Os detalhes do USB-C: o C é de confusão

O USB-C é prático e compatível com várias tecnologias, mas, ao menos por um tempo, pode nos deixar perdidos com os cabos

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 1 ano
USB-C - MacBook

Quando o USB-C foi apresentado, eu me levantei e bati palmas. Não, eu não fiz isso, mas fiquei realmente feliz, afinal, o novo conector foi anunciado com a promessa de ser reversível. Mas o padrão vai muito além disso: o USB-C pode não só substituir todos os conectores USB anteriores como trabalhar em conjunto com outras tecnologias de transferência de dados. Que ótimo, não? Só que essa característica também tem potencial para causar confusão, ao menos inicialmente.

Nos computadores, conexões USB têm portas USB, conexões Thunderbolt têm portas Thunderbolt, conexões HDMI têm portas HDMI e por aí vai. Eventualmente, alguns padrões são misturados (HDMI com DisplayPort, por exemplo), mas, via de regra, a indústria prefere colocar cada macaco no seu galho.

Essa história está começando a mudar com o USB-C. O padrão foi desenvolvido para ser simples ao usuário e, ao mesmo tempo, tecnicamente abrangente para suportar vários tipos de aplicações.

USB-C: o fim da confusão. Ou quase.

USB-C: o fim da confusão. Ou quase.

Leve em conta também que, além de reversível (você consegue encaixar o conector com ele virado para cima ou para baixo), o USB-C é compacto. Dá para usá-lo com praticidade em smartphones, consequentemente. Nos laptops, a adoção do padrão pode ajudar no projeto de modelos com espessura bastante reduzida.

Nem tudo são flores

Prova da integração proporcionada pelo USB-C surgiu há cerca de dois anos, quando a Apple anunciou um MacBook de 12 polegadas com uma única porta USB-C para dar conta de conexões HDMI, VGA, USB (óbvio) e outras. O Thunderbolt havia ficado de fora, obrigando o usuário desse tipo de tecnologia a procurar um adaptador.

Mas não foi por muito tempo: alguns meses depois, o Thunderbolt 3 foi anunciado com a promessa de oferecer até 40 Gb/s (gigabits por segundo) na transferência de dados e, veja você, compatibilidade com o USB-C. Na verdade, não há conector desenvolvido exclusivamente para o Thunderbolt 3. Graças ao USB-C, isso não foi necessário.

MacBook Pro + Thunderbolt 3

A Apple tirou proveito disso. Como você deve saber, a companhia anunciou no mês passado um MacBook Pro mais fino, leve, com uma barra OLED sensível a toques e até quatro portas Thunderbolt 3 que substituem todas as demais conexões (ou quase todas: a conexão para fones de ouvido sobreviveu).

É aqui que começa a confusão. Essas portas Thunderbolt 3 usam conectores USB-C, naturalmente. Por essa razão, a Apple preferiu promovê-las como Thunderbolt 3, não como USB-C. Aí muita gente ficou na dúvida: é Thunderbolt ou USB? Tem que usar algum adaptador?

Dúvidas como essas são fáceis de sanar. A própria Apple explica que essas portas podem ser usadas com dispositivos baseados em USB, HDMI, VGA, DisplayPort e assim por diante. À medida que a indústria como um todo adotar o USB-C, a noção desse padrão como conector universal ficará mais clara.

Mas é de se esperar também que a indústria deixe claro, de alguma forma, que o conector pode até ser o mesmo para os mais diversos tipos de tecnologia, mas que isso não vale para os cabos. Esse é, pelos menos na atual fase, o verdadeiro problema do USB-C.

Thunderbolt 3

Se você quiser aproveitar toda a velocidade do Thunderbolt 3 no seu novo MacBook Pro, precisará usar um cabo compatível com a tecnologia. Se você quer uma porta USB-C para alimentar um dispositivo que trabalha com até 100 watts — um monitor, por exemplo —, também precisará prestar atenção para fazê-lo com o cabo correto. Não é porque os conectores em ambas as pontas são os mesmos que haverá plena compatibilidade. Dependendo do caso, o uso do cabo inadequado pode até causar danos.

Novamente, o novo MacBook Pro serve de exemplo sobre o quão problemático esse aspecto pode ser. O cabo que acompanha o equipamento é perfeitamente adequado para que você o use para recarregar a bateria, mas, no quesito transferência de dados, só funciona como USB 2.0. Se você precisar de mais velocidade, terá que comprar um cabo compatível com Thunderbolt 3 ou, se for o caso, USB 3.1.

O USB-C também está na briga entre USB-PD e Quick Charge

O Quick Charge é um padrão de recarga rápida da Qualcomm que já salvou muita gente de apuros (inclusive este que vos escreve): já que dispositivos móveis com bateria de alta capacidade ainda são um sonho, que pelos menos a gente possa recarregá-los sem demora.

Como os chips da Qualcomm são os mais usados em smartphones, o Quick Charge está ficando cada vez mais popular. Se inicialmente a tecnologia estava disponível somente em dispositivos high-end, hoje é possível encontrá-la em uma grande variedade de aparelhos intermediários.

Quick Charge

E o que é bom pode ficar melhor: a versão 4.0 do Quick Charge deve ser lançada em breve. Seu principal atrativo, se os rumores estiverem certos, será a potência de até 28 watts, o que colocaria o padrão como o sistema de recarga mais veloz do mercado. O Quick Charge é compatível com o USB-C, é claro.

Só que o Quick Charge não está sozinho no mercado. Alguns dispositivos, principalmente laptops, utilizam o USB Power Delivery (USB-PD), tecnologia de recarga estabelecida pela USB-IF, organização responsável por definir os padrões do USB.

O USB-PD não tem o alcance que o Quick Charge conquistou nos últimos anos, mas, no que depender do Google, esse cenário vai mudar em breve. Recentemente, a companhia atualizou o guia de compatibilidade do Android 7.0 Nougat para incluir, entre outros detalhes, uma veemente recomendação para que os fabricantes não adotem padrões proprietários de recarga.

Isso inclui a tecnologia da Qualcomm. A intenção do Google é fazer a indústria adotar o USB-PD de uma vez por todas. Por ora, a instrução é apenas uma recomendação, mas a companhia destaca que, em versões futuras do Android, o uso de padrões proprietários de recarga poderá simplesmente ser proibido.

Talvez o Google tenha outros objetivos, mas a empresa argumenta que a recomendação do uso do USB-PD é garantir a segurança: a tecnologia usa o USB-C e, sendo padrão de mercado, ajudaria a prevenir acidentes com sistemas de recarga compatíveis com o conector, mas que têm especificações diferentes.

USB-C - smartphone

É cedo para sabermos qual será a reação da indústria, mas supondo que o USB-PD venha a ser adotado massivamente, teremos um período de convivência dessa tecnologia com o Quick Charge, tamanha a popularidade deste.

Sabe qual o problema disso? Ambos os padrões têm especificações diferentes, ou seja, não são mutuamente compatíveis. Se você quiser carregar seu smartphone USB-DF usando um carregador Quick Charge (ou vice-versa), até conseguirá fazê-lo, mas provavelmente não contará com recarga rápida.

Futuro conturbado

No caso do Quick Charge, uma das soluções possíveis é a Qualcomm tornar a tecnologia compatível com o USB-PD ou tentar pressionar o Google de algum modo para evitar uma “guerra”.

Mas, em relação aos cabos, a adoção do USB-C deverá ser um tanto conturbada durante os próximos meses, por isso, cuidados serão necessários: na hora de comprar um cabo, você terá que verificar atentamente as tecnologias compatíveis.

Não será uma tarefa indolor. Já é possível, por exemplo, encontrar cabos compatíveis com USB 3.1 e Thunderbolt 3, mas gastando muito dinheiro. A esperança é a de que, com a popularização do USB-C, esses cabos fiquem um pouco mais acessíveis.

Enquanto isso não acontecer (ou se isso não acontecer), o conector não passará disto: uma tecnologia subutilizada. O nosso consolo será saber que, apesar de tudo, não erraremos mais o lado do cabo ao conectá-lo no computador.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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