Facebook derruba 1 milhão de fake news no Brasil, mas esconde o essencial
Facebook e Instagram apagaram 1 milhão de posts, comentários e stories no Brasil com informações falsas sobre COVID-19; empresa não revela engajamento
A Meta, empresa de Mark Zuckerberg, disparou um comunicado à imprensa avisando que removeu mais de 1 milhão de conteúdos envolvendo desinformação grave sobre COVID-19 no Brasil. Isso foi feito no Facebook e Instagram desde o início da pandemia. Mas, como é de se esperar da companhia, ficaram faltando dois detalhes muito importantes.
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O Facebook e o Instagram apagaram 1 milhão de posts, comentários e stories com alegações sobre o coronavírus (Sars-CoV-2) e assuntos relacionados “que possam colocar a vida das pessoas em risco”, explica o comunicado. Isso vale, por exemplo, para quem diz que a pandemia não existe ou que a vacina contra COVID-19 pode matar.
Isso coloca o Facebook – aliás, a Meta – como uma empresa responsável por combater fake news sobre uma doença que já matou mais de 600 mil brasileiros. Só ficaram faltando alguns dados aos quais a companhia certamente tem acesso:
- qual foi o volume de engajamento nos posts removidos?
- quantos posts com fake news permaneceram no ar?
Conteúdo vs. engajamento no Facebook
Repare que, no comunicado do Facebook, o termo “conteúdos” acaba igualando posts que têm impacto bem distinto: um comentário de 0 curtidas mentindo que “vacina mata” teria o mesmo peso que uma live do presidente associando a vacina à AIDS.
Então, antes que a informação falsa tenha sido removida, quantas pessoas ela impactou? Ficamos sem saber.
E isso é algo crucial. Por exemplo, o Aos Fatos fez uma análise sobre posts envolvendo a CPI da COVID-19 desde abril, quando a comissão foi instaurada no Senado. Dessas publicações, há 16 que receberam 1,2 milhão de interações:
Dos 200 posts mais populares que mencionam o colegiado, 16 contêm desinformação e foram veiculados pelo presidente Jair Bolsonaro e por seus apoiadores. Sozinha, essa parcela é responsável por 1,2 milhão (11%) das 11,3 milhões de interações contabilizadas na amostra total de postagens.
Os números vêm do CrowdTangle, ferramenta que pertence à Meta – assim como o Facebook e o Instagram. Ela está no centro de um debate interno entre funcionários sobre a empresa se tornar mais transparente. Em outubro, o fundador do CrowdTangle deixou o cargo de CEO.
E as fake news que continuam no Facebook?
Não é a primeira vez que o Facebook destaca números mais “bonitos” quando fala sobre moderação de conteúdo.
Zuckerberg disse em depoimento ao Senado dos EUA, em outubro de 2020, que a rede social “identifica de forma proativa cerca de 94% do discurso de ódio que acabamos derrubando”.
O truque de Zuck é focar em uma medida que não importa muito: 94% é somente a “taxa proativa”. É uma conta relativamente simples: pegue o número de posts com discurso de ódio que foram detectados via inteligência artificial e removidos; então, divida pelo total de posts com discurso de ódio que foram apagados.
Isso não diz algo crucial: quantos posts com discurso de ódio permanecem na rede social? Documentos internos vazados por Frances Haugen dizem que “provavelmente tomamos ação em no máximo 3% a 5% do ódio no Facebook”.
De acordo com a Wired, se a empresa removeu 12 milhões de conteúdos envolvendo discurso de ódio – número citado por Zuckerberg – ela provavelmente manteve 250 milhões no ar.
Tendo isso em mente, fica a questão: quantos posts, comentários e stories com fake news sobre a COVID-19 foram mantidos no Facebook e Instagram? Não espere uma resposta oficial tão cedo.