Huawei cogita driblar sanções dos EUA ao focar em software
Fundador e CEO da Huawei, Ren Zhengfei quer liderar o mercado com investimento em tecnologias inteligentes como HarmonyOS
O CEO e fundador da Huawei, Ren Zhengfei, fez um apelo aos funcionários para que a big tech chinesa assuma a liderança no mercado de softwares – e assim possa driblar as sanções impostas pelos Estados Unidos. De acordo com memorando interno obtido pela Reuters, Ren afirma que a companhia deve focar em software porque o setor está “fora do controle dos EUA e nós teremos mais independência e autonomia”.
Huawei está proibida de importar dos EUA desde 2019
A Huawei é proibida de fazer negócios com empresas americanas desde 2019, quando o então presidente Donald Trump baniu exportações para a big tech chinesa. Isso a obrigou a mudar o modelo de negócio e focar nos próprios componentes de hardware como chips eletrônicos, por exemplo. O atual presidente americano, Joe Biden, não deu sinal de que revogaria a medida.
A sanção também impede que novos celulares da Huawei rodem o pacote Google Mobile Services, que inclui a Play Store, Chrome, Maps, YouTube, Gmail e outros apps. Além disso, o Google fica proibido de oferecer qualquer suporte técnico.
As restrições comerciais frearam o crescimento da Huawei em 2020; mesmo assim a chinesa teve receita anual de US$ 138,4 bilhões, ou R$ 735 bilhões. A participação do software no resultado financeiro não foi revelada.
O memorando dá as dicas dos próximos passos da big tech chinesa. Ela deve investir em ecossistemas de software, como a inteligência artificial de cloud Mindspore, o sistema operacional HarmonyOS e outros produtos de TI. A empresa soltou hoje um teaser no WeChat sobre um grande anúncio do HarmonyOS marcado para 2 de junho — quarta-feira da semana que vem.
CEO quer investir em tecnologias de fonte aberta
Ren Zhengfei ainda diz na carta que o novo foco em software dependerá da adaptação da Huawei a um novo modelo de negócio baseado em código aberto e que funcionários devem “absorver nutrientes” de comunidades do tipo. A intenção é fortalecer a presença no mercado doméstico, tendo em vista uma possível exclusão do mercado americano: “Uma vez que dominarmos a Europa, a região Ásia-Pacífico e a África, se o padrão americano não corresponder com o nosso e não pudermos entrar no território dos EUA, então eles não podem entrar no nosso”.
Eric Xu, conselheiro provisório da Huawei, disse em abril que a chinesa deve investir mais de US$ 1 bilhão – o correspondente a R$ 5,31 bilhões – em tecnologias inteligentes. A empresa expandiu, no começo do mês, sua parceria no setor de carros automatizados com a estatal Chongqing Changan Automobile Co Ltd.
A carta interna reconhece a cultura de trabalho implacável da Huawei e recomenda que funcionários menos experientes procurem assistência psicológica. “Alguns jovens têm QIs altos, mas seus QEs [quocientes emocionais] são baixos, portanto sua mentalidade ainda não amadureceu e adoecem com facilidade”, afirma Ren.