Disputa entre Japão e Coreia pode afetar fornecimento de memórias e telas no mundo
Fabricantes japonesas precisam ter aprovação para exportar para Coreia do Sul, um processo que leva até três meses
Fabricantes japonesas precisam ter aprovação para exportar para Coreia do Sul, um processo que leva até três meses
Se você achava que a disputa entre Estados Unidos e China já era suficiente para causar um grande impacto no mercado de tecnologia, saiba que existe mais uma briga: o Japão implantou regras mais rígidas de exportação para a Coreia do Sul. E isso pode afetar o fornecimento global de memórias DRAM e NAND, além de telas LCD e OLED, que estão presentes em qualquer smartphone, tablet ou PC.
Desde esta quinta-feira (4), os produtores japoneses precisam de uma autorização para exportar determinados componentes químicos para a Coreia do Sul. As novas regras afetam a poliimida, utilizada para fabricar telas LCD e OLED, além da fotorresina e do fluoreto de hidrogênio de alta pureza, essenciais para produzir chips, como memórias flash e RAM, como mostra o AnandTech.
E qual o problema? Primeiro, o Japão é responsável por cerca de 70% a 90% da produção mundial desses três materiais químicos. A poliimida, a fotorresina e o fluoreto de hidrogênio de alta pureza vêm principalmente das fabricantes japonesas JSR, Showa Denko (SDK) e Shin-Etsu Chemical.
Segundo, o Japão não produz os componentes eletrônicos finalizados: os materiais químicos são enviados para a Coreia do Sul e então utilizados na fabricação de memórias e telas. As empresas coreanas, como LG, Samsung e SK Hynix, respondem por aproximadamente 70% do fornecimento mundial de chips DRAM, 50% dos chips 3D NAND e uma parte significativa de telas LCD e OLED.
E, por fim, a tal autorização pode levar até três meses para ser concedida. A questão é que as fabricantes coreanas trabalham com um estoque baixo de componentes químicos, suficientes só para o curto prazo — se elas ficarem sem a matéria prima vinda do Japão, a produção deverá sofrer atrasos e os custos poderão aumentar.
De acordo com a Reuters, a Samsung está “analisando medidas para minimizar o impacto sobre a produção”, enquanto a SK Hynix enviou uma carta aos clientes informando que poderá lidar com a situação no curto prazo, mas enfrentará problemas se o caso se arrastar por muito tempo.
A situação ainda pode piorar, uma vez que o Japão planeja retirar em agosto a Coreia do Sul de uma lista de 27 países “amigáveis” que podem importar produtos japoneses sem a autorização explícita do governo, segundo o Nikkei Asian Review. O Japão nunca havia removido um país da lista antes. Quando isso ocorre, há restrições mais severas para que as fabricantes japonesas possam exportar produtos que tenham potencial em aplicações militares.
O governo japonês diz que as medidas foram tomadas em resposta à deterioração da relação com a Coreia do Sul. Os dois países têm uma história amarga desde 1910, quando o Japão ocupou a península coreana, na época unificada, fazendo a população a trabalhar em condições de escravidão. Na Segunda Guerra Mundial, o Japão se utilizou das chamadas “mulheres de conforto”, um eufemismo para as mulheres coreanas que foram forçadas à prostituição em bordeis militares japoneses.
Um pequeno reflexo da situação tensa entre os dois povos é que a Samsung nem sequer estampa seu logotipo em smartphones vendidos no Japão: os celulares são comercializados sob a marca Galaxy Mobile.