Twitch decide abandonar a Coreia do Sul; entenda os motivos

CEO da Twitch alega que custo de operação na Coreia do Sul era dez vezes maior que outras regiões; país adotou fair share e big techs devem remunerar operadoras por uso da rede

Lucas Braga
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Twitch deixa a Coreia do Sul após alta nos custos
Twitch deixa a Coreia do Sul após alta nos custos de operação (Imagem: Caspar Camille Rubin/Unsplash)

O Twitch anunciou que irá deixar a Coreia do Sul a partir de fevereiro de 2024. O CEO da plataforma de streaming de vídeo focada em videogames lamenta a decisão, mas alega que o custo de operação no mercado sul-coreano ficou “proibitivamente caro”.

O custo de operação na Coreia do Sul ser mais caro que outras regiões está relacionado com a exigência das big techs em contribuírem com as operadoras de internet pelo uso da rede. Esse conceito é amplamente debatido como fair share.

Para tentar contornar os custos na Coreia do Sul, a Twitch adotou algumas medidas, incluindo conexões ponto a ponto, onde o tráfego é feito entre os usuários da plataforma em vez se concentrar nos servidores da plataforma. Além disso, o serviço reduziu a resolução máxima para 720p (HD), quando o máximo suportado era 1080p (Full HD).

Mesmo com essas medidas, Dan Clancy, CEO da Twitch, afirma que o custo de operação na Coreia do Sul continua 10 vezes maior que a maioria dos outros países. O executivo afirma que a Twitch opera em prejuízo no país, e não vê um caminho sustentável para manter os negócios no país.

Na carta, Clancy afirma que a Twitch irá auxiliar os streamers coreanos a migrarem para outras alternativas de streaming ao vivo na Coreia do Sul, e também irá contactar os serviços concorrentes para facilitar a transição.

Fair share também é discutido no Brasil

A tentativa de emplacar o fair share também acontece na União Europeia. As operadoras esperavam uma boa aceitação pelo bloco econômico, que tende a ser firme com big techs (lembra do USB-C no iPhone 15?). O assunto deve entrar em pauta no ano de 2025, mas corre o risco de não avançar: uma consulta pública identificou pouco apoio ao pedágio das redes — exceto pelas próprias operadoras de telecomunicações, lógico.

Operadoras querem remuneração de big techs por uso da rede
Operadoras querem remuneração de big techs por uso da rede (Imagem: jarmoluk / Pixabay (Imagem: jarmoluk / Pixabay)

O fair share também é um assunto discutido no Brasil, e uma tomada de subsídios foi feita pela Anatel em junho. Claro, TIM, Vivo e Oi tentam, em um discurso alinhado, convencer a agência e a população brasileira de que seria justo que os geradores de tráfego remunerem as telcos pelo uso da rede.

Para muita gente — e eu me incluo nesse barco —, essa é uma discussão que não faz sentido, uma vez que os geradores de conteúdo também pagam para disponibilizar o conteúdo na internet. Várias empresas, como Apple, Google, Meta e Netflix criam CDNs e fazem acordos de troca de tráfego melhorar a qualidade e diminuir o custo de operação (inclusive das próprias operadoras).

A parte mais controversa é que as próprias operadoras que pedem pelo fair share também facilitam o acesso às plataformas das big techs. Claro, TIM e Vivo oferecem WhatsApp sem descontar da franquia de dados em todos os planos, seja pré-pago ou pós-pago; além disso, diversas ofertas incluem acesso liberado para redes sociais ou franquias dedicadas a serviços de streaming.

Se você se interessou pelo assunto, vale a pena ouvir o Tecnocast 315. O episódio conta com a participação de Thiago Ayub, diretor de tecnologia da Sage Networks, e aborda as principais nuances sobre a proposta de fair share.

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Lucas Braga

Lucas Braga

Repórter especializado em telecom

Lucas Braga é analista de sistemas que flerta seriamente com o jornalismo de tecnologia. Com mais de 10 anos de experiência na cobertura de telecomunicações, lida com assuntos que envolvem as principais operadoras do Brasil e entidades regulatórias. Seu gosto por viagens o tornou especialista em acumular milhas aéreas.

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