Netflix enfrenta dificuldades para impedir que 100 milhões de pessoas dividam senha

Às vésperas de expandir taxação de contas compartilhadas, empresa ainda não sabe como lidar com as consequências de sua própria cultura

Paula Alves
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Netflix
Netflix (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Não é novidade que, em alguns países da América Latina, a Netflix já vem testando cobrar uma taxa extra de seus clientes, caso constate que sua senha está sendo utilizada por outros domicílios. O novo sistema, no entanto, deve ser lançado globalmente no próximo ano, quando a empresa terá a difícil tarefa de coibir uma prática que ela mesmo alimentou.

O sistema de taxação de contas da Netflix entrou parcialmente em vigor em julho, quando assinantes do serviço que moram na Argentina, El Salvador, Guatemala, Honduras e República Dominicana foram impactados pela novidade.

Nestes lugares, quando percebiam que uma segunda residência utilizava o streaming por mais de duas semanas seguidas, a empresa “convidava” o assinante a contratar uma casa extra em seu plano. Encargo esse que variava de R$ 9 a R$ 16, dependendo do país em questão, e era cobrado mais uma vez a cada nova casa contratada.

Apesar dos meses de teste, a verdadeira prova de fogo para a empresa acontecerá, de fato, no próximo ano, quando alguns de seus maiores mercados, como os EUA e o Brasil, também devem adotar o modelo. Uma novidade que tem tudo para desagradar os assinantes, já tão acostumados com o “jeitinho” compartilhável da plataforma.

Amar é compartilhar uma senha

Ao menos era isso o que dizia a própria Netflix. Afinal, o costume de emprestar a sua conta para que amigos e familiares pudessem assistir a títulos da plataforma surgiu espontaneamente entre seus assinantes, quando a empresa ainda era praticamente a única de seu segmento e muito de suas produções viralizavam no boca a boca.

Por anos, a Netflix fez vista grossa e até mesmo alimentou essa cultura, entendendo que ela era vista com bons olhos por sua comunidade e funcionava como um marketing espontâneo para mais visualizações.

Um pensamento, no entanto, que precisou mudar quando novas players chegaram no mercado, houve a necessidade da empresa conseguir novas fontes de renda e a indústria se reconfigurou.

De acordo com fontes familiarizadas com a situação que conversaram com o The Wall Street Journal, desde 2019 a Netflix já havia percebido que essa cultura que ela mesmo havia alimentado seria uma pedra em seu caminho.

A questão, porém, foi sendo colocada de lado pela companhia, que com a chegada da pandemia e a explosão de novas pessoas em casa contratando serviços de streaming, acabou postergando ainda mais a situação.

Pessoa assistindo ao Netflix. (Imagem: Mollie Sivaram/Unsplash)
Netflix (Imagem: Mollie Sivaram/Unsplash)

Assinantes podem ter dificuldade em lidar com a taxação

Com a hora H da expansão global finalmente chegando, a Netflix precisa agora encarar o problema de frente.

Segundo o próprio streaming, atualmente mais de 100 milhões de telespectadores assistem à plataforma utilizando uma senha emprestada de um amigo ou alguém da família. Número que mostra o tamanho do impacto que a mudança trará e de como há chances realmente perigosas da novidade irritar seus assinantes.

Com tantas opções no mercado e uma “traição” à sua própria cultura, estariam os usuários dispostos a permanecer no serviço?

Se mal recebida, a novidade pode ser um divisor de águas na história da Netflix, impactando não apenas na confiabilidade do serviço, mas também na experiência do usuário, que sempre foi um dos pontos mais fortemente trabalhados pela companhia.

Por outro lado, se a taxação de contas compartilhadas sobreviver bem à turbulência, a mudança por ser um ótimo termômetro para que outros streamings também adotem o modelo. Afinal, essa seria uma ótima forma de coibir o compartilhamento de senhas, mas também de oferecer uma opção de assinatura mais vantajosa para familiares e amigos dispostos a contratar o serviço.

Com informações: The Wall Street Journal

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Paula Alves

Paula Alves

Repórter

Paula Alves é jornalista especialista em streamings e cultura pop. Formada pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), antes do Tecnoblog, trabalhou por sete anos com jornalismo impresso na Editora Alto Astral. No digital, escreveu sobre games e comportamento para a Todateen e sobre cinema e TV para o Critical Hits. Apaixonada por moda, já foi assistente de produção do SPFW.

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