar a memória daquela fase.
Só que, no meio dessa turma, teve gente — muita gente — que soltou expressões como “até que enfim”, “obrigado, senhor” e “valeu, Entei” ao saber do fim do Fotolog. Para esse pessoal, o Fotolog virou sinônimo de “meu passado me condena”.
Eu conheço uma menina que, naquela época, adorava publicar fotos vestida como gótica. Hoje, ela morre de vergonha disso (nada contra; se você curte, continue curtindo), tanto que tratou de eliminar todos os vestígios dessa fase “sombria”. Ela só não teve sucesso com o Fotolog. “No cadastro, eu usava um email do Terra que não existe mais, logo não consegui recuperar a senha da minha conta”, ela me disse. Para piorar, as tentativas de contato com o Fotolog foram sempre infrutíferas. Este monte de queixas no Reclame Aqui atesta que muita gente estava na mesma situação.
Como e por qual razão o Fotolog foi mantido tanto tempo no ar em “modo zumbi” é um mistério. O serviço não tem o dinamismo necessário paras as redes sociais dos dias atuais, logo, insistir em mantê-lo só valeria a pena se houvesse um plano bem elaborado de relançá-lo como um produto totalmente renovado.
Não é que o Fotolog seja sinônimo de fracasso. Estima-se que o serviço chegou a ter 33 milhões de usuários. Isso não é pouca coisa — pelo menos não era antes do boom das redes móveis. O problema é que o modelo de negócio do serviço não tem mais forças, tanto que os pouquíssimos concorrentes que ainda estão por aí, como o Flogão, estão se arrastando, na verdade.
Sob esse ponto de vista, a impressão que fica é a de que o Fotolog se manteve no ar até recentemente por uma falha na Matrix. O conteúdo estava disponível, mas o serviço em si foi abandonado faz tempo. Quanto a isso, até os eventuais saudosistas de plantão vão concordar: é melhor deixar os mortos descansarem em paz.
RIP, Fotolog.
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