Droga Raia e Drogasil suspendem uso de biometria para desconto em farmácias

Dona das farmácias Droga Raia e Drogasil vai interromper coleta de impressão digital por "causar desconfortos" aos clientes; Procon-SP notificou empresa

Pedro Knoth
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• Atualizado há 1 ano e 1 mês
Droga Raia no Shopping Iguatemi de São Paulo (Imagem: Reprodução / Facebook)
Droga Raia no Shopping Iguatemi de São Paulo (Imagem: Reprodução / Facebook)

O grupo Raia Drogasil, dono das redes de farmácias Droga Raia e Drogasil, anunciou na noite de quarta-feira (8) que vai interromper o cadastro de biometria em suas lojas. A suspensão da coleta veio após um questionamento do Idec e uma notificação do Procon-SP, que pode multar a empresa em até R$ 50 milhões. O Tecnoblog trouxe a denúncia de clientes que precisaram entregar a impressão digital em troca de descontos.

Raia Drogasil suspende coleta por “causar desconfortos”

Em comunicado ao Tecnoblog, o grupo Raia Drogasil reforça que a coleta da biometria era para se adequar à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A empresa ressalta que o processo sempre foi realizado de forma voluntária e dentro dos conformes legais. 

“Apesar disso, entendendo que a iniciativa causou desconfortos, a RD-RaiaDrogasil optou por interromper essa prática”, diz o comunicado. A empresa afirma que foi uma das primeiras no país a se ajustar à LGPD, e ressaltou que fez investimentos na área para proteger dados de clientes.

A rede de farmácias diz ainda que a troca de dados beneficia o consumidor com ofertas, “incluindo as promoções personalizadas em categorias relevantes para ele”. O grupo diz que não comercializa, “em hipótese alguma, as informações pessoais de clientes a terceiros”.

Coleta de CPFs permanece

A coleta e uso de CPF foram criticados por Matheus Falcão, especialista em Saúde do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), em entrevista ao Tecnoblog. “Nossa compreensão é de que o setor [de farmácias] ainda não explicou muito bem nem a necessidade do CPF e muito menos da digital. Isso passa por explicar a finalidade precisa. Com quem eles são compartilhados?”, ele questionou.

O Idec notificou o grupo Raia Drogasil sobre a coleta do CPF, que também não tinha finalidade específica descrita na política de privacidade da empresa.

O estado de São Paulo aprovou uma lei em dezembro que obriga farmácias e drogarias a explicarem o motivo de pedirem o CPF do consumidor no ato da compra. A empresa precisa comunicar ao cliente, caso ele forneça o dado, se vai abrir ou não uma conta para que ele receba promoções ou descontos. Caso viole a lei, a loja deve pagar multa de R$ 5.818.

Em nota à reportagem, a empresa afirma que “o CPF continua sendo necessário para individualizar os clientes e, com isso, assegurar ofertas exclusivas com base em seu perfil de compras e atendimento à legislação fiscal e regulatória”.

Fachada da Drogasil (Imagem: Reprodução / Facebook)
Fachada da Drogasil (Imagem: Reprodução / Facebook)

No mês passado, o Tecnoblog detalhou casos de clientes que foram barrados na hora da compra, e tiveram que fornecer a digital em troca de descontos em produtos. Em um caso, a oferta foi de 33% e o consumidor teve de informar o número de celular para aproveitar a promoção.

Na quarta-feira, noticiamos com exclusividade que a Drogasil foi notificada pelo Procon-SP. O órgão exige a finalidade de coleta da biometria, assim como o tratamento do dado: captação, armazenamento e criptografia.

Este é o comunicado da empresa na íntegra:

Sobre a notificação que recebeu do Procon-SP, a RD-RaiaDrogasil esclarece que o uso da identificação biométrica ocorreu com o único objetivo de garantir a praticidade e a segurança desse processo para os clientes e para finalidades previstas na LGPD. Ressalta que o cadastramento biométrico sempre foi voluntário e aderente à legislação vigente.

Apesar disso, entendendo que a iniciativa causou desconfortos, a RD-RaiaDrogasil optou por interromper essa prática. É importante ressaltar que a RD-RaiaDrogasil foi uma das primeiras empresas do País a se adaptar à nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O grupo realizou grandes investimentos para ampliar ainda mais a segurança das informações e garantir a privacidade e a proteção dos dados dos consumidores.

Todas as informações coletadas são utilizadas exclusivamente em benefício do próprio cliente, incluindo as promoções personalizadas em categorias relevantes para ele. A Droga Raia, a Drogasil e todas as demais empresas de seu grupo econômico, não comercializam, em hipótese alguma, as informações pessoais de clientes a terceiros.

Há 116 anos, o grupo mantém uma relação de profunda confiança com seus clientes, pautada pelo total respeito à privacidade daqueles que utilizam seus serviços. O programa de fidelidade acumula mais de 30 anos de história e garante benefícios personalizados, sem jamais comprometer a privacidade e a segurança dos dados de cada um.

A RD-RaiaDrogasil segue à disposição para esclarecer tudo o que se fizer necessário.

Atualizado às 18h35 para incluir o posicionamento da Drogasil sobre a coleta de CPFs

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Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.

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