Criadores de pornografia recorrem a NFTs para evitar censura e pirataria

Tokens não fungíveis (NFTs) surgem no mercado pornográfico como uma forma de driblar censura de plataformas e pirataria

Bruno Ignacio
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
NFT "Bootlicker", da Cryptonatrix, mostra Donald Trump lambendo as botas da artista (Imagem: Reprodução/Rarible)
NFT "Bootlicker", da Cryptonatrix, mostra Donald Trump lambendo as botas da artista (Imagem: Reprodução/Rarible)

Os NFTs (tokens não fungíveis) realmente se popularizaram em diversos mercados, da arte à música, e mais recentemente também na pornografia. Criadores de conteúdo adulto, explícito ou não, já utilizam a tecnologia para venderem obras de arte erótica digital, nudes, vídeos e GIFs. A base comercial descentralizada desses tokens se tornou uma forma de driblar censura, enquanto sua verificação de autenticidade em blockchain combate a pirataria.

Arte digital erótica é vendida como NFT

“Cryptonatrix” é o nome de um perfil no marketplace de NFTs Rarible. A usuária cria imagens e GIFs eróticos e os registra como tokens não fungíveis. Praticamente todas as suas criações já foram vendidas por pelo menos algumas centenas de dólares.

Uma delas, chamada “Making Vlad My Bitch”, mostra a dominatrix do universo cripto ao lado do dono da empresa de serviços financeiros Robinhood, Vladimir Tenev, de coleira. A peça está sendo vendida por 1 ether (ETH), ou cerca de US$ 1.700.

NFT "Making Vlad My Bitch", da Criptonatrix (Imagem: Reprodução/Rarible)

NFT “Making Vlad My Bitch”, da Criptonatrix (Imagem: Reprodução/Rarible)

Em entrevista para a Rolling Stone, a Cryptonatrix se definiu como uma artista especializada em representar acontecimentos políticos e sociais em obras eróticas. “Muitos compradores realmente não se importam em adquirir algo em blockchain simplesmente porque eles querem se masturbar. Mas alguns deles realmente amam a ideia de possuir um token digital e serem os proprietários de uma imagem especial de seu criador favorito”, disse.

No caso da Cryptonatrix, os NFTs não são apenas uma maneira descentralizada de capitalizar seu trabalho, mas também cria a possibilidade de autenticar cada uma de suas peças através da tecnologia blockchain.

NFTs driblam censura de plataformas e serviços

A censura em plataformas e até mesmo nos serviços de pagamentos se tornou um enorme obstáculo, enquanto a pirataria na internet dificulta restringir conteúdo apenas para um público assinante. Além disso, diferente da indústria pornográfica tradicional, os NFTs permitem que criadores seu auto-administrem, dando maior liberdade financeira.

Aella, uma criadora de conteúdo adulto, afirmou à Rolling Stone que as criptomoedas já foram muito utilizadas no mercado de prostituição e pornografia devido a “problemas históricos de censura” que esse setor enfrenta.

Muitos serviços de pagamentos online tradicionais, como o PayPal, se recusam a processar transações provenientes do mercado de conteúdo adulto. Nesse sentido, NFTs podem ser negociados através de plataformas e marketplaces cripto, mas seu registro em blockchain é imutável e simplesmente não pode ser derrubado, assim como as transações também não podem ser negadas.

Segundo Aella, como todo esse terreno de tokens não fungíveis ainda é muito recente, as políticas das plataformas de negociação de NFTs ainda são muito incertas diante de questões como nudez e conteúdo sexual explícito. “Não é uma solução perfeita… mas há muito potencial de ser genuinamente livre”, disse. Ela já negociou pelo menos cinco nudes como NFTs por cerca de US$ 600 cada imagem.

Nova fonte de renda, mas taxas são obstáculo

NFT "Allie in The City, Two", de Allie Eve Knox (Imagem: Reprodução/Open Sea)

NFT “Allie in The City, Two”, de Allie Eve Knox (Imagem: Reprodução/Open Sea)

Outra entrevistada pela Rolling Stone, Allie Eve Knox, registra fotos sensuais como NFTs nos marketplaces Rarible e Open Sea. Ela conta que a criação desses tokens não fungíveis é uma opção de diversificação de renda, mas só se torna verdadeiramente viável pensando no lucro a longo prazo.

Uma de suas criações, “Allie in The City”, foi comprada originalmente por apenas US$ 15, porém ela ganha 30% em taxas toda vez que o ativo é revendido. Recentemente, essa sua peça foi comprada por mais de US$ 500.

Para Knox, os NFTs também são uma forma de reverter a banalização da pornografia. Enquanto na internet há inúmeros sites gratuitos que promovem conteúdo adulto pirateado, ela acredita que se tornou uma concepção cultural comum ver esse tipo de produto como descartável. Nesse sentido, os tokens acabam valendo cada vez mais com o tempo, agregando valor pela sua base exclusiva e colecionável.

Contudo, também há pontos negativos nos NFTs. Para arquivos vendidos por valores muito baixos, as taxas de registro do blockchain da Ethereum, o mais comum na criação dos tokens, acabam muitas vezes sendo mais caras do que o valor do produto em si. A não ser que o ativo digital seja revendido pelo menos algumas vezes, o criador sairá no prejuízo.

Com informações: Rolling Stone

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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