Gmail faz 20 anos: como o serviço mudou o e-mail ao oferecer 1 GB

Lançado em 1º de abril de 2004, Gmail era tão inovador na época que parecia ser uma brincadeira do dia da mentira; serviço completa 20 anos com 1,8 bilhão de contas

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 1 mês
Gmail faz 20 anos: como o serviço mudou o e-mail ao oferecer 1 GB de espaço (imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Gmail faz 20 anos: como o serviço mudou o e-mail ao oferecer 1 GB de espaço (imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Neste 1º de abril de 2024, o Google celebra os 20 anos do Gmail. Por ter surgido no dia da mentira, a plataforma parecia ser uma brincadeira do Google para a ocasião. Mas a novidade não só era real como transformou a forma como usamos e-mails. Como dono de uma conta no Gmail desde 2004, conto como foi o início.

O revolucionário e-mail de 1 GB

No começo dos anos 2000, os serviços de e-mail eram muito limitados. Os filtros antispam falhavam com frequência, quando existiam. Clientes de e-mail como Outlook Express eram quase obrigatórios, pois as versões web, chamadas de webmail, eram lentas ou exigiam que a página fosse recarregada para checagem de novas mensagens.

A piar parte era a baixa capacidade de armazenamento desses serviços, com caixas de entrada frequentemente inferiores a 10 MB nas opções gratuitas. Essa era mais uma razão para o uso de softwares como o Outlook Express: ao baixar os e-mails para o computador do usuário, o espaço de armazenamento da conta era liberado.

Em 2004, o Google já era bastante admirado, com seus fundadores, Larry Page e Sergey Brin, sendo considerados verdadeiros visionários da tecnologia.

Na condição de empresa jovial e moderna, o Google também era adepto do bom humor, constatação visível em suas brincadeiras de 1º abril. Em 2004, a pegadinha foi o anúncio do Google Copernicus Center, uma subsidiária que a companhia teria na Lua (óbvio que era mentira).

No mesmo dia, o Google anunciou o Gmail, um serviço de e-mail com três características até então notáveis:

  • Busca: o serviço tem a mesma tecnologia de pesquisa do buscador do Google, permitindo encontrar mensagens facilmente;
  • Armazenamento: 1 GB de capacidade, uma capacidade de armazenamento monumental para a época;
  • Velocidade: um serviço web rápido e eficiente, com organização de mensagens respondidas em “threads”, isto é, em uma lista de conversação a partir do e-mail original.

O pacote de recursos era tão interessante que aquilo parecia bom demais para ser verdade. Mas era. Mesmo sendo 1º de abril. Larry Page disse que o Gmail foi inspirado na reclamação que o Google recebeu de um usuário que se queixava de ter que arquivar mensagens e depois enfrentar dificuldades para encontrá-las.

Com base nessa premissa, um engenheiro do Google chamado Paul Buchheit desenvolveu a base do Gmail, trabalho que ele iniciou em 2001. Quatro anos depois, a primeira versão funcional do serviço estava pronta para chegar ao mercado, ainda que gradativamente.

Só havia uma problema: por estar em fase beta, o Gmail passaria um bom tempo com acesso restrito. Para criar uma conta no serviço, era preciso ser convidado por alguém que já era usuário.

Mensagem de boas-vindas ao Gmail, em 28 de junho de 2004 (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
Mensagem de boas-vindas ao Gmail, em 28 de junho de 2004 (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

Convite para usar o Gmail

Consegui um convite no final de junho de 2004. Eu participava de uma comunidade para jornalistas no finado Orkut. Um participante havia recebido convites para o Gmail e iria enviá-lo aos interessados que se manifestassem. Fui um deles. Foi um gesto de generosidade, pois havia quem cobrasse para enviar os convites.

No dia 28 de junho de 2004 eu abri a minha conta do Gmail pela primeira vez. O serviço tinha esta cara:

O Gmail em 2004 (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
O Gmail em 2004 (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

Uma interface limpa, que não precisava ser atualizada para checagem de novos e-mails. Um campo de busca ali em cima, com direito a um botão para fazer pesquisas na web. Um filtro antispam que era não era perfeito, mas era muito mais eficaz que as opções da época. E, claro, os 1.000 MB de capacidade, que continuariam aumentando um pouquinho todos os dias naqueles primeiros anos.

O Gmail era tão interessante que havia quem me implorasse pelos convites para criar uma conta no serviço. Mas eu só consegui os primeiros em agosto daquele ano.

À medida que o número de convites em geral aumentava, o Gmail se tornava mais popular. Prova disso é que, já em 2004, alguns concorrentes esboçaram reações, a exemplo da Microsoft, que aumentou a capacidade de armazenamento do Hotmail de 2 MB para 250 MB nos Estados Unidos.

O Gmail só deixou de efetivamente requerer convites em 2007, ano em que também passou por sua primeira grande reformulação de interface. Curiosamente, o status de serviço beta só deixou de existir em 2009.

O Gmail 20 anos depois

Em seu vigésimo aniversário, o Gmail continua detentor de números impressionantes. Alguns deles são estes, de acordo com a Demandsage:

  • o Gmail tem 1,8 bilhão de contas ativas;
  • mais de 121 bilhões de e-mails são enviados pelo serviço todos os dias;
  • os usuários passam, em média, 28 minutos por dia no Gmail;
  • o serviço está disponível em mais de 100 idiomas;
  • a capacidade de armazenamento padrão do Gmail é de 15 GB desde 2013.

Números tão generosos não surpreendem. O Gmail fez os usuários deixarem de se preocupar com espaço de armazenamento, apresentou uma interface verdadeiramente funcional e intuitiva, e ajudou a tornar o e-mail no que ele provavelmente é mais usado hoje: uma combinação de identidade digital para login em serviços variados com repositório de documentos particulares.

O Gmail também carrega a marca de ser a primeira grande inovação do Google depois do buscador. Isso porque serviços tão ou mais notáveis, a exemplo do YouTube, do Chrome e do Google Maps, surgiram ou foram compradas pelo Google depois do Gmail.

Parabéns para ele! O Gmail só é o sucesso que é hoje por manter as premissas originais, mesmo tendo passado por mudanças importantes ao longo destes 20 anos.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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