ChatGPT já aparece como autor em mais de 200 livros vendidos na Amazon

Revista literária suspende envio de contos após ser inundada por obras de IA; no YouTube, vídeos ensinam a ganhar dinheiro fácil publicando com a ferramenta

Giovanni Santa Rosa
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• Atualizado há 10 meses
ChatGPT (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
ChatGPT (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

Um novo autor parece ter saído de um livro de ficção científica: ele é ninguém menos que o ChatGPT. A inteligência artificial agora também escreve obras para a loja do Kindle, da Amazon, e vira dor de cabeça para editor de publicação de contos.

Na Amazon, o ChatGPT já aparece como co-autor de mais de 200 livros, segundo levantamento feito pela agência de notícias Reuters. Este número pode ser ainda maior, uma vez que a loja não exige que inteligências artificiais sejam listadas.

O ChatGPT é um escritor multifacetado e eclético. Entre suas obras, estão um conto infantil chamado O poder da lição de casa, uma coleção de poesia intitulada Ecos do Universo e um épico de ficção científica sobre um bordel interestelar chamado Cafetão Galático, Volume 1.

Revista de ficção científica suspende envios

Não é só a loja do Kindle que está sendo inundada por histórias escritas com ajuda de inteligência artificial.

A revista literária Clarkesworld Magazine, fundada há 17 anos e especializada em ficção científica, suspendeu os envios de contos. Várias das obras recebidas nas últimas semanas parecem ter sido feitas com a tecnologia.

Segundo Neil Clarke, editor da revista, os escritos seguem alguns padrões muito óbvios. Ele, porém, não disse quais eram esses padrões, nem como ele tem feito para identificar os contos feitos com ajuda de inteligência artificial.

A publicação barrou mais de 500 contos este mês — ela proíbe obras “escritas, co-escritas ou auxiliadas por inteligência artificial”.

Como argumenta o TechCrunch, muito desse material provavelmente é de baixa qualidade. Inteligências artificiais como o ChatGPT são treinadas a partir de textos obtidos pela internet — muitos deles, inclusive, protegidos por direitos autorais.

Então, é muito difícil para a ferramenta criar algo realmente novo. Um conto escrito pelo ChatGPT provavelmente será previsível e entediante.

YouTubers ensinam a usar ChatGPT para ganhar dinheiro

Mais do que prestígio, a tentativa de publicar na Clarkesworld tem um motivo financeiro: ela paga US$ 0,12 por palavra. Assim, ela é um ótimo alvo para quem procura ganhar dinheiro fácil.

Como o Ars Technica nota, o YouTube está cheio de vídeos ensinando como usar o ChatGPT para criar livros infantis em menos de cinco minutos e obter uma forma de renda passiva.

Outras inteligências artificiais também são mencionadas, como a Midjourney AI, que cria ilustrações a partir de descrições em texto.

O trabalho com a IA leva bem menos que todo o processo editorial que envolve um livro. O vendedor Brett Schickler, por exemplo, gastou algumas horas para chegar a O esquilinho sábio: um conto sobre poupar e investir.

Para isso, ele pediu para a inteligência artificial coisas como “escreva uma história sobre um pai ensinando seu filho sobre educação financeira”. As ilustrações também foram feitas com ajuda de tecnologias desse tipo.

O livro foi publicado na loja do Kindle, da Amazon. A obra é vendida por US$ 2,99 na versão digital e US$ 9,99 na versão impressa. Lançada em janeiro, ela não fez muito sucesso até agora: ao Engadget, Schickler diz que ganhou menos de US$ 100 até agora.

O editor da Clarkesworld parece estar ciente disso. “As pessoas que estão causando este problema são de fora da comunidade de ficção científica e fantasia. Elas procuram este caminho após ver especialistas em ‘trabalhos paralelos’ que prometem dinheiro fácil com o ChatGPT”, disse, em uma thread.

No Twitter, ele desenvolveu a questão.

Os detectores [de textos feitos com IA] não são confiáveis. Cobrar pelo envio penaliza muitos autores legítimos. Não é viável cobrarmos envios impressos. Ferramentas para confirmação de identidade são mais caras do que muitas revistas podem pagar e tendem a ter limitações regionais. Ao adotá-las, nós estaríamos banindo países inteiros.

Por enquanto, o editor não encontrou uma solução para sua revista pode voltar a receber contos.

Com informações: Ars Technica, TechCrunch, Engadget.

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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