Caso Fosshost: CEO reaparece e conta como plataforma para código aberto ruiu

Fosshost fechou após CEO sumir; caso mostra importância de projetos de grande alcance não ficarem na liderança de uma só pessoa

Emerson Alecrim
Por
Fosshost: CEO reaparece e conta como plataforma ruiu (imagem ilustrativa: Mario Trejo/FreeImages)
Fosshost: CEO reaparece e conta como plataforma ruiu (imagem ilustrativa: Mario Trejo/FreeImages)

O fechamento da Fosshost foi uma surpresa. Até quem não conhecia a iniciativa se espantou. Tudo porque a causa foi o sumiço do CEO da organização. Mas Thomas Markey reapareceu para explicar o que houve. Sem querer, ele também mostrou a importância de um projeto comunitário não ficar no controle de uma só pessoa.

Criada em 2020, a Fosshost tinha uma proposta muito interessante: oferecer serviços de computação nas nuvens gratuitos para projetos Foss (Free and Open Source Software), isto é, livres e com código-fonte aberto. A iniciativa atraiu até projetos ligados a organizações como Gnome e Debian.

Infelizmente, os últimos meses foram tensos para a Fosshost. Supostos voluntários ligados à iniciativa contaram que Markey era a única pessoa que tinha total acesso às contas bancárias da organização. Mas ele parou de cuidar da plataforma e responder aos contatos de seus colegas.

A consequência não poderia ser outra: a estrutura começou a desabar. Ainda que houvesse outras pessoas em posição de liderança, nenhuma tinha tanto controle quanto Markey. É por isso que, nesta semana, administradores ainda ativos declararam o fim da Fosshost.

Thomas Markey reaparece

Onde está Thomas Markey? Por que ele sumiu? Após a repercussão do encerramento da Fosshost, o próprio reapareceu para dar explicações.

Em carta publicada no site da iniciativa, Markey conta que ele e sua equipe cometeram um erro ao fazer a Fosshost crescer rápido demais. Como consequência, houve sobrecarga de trabalho. Foi quando ele decidiu se afastar:

Precisei dar um tempo rapidamente depois da expansão do projeto porque eu estava mental e fisicamente exausto. Durante os seis primeiros meses de Fosshost, eu mal dormia enquanto dava suporte e processava novas aplicações em diversos fusos horários (sem contar que tudo isso aconteceu durante a pandemia de COVID-19).

Na carta, Markey reconhece que o seu afastamento teve várias consequências para a iniciativa. Ele cita o acúmulo de pendências causado por não ter produzido documentação adequada para projetos baseados na plataforma x86, por exemplo.

Outro exemplo dado por ele é o projeto AArch64, criado para dar suporte a aplicações baseadas na plataforma Arm. A ideia teve grande aceitação, razão pela qual os membros da Fosshost concordaram em expandir o serviço com novos servidores. Porém, não havia “recursos de engenharia física” para ativá-los.

Não terminou aí. Chegou um momento em que a organização operava vários serviços. Markey dá a entender que a falta de coordenação adequada fez esse cenário causar tensões entre os membros da Fosshost:

Tem havido muita confusão e mal-entendidos devido a essa falta de liderança. Isso resultou em um catálogo de erros e enganos.

O caso Fosshost deixa uma lição

A Fosshost não vai voltar a operar. Ainda na carta, Thomas Markey declarou que ele e os demais membros da iniciativa usarão o que aprenderam para ajudar outros projetos de hospedagem a prosperar.

Mas já podemos extrair uma lição desse caso. Para uma iniciativa que cresceu rápido como a Fosshost, é importante não deixar a liderança concentrada em uma só pessoa.

Aparentemente, Markey tinha boas intenções, mas ficou tão sobrecarregado que não conseguiu mais liderar o projeto:

Poderíamos ter feito melhor. Nós cometemos muitos erros. E pedimos desculpas aos nossos parceiros, voluntários e usuários. Esperamos sinceramente que, ajudando outras soluções de hospedagem a prosperar, possamos começar a fazer as coisas certas para todos vocês.

Provavelmente, uma dessas soluções é o Radix Project. Trata-se de uma iniciativa para hospedagem de projetos Foss criados por ex-voluntários da Fosshost. Tomara que o futuro dessa iniciativa seja diferente.

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

Relacionados