Artista explode Lamborghini e cria NFT em protesto contra… NFTs

Contraditoriamente, grupo Shl0ms cria série de 999 NFTs de peças do carro de luxo, destruído em protesto à cultura de enriquecimento rápido no mercado de criptoativos

Bruno Ignacio
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• Atualizado há 6 meses

Um grupo artístico digital que atende pelo pseudônimo Shl0ms explodiu uma Lamborghini que valia aproximadamente US$ 250 mil no início de fevereiro, criando uma série de 999 NFTs das partes destruídas do carro de luxo. Curiosamente, os artistas fizeram isso em protesto à cultura de enriquecimento rápido predominante no mercado de criptoativos e tokens não fungíveis.

Em setembro de 2021, Shl0ms realizou uma postagem no Twitter lançando a ideia de explodir uma Lamborghini, Para eles, o ato estaria “fracionalizando-a fisicamente”, em alusão ao fracionamento de NFTs, onde uma obra pode ter, por exemplo, dez mil cópias.

Na época, eles foram questionados como o carro de luxo seria fracionado. O diretor de operações da gestora de investimentos Ritholtz Wealth Management, Nick Maggiulli, perguntou se a Lamborghini seria “destruída caoticamente ou metodicamente desmontada”, por exemplo. Rapidamente, o grupo anônimo levantou uma enquete na rede social com duas opções: “caos” e “ordem”. Acredito que a opção vencedora seja óbvia.

Como Shl0ms já era uma DAO (Organização descentralizada autônoma) de sucesso no meio artístico NFT, vendendo cerca de US$ 1 milhão com seus experimentos bizarros de arte conceitual, eles tinham os recursos para a ousada empreitada. Além disso, o projeto chamou a atenção de um investidor misterioso, que os apoiou financeiramente. Eles compraram uma Lamborghini Huracan usada por um pouco menos de US$ 250 mil. Então, levaram o veículo até um local desértico não especificado nos Estados Unidos.

DAO Shl0ms é grupo artístico ascendente no meio NFT que protesta contra cultura do enriquecimento rápido (Imagem: Reprodução/ Twitter)
DAO Shl0ms é grupo artístico ascendente no meio NFT que protesta contra cultura do enriquecimento rápido (Imagem: Reprodução/ Twitter)

O carro de luxo foi cuidadosamente lotado de explosivos, com a ajuda de um engenheiro especialista no assunto e licenciado pelo governo federal americano, para que ele fosse realmente fragmentado. Ou seja, era necessário que sobrasse uma série de peças para posteriormente virarem os NFTs. No total, o processo envolveu uma equipe de 100 pessoas.

No dia 2 de fevereiro, a Lamborghini foi finalmente explodida. Bom, o resultado do experimento artístico você pode conferir abaixo:

Cada peça virou um vídeo rotativo em 4K que foi então registrado como um NFT, resultando em uma coleção de 999 tokens não fungíveis. O projeto será oficialmente lançado no dia 25 de fevereiro, só então o vídeo completo da explosão será disponibilizado. Além disso, somente 888 NFTs serão vendidos abertamente, enquanto 111 deles serão mantidos pela equipe e pelo investidor inicial.

NFTs são crítica ao próprio mercado de NFTs

Sim, parece (e é) um tanto contraditório. O objetivo do grupo é criticar a cultura de enriquecimento rápido que predomina no mercado de NFTs, enquanto eles mesmos produzem e lucram com seus próprios ativos digitais. Em entrevista ao The Block, o Shl0ms afirmou que estão cientes disso e que pretendem usar todo o dinheiro ganho para construir uma DAO maior, alinhada com suas crenças econômicas e princípios éticos.

A escolha da Lamborghini foi a dedo. Eles destacaram que o carro de luxo é um símbolo de poder aquisitivo. “Além disso, quero deixar claro que odeio ‘Lambos’ [Lamborghinis]e é por isso que quero destruir um”, disse Shl0ms no Twitter. “Na verdade, a DAO só permitirá a participação de pessoas que também odeiam Lambos, esse será nosso critério”, acrescentou o grupo de artistas.

“Esta tecnologia é incrivelmente promissora, há tantas coisas boas que poderíamos fazer com ela, mas há tantas coisas terríveis sendo feitas com ela… São práticas realmente extrativistas, de soma zero.”

Shl0ms, em entrevista ao The Block

Por fim, o grupo destacou que a “Lambo” é uma representação precisa de pessoas que simplesmente entram no meio cripto, comprando e vendendo criptomoedas e ativos digitais, porque isso é considerado hoje uma forma de lucrar muito rapidamente.

Os ideais do Shl0ms remetem ao início do bitcoin (BTC) mais de dez anos atrás: criar um universo econômico descentralizado, usando a tecnologia blockchain em prol da liberdade. Aparentemente, eles também possuem um pé no anarquismo.

Com informações: The Block

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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