Facebook derruba 1 milhão de fake news no Brasil, mas esconde o essencial

Facebook e Instagram apagaram 1 milhão de posts, comentários e stories no Brasil com informações falsas sobre COVID-19; empresa não revela engajamento

Felipe Ventura
• Atualizado há 2 anos e 10 meses

A Meta, empresa de Mark Zuckerberg, disparou um comunicado à imprensa avisando que removeu mais de 1 milhão de conteúdos envolvendo desinformação grave sobre COVID-19 no Brasil. Isso foi feito no Facebook e Instagram desde o início da pandemia. Mas, como é de se esperar da companhia, ficaram faltando dois detalhes muito importantes.

Site do Facebook no celular (Imagem: Solen Feyissa/Unsplash)
Site do Facebook no celular (Imagem: Solen Feyissa/Unsplash)

O Facebook e o Instagram apagaram 1 milhão de posts, comentários e stories com alegações sobre o coronavírus (Sars-CoV-2) e assuntos relacionados “que possam colocar a vida das pessoas em risco”, explica o comunicado. Isso vale, por exemplo, para quem diz que a pandemia não existe ou que a vacina contra COVID-19 pode matar.

Isso coloca o Facebook – aliás, a Meta – como uma empresa responsável por combater fake news sobre uma doença que já matou mais de 600 mil brasileiros. Só ficaram faltando alguns dados aos quais a companhia certamente tem acesso:

  • qual foi o volume de engajamento nos posts removidos?
  • quantos posts com fake news permaneceram no ar?

Conteúdo vs. engajamento no Facebook

Repare que, no comunicado do Facebook, o termo “conteúdos” acaba igualando posts que têm impacto bem distinto: um comentário de 0 curtidas mentindo que “vacina mata” teria o mesmo peso que uma live do presidente associando a vacina à AIDS.

Então, antes que a informação falsa tenha sido removida, quantas pessoas ela impactou? Ficamos sem saber.

E isso é algo crucial. Por exemplo, o Aos Fatos fez uma análise sobre posts envolvendo a CPI da COVID-19 desde abril, quando a comissão foi instaurada no Senado. Dessas publicações, há 16 que receberam 1,2 milhão de interações:

Dos 200 posts mais populares que mencionam o colegiado, 16 contêm desinformação e foram veiculados pelo presidente Jair Bolsonaro e por seus apoiadores. Sozinha, essa parcela é responsável por 1,2 milhão (11%) das 11,3 milhões de interações contabilizadas na amostra total de postagens.

Os números vêm do CrowdTangle, ferramenta que pertence à Meta – assim como o Facebook e o Instagram. Ela está no centro de um debate interno entre funcionários sobre a empresa se tornar mais transparente. Em outubro, o fundador do CrowdTangle deixou o cargo de CEO.

E as fake news que continuam no Facebook?

Mark Zuckerberg em conferência F8 (Imagem: Divulgação / Facebook)
Mark Zuckerberg em conferência F8 em 2018 (Imagem: Divulgação / Facebook)

Não é a primeira vez que o Facebook destaca números mais “bonitos” quando fala sobre moderação de conteúdo.

Zuckerberg disse em depoimento ao Senado dos EUA, em outubro de 2020, que a rede social “identifica de forma proativa cerca de 94% do discurso de ódio que acabamos derrubando”.

O truque de Zuck é focar em uma medida que não importa muito: 94% é somente a “taxa proativa”. É uma conta relativamente simples: pegue o número de posts com discurso de ódio que foram detectados via inteligência artificial e removidos; então, divida pelo total de posts com discurso de ódio que foram apagados.

Isso não diz algo crucial: quantos posts com discurso de ódio permanecem na rede social? Documentos internos vazados por Frances Haugen dizem que “provavelmente tomamos ação em no máximo 3% a 5% do ódio no Facebook”.

De acordo com a Wired, se a empresa removeu 12 milhões de conteúdos envolvendo discurso de ódio – número citado por Zuckerberg – ela provavelmente manteve 250 milhões no ar.

Tendo isso em mente, fica a questão: quantos posts, comentários e stories com fake news sobre a COVID-19 foram mantidos no Facebook e Instagram? Não espere uma resposta oficial tão cedo.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.