Exclusivo: CEO da Ripio comenta alta do bitcoin e compra da Bitcoin Trade
Sebástian Serrano, CEO da Ripio, fala sobre aquisição da Bitcoin Trade e sobre as expectativas no mercado de criptomoedas em 2021
Sebástian Serrano, CEO da Ripio, fala sobre aquisição da Bitcoin Trade e sobre as expectativas no mercado de criptomoedas em 2021
Em entrevista exclusiva para o Tecnoblog, o CEO e fundador da Ripio, startup argentina de criptomoedas, afirmou que a pandemia foi uma “tempestade perfeita” para os ativos digitais se tornarem muito mais relevantes nos mercados financeiro e tecnológico. A empresa adquiriu recentemente a Bitcoin Trade, uma das mais importantes exchanges de criptomoedas do Brasil.
Sebástian Serrano, de 39 anos, é fundador e atual CEO da Ripio, uma das mais antigas empresas de criptomoedas da América Latina e a que mais cresce na região. A startup conta hoje com mais 1,3 milhão de usuários, 150 funcionários e atua principalmente no Brasil e Argentina.
Mesmo já atuando no Brasil oferecendo serviços de carteira digital e de pagamentos, a empresa buscava uma maneira de expandir sua influência no mercado brasileiro. Para o CEO, a aquisição da Bitcoin Trade “foi a melhor oportunidade por ser a corretora de maior reputação, e talvez a mais profissional do mercado brasileiro”.
“Nossa missão é dar acesso a essa tecnologia para toda a América Latina. O Brasil é e sempre foi o maior mercado, o país com a maior economia, por isso é muito importante para nós”, afirmou Serrano.
Ao longo da conversa, o CEO comenta sobre o papel das criptomoedas na crise argentina, explicando que o bitcoin, por exemplo, é visto como uma espécie de “ouro digital”. O ativo seria uma das alternativas, junto de stablecoins como a USDC, para preservar riquezas diante das diversas restrições que hoje enfrentam os argentinos, da crescente desvalorização do peso e da alta inflação.
Para Serrano, a Ripio é diferente de grandes concorrentes internacionais, como a Binance, por se tratar de uma empresa local que trabalha de maneira menos agressiva frente aos reguladores da região. Já as grandes exchanges offshore enfrentam mais problemas regulatórios, por isso os usuários devem saber dos riscos.
O fundador da Ripio também comenta sobre as altas históricas no valor do bitcoin e de outros criptoativos. Suas expectativas de mercado para 2021 são de muita volatilidade, novos recordes de preço e maior regulamentação. Serrano conclui que é necessário estudar muito para se investir em criptomoedas com segurança. Confira a entrevista completa abaixo:
Como você conheceu e entrou no mundo das criptomoedas?
Eu sou um nerd minha vida toda. Comecei a programar aos 8 anos, sempre fui fanático por tecnologia, um nerd total. Quando estava terminando o ensino secundário numa pequena cidade onde eu morava na Patagônia, eu conheci a internet e isso foi muito importante para mim.
Eu comecei a trabalhar no meu primeiro empreendimento com outras pessoas da minha cidade que foi um provedor de internet. Essa experiência foi muito informativa. Então eu estudei física, fiz muitas outras coisas até que no ano de 2012 eu conheci o bitcoin. Eu senti uma espécie de déjá vu pensando no princípio da internet. Uma rede descentralizada, é um protocolo que faltava.
É uma nova forma de dinheiro, dinheiro se convertendo em software, tudo isso foi muito revolucionário para mim. Ainda tem o fator de eu ser argentino, meu país tem crises econômicas muito repetitivas, com uma moeda muito fraca, muito abusada por distintos governos. Por isso, a proposta do bitcoin foi imediata para os argentinos, e em 2013 eu dizia “eu tenho que trabalhar com isso”.
Foi ai que fundei a Ripio, primeiro como uma plataforma de processamento de pagamento, e em 2014 criamos a carteira virtual, que hoje é o principal produto da empresa. Sempre com essa missão de prover acesso às criptomoedas em toda a América Latina.
Você mencionou a instabilidade do peso. As criptomoedas poderiam ajudar a dar mais estabilidade econômica para os argentinos?
É uma alternativa que muitos usuários estão começando a utilizar. Na Argentina há muitas restrições para se guardar dinheiro, e as criptomoedas são uma maneira de proteger sua riqueza. O bitcoin é uma espécie de “ouro digital”.
Nesses últimos anos os governos estão imprimindo muito dinheiro, então o valor da moeda desaparece. Há muita relação com o crescimento no preço do bitcoin e de outros criptoativos por esse motivo. É uma boa alternativa e também faz parte da transformação da humanidade.
Precisamos de uma moeda global e de uma forma de interagir e colaborar economicamente no mundo todo. Assim como enviamos uma mensagem de texto para qualquer lugar do planeta hoje, precisamos de uma forma monetária que permita a mesma coisa: transferir dinheiro facilmente a qualquer pessoa no mundo. Essa é a promessa dessa tecnologia.
Dentro da Ripio, se observou algum aumento no volume transacionado em criptomoedas após a imposição de restrições à compra de dólares na Argentina?
Sim, a gente vê muito o uso das criptomoedas conforme saem essas notícias e decisões. O mercado de criptomoedas funciona 24h todos os dias, enquanto bancos possuem horários muito restritos. Então, o governo argentino tem o costume de fazer esses anúncios na sexta-feira pela tarde, quando o mercado não está funcionando para minimizar os impactos imediatos.
Então, como as criptomoedas estão disponíveis sempre, quando saem notícias do tipo vemos muita atividade na Argentina. Há também um novo tipo de ativo, chamado stablecoins, que são criptomoedas sem volatilidade e que seguem o preço do dólar.
Na Argentina, com as restrições que existem na compra de dólares, muitas pessoas utilizam esses tokens como reserva de valor, por isso são muito populares aqui.
O que a aquisição da Bitcoin Trade significa para as operações da Ripio no Brasil?
Para os usuários da Ripio e da Bitcoin Trade, a princípio, não muda nada. Eles vão continuar com suas carteiras Ripio e continuarão a ter disponível a corretora Bitcoin Trade como sempre funcionaram. O que vai ocorrer é que as bases de usuários serão integradas.
Se poderá utilizar a carteira Ripio e ao mesmo tempo fazer trading e outras coisas mais avançadas através da mesma conta no Bitcoin Trade. É como um usuário do Google realizar o mesmo login em seu e-mail e no Youtube. O usuário terá acesso a mais produtos e serviços em uma mesma conta.
A Bitcoin Trade seguirá atuando no mercado ou eventualmente será incorporada pela Ripio?
A Bitcoin Trade seguirá existindo como o nome de nossa exchange.
Como a Ripio espera enfrentar fortes concorrentes internacionais, como a Binance, que agora expandem seus serviços no Brasil?
Esse é um mercado que vai crescer muito, e há muitas diferenças entre os jogadores. A Binance é para um usuário muito especulativo, por exemplo. Já a Ripio e Bitcoin Trade são empresas locais, empresas que são respeitosas às legislações, que trabalham com os reguladores de cada país, enquanto outros jogadores internacionais são mais agressivos, então os usuários precisam saber também os riscos quando utilizam exchanges offshore.
Isso é uma das principais diferenças. Outras estão nos serviços, os usuários da Ripio possuem sua carteira em um aplicativo simples que você leva consigo, a exchange, que é uma plataforma de trading, ei ferramentas para grandes investidores e fundos que buscam acesso às criptomoedas.
Será um ano de muita competição e de muita consolidação. Esta operação marca o que está acontecendo no mercado de criptomoedas, que está começando a amadurecer e a formar seus líderes.
Em volume, quais são as criptomoedas mais comercializadas pela Ripio?
Em volume, a principal criptomoeda sempre foi o bitcoin (BTC), é a moeda mais importante e de maior segurança. Depois, globalmente falando, a segunda criptomoeda é uma stablecoin, mais especificamente a USDC, baseada em dólares. E então temos a Ethereum (ETH).
Recentemente, a presidente do Banco Central Europeu afirmou que o bitcoin querer a criação de regulamentações acordadas mundialmente. No Brasil, podemos esperar regras mais rígidas sobre criptoativos?
Creio que não. Os reguladores da América Latina se mostraram mais abertos a novas tecnologias. Mas acho que este vai ser um ano de mais regulamentação. Por exemplo, há algumas recomendações do GAFI (Grupo de Ação Financeira Internacional), que tem que ser aplicadas pelos governos latinos membros do grupo.
Nós da Ripio fomos eleitos no ano passado pelo Fórum Econômico Mundial como uma das empresas líderes de tecnologia de 2020. E com o órgão estamos participando de muitos fóruns de regulamentação com autoridades de todo o mundo para trabalhar sobre as tendências e marcos regulatórios de modo a minimizar os riscos desta tecnologia, enquanto maximizamos os benefícios.
Acho que tudo isso é possível, é uma tecnologia com os maiores registros de transações que nenhum sistema atingiu antes, são registros públicos em blockchain, que é uma tecnologia nova e que cria memória do que acontece pela internet.
Os riscos que muitos reguladores veem são mitigáveis e eu acho que até agora há opiniões discernentes sobre essa tecnologia geradas pelo medo e desconhecimento. Assim como no princípio da internet muitas pessoas temiam por sua privacidade ou pelo anonimato que ela traz. Diferente do passado, hoje a concepção é que se deva ter mais anonimato e que nos expomos demais nas redes.
O trabalho de empresas como a Ripio também é educar, falar com reguladores e oferecer conhecimento sobre essa tecnologia, é parte de nossa missão também.
E quanto aos temores de reguladores sobre o anonimato nas transações de criptomoedas?
É importante dizer que as criptomoedas não são anônimas. Elas são pseudoanônimas, assim como tudo na internet. Quando se realiza uma transação com bitcoin, os registros em blockchain são imutáveis, e estarão aí pelo resto da história. O registro fica sob um pseudônimo, mas não é o mesmo que anônimo.
Contanto que seu registro eletrônico no destino do bitcoin seja minimamente relacionado a sua identidade, se pode rastrear uma transação até qualquer pessoa. É o mesmo que o resto das tecnologias online. Você pode criar uma conta no Twitter sob um nome fictício, mas se você associa a identidade da conta com o indivíduo que a criou você retira esse anonimato.
Essa é uma questão muito importante dessa tecnologia, porque é possível monitorar e analisar os fluxos de fundos que acontecem em blockchain, enquanto devemos também entender os possíveis riscos que envolvem sua utilização.
O Bank of America chegou a alertar investidores sobre uma possível bolha especulativa envolvendo os criptoativos. Qual a sua análise sobre as altas históricas do bitcoin e de outras criptomoedas em 2021? É bolha? É seguro investir?
Primeiro, não é bolha. As criptomoedas e tecnologias têm ciclos. O que acontece com o bitcoin é que ele tem preço. Assim, podemos analisar registros históricos e ver esses ciclos. Agora o bitcoin está em um novo momento de muito crescimento. O que deve acontecer é um ano de grandes altas.
A Ripio, por exemplo, conta hoje com 1,3 milhões de usuários, e podemos esperar terminar o ano acima dos 2 milhões. Deve haver muito crescimento nas criptomoedas em novos usuários e recordes de preço.
Mas haverá muita volatilidade também. Os usuários devem ter cuidado, nunca investir dinheiro que não se pode perder e é necessário estudar muito. O pior que um investidor pode fazer é aplicar dinheiro somente porque o preço está subindo. O melhor que podemos fazer é estudar essa tecnologia, entender seus fundamentos e utilizá-la e criar intuição sobre como ela opera. Com isso você poderá tomar decisões com maior segurança. O risco é sobre conhecimento.
O investidor que estuda tem muito menos risco. Será um ano de muita volatilidade e muito atrativo para pessoas que estão começando a se aprofundar no mercado de criptomoedas.
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