Amazon perde US$ 8 bilhões por ano com alta rotatividade de funcionários

Condições ruins de trabalho, falta de perspectivas de promoção e treinamentos ineficientes fazem Amazon jogar dinheiro no lixo

Giovanni Santa Rosa
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• Atualizado há 6 meses
Ilustração com várias caixas
Amazon (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

A Amazon não têm uma fama muito boa em relação a condições de trabalho, e isso pode estar afetando os negócios da própria empresa. Relatórios internos estimam que a alta rotatividade de pessoal causa um prejuízo anual de US$ 8 bilhões. Só um terço dos contratados fica mais do que 90 dias no cargo, e a chance de um empregado pedir demissão é o dobro de ele ser demitido.

Vários relatos dão conta que o trabalho nos armazéns é rígido e pesado — funcionários já relataram não ter tempo nem para ir ao banheiro. As condições ruins, porém, se estendem a outros cargos.

Os documentos obtidos pelo Engadget cobrem todos os dez níveis de ocupações da empresa, sendo 1 os funcionários de armazém, e 10, os vice-presidentes. Ao longo de todos eles, as saídas por decisão do empregado são mais de 69,5%, e em alguns, chegam a 81,3%.

As informações internas corroboram investigações independentes. O New York Times descobriu que a rotatividade de pessoal entre os contratados por hora fica em 150% por ano. Já o Wall Street Journal concluiu que a rotatividade dos trabalhadores de armazéns é de 100% ao ano.

Rotatividade dá prejuízo bilionário para Amazon

Isso tudo tem consequências no bolso da própria Amazon. Os relatórios estimam perdas anuais de US$ 8 bilhões.

Para colocar este número em perspectiva, o lucro líquido da empresa em 2021 foi de US$ 33,6 bilhões.

O estudo estima que uma redução de 15% nas saídas e demissões faria a empresa economizar US$ 726 milhões por ano.

Falta de perspectiva na carreira pode influenciar

Além das condições de trabalho ruins, um fator que pode pesar na decisão de deixar a Amazon é a dificuldade para ser promovido.

Segundo a investigação feita pelo New York Times, a empresa intencionalmente dificulta o caminho para os trabalhadores contratados por hora.

A Amazon prefere contratar recém-graduados com pouca ou nenhum experiência em liderança. Somente 4% dos assistentes de processo de armazém são promovidos para gerentes de área, por exemplo.

O programa de treinamento é uma bagunça

Uma forma de reter melhor os funcionários seria por meio de treinamentos, formando em casa o que a empresa precisa. O problema é que o departamento da Amazon responsável por isso não parece estar fazendo um bom trabalho.

Segundo os relatórios obtidos pelo Engadget, nenhum dos cursos disponíveis para os empregados confere se eles realmente aprenderam o conteúdo. Em alguns, é possível concluir o programa só clicando em “Avançar” e passando os slides.

Este departamento custa US$ 90 milhões anuais da Amazon. Além disso, os treinamentos exigidos sem que haja contrapartida para a empresa também dão prejuízo, já que os funcionários param de trabalhar para concluí-los.

Os documentos mostram que 120 mil funcionários entre o nível 3 e o nível 8 gastam, em média, 113 horas anuais nestes cursos. O salário médio nestes cargos é US$ 110 mil por ano.

Isso significa que a Amazon joga fora US$ 715 milhões por ano com treinamento.

Amazon está ficando sem ter quem contratar

O problema da empresa com os funcionários vai além do prejuízo. Em algumas cidades dos EUA, como Inland Empire (Califórnia), Memphis (Tennessee) e Wilmington (Delaware), ela está esgotando a mão de obra disponível. Relatórios internos apontam que a empresa pode ficar sem ter quem contratar no país já em 2024.

Diminuir a rotatividade de pessoal seria, inclusive, uma das soluções indicadas para esse problema. Parece que a medida para ajudar o crescimento no futuro pode também aumentar os lucros hoje mesmo.

Com informações: Engadget, The Verge.

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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