No WhatsApp, 63% dos brasileiros fogem de brigas políticas usando memes
Após 2018, 72% dos brasileiros evitam falar de política em grupos de família no WhatsApp para evitar brigas; 44% receberam memes sobre a eleição em 2020
Após 2018, 72% dos brasileiros evitam falar de política em grupos de família no WhatsApp para evitar brigas; 44% receberam memes sobre a eleição em 2020
Política no WhatsApp virou um assunto delicado, especialmente após eleições de 2018. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Internet Lab, centro de pesquisa em tecnologia e direito digital. Pela sensibilidade do assunto, 63% dos brasileiros usam memes e mensagens de humor para debater política sem gerar brigas.
O Internet Lab entrevistou 3.113 brasileiros distribuídos pelas 5 regiões do país, entre os dias 17 e 20 de dezembro. Foram coletadas respostas apenas de pessoas acima de 16 anos, com acesso à internet e que usam WhatsApp — o mensageiro é usado por 98% da população. A margem de erro para o estudo é de 3 pontos percentuais.
Apesar de ser o app preferido para trocar mensagens, brasileiros afirmam que usam geralmente outros dois mensageiros ao mesmo tempo, como o Facebook Messenger (68%) e o Messenger do Instagram (65%) — especialmente para achar outras pessoas sem o número de celular.
Memes e outras formas de humor têm se tornado cada vez mais comuns em grupos de política no WhatsApp, começando por 2018. Usar piadas para falar sobre eleições e candidatos agitou o debate em 2020 dentro da plataforma, ano das disputas municipais.
Segundo a pesquisa, 44% dos eleitores receberam memes e piadas de candidatos pelo WhatsApp durante a disputa eleitoral do ano passado — foi o tipo de conteúdo com maior engajamento, sendo compartilhado por 28% dos brasileiros.
Mensagens com piadas atingem todas as classes sociais e tanto a esquerda quanto a direita de forma semelhante. Por isso, 6 em cada 10 brasileiros afirmam que usam memes para falar de política sem brigar nos grupos.
Apesar do engajamento em humor, o brasileiro foge de grupos dedicados para discutir política. Em 2020, 70% ficaram de fora de grupos que discutiam a campanha e apoio aos candidatos municipais. A maior participação por região foram as de Norte e Nordeste, com 30% e 26%, respectivamente.
Contudo, Heloísa Massaro, uma das autoras do estudo e coordenadora de pesquisa do Internet Lab, diz que estratégias de comunicação de campanha política são anuladas pela diversidade dos grupos no WhatsApp. “A variedade de grupos é muito grande: grupos de promoção, memes, etc. Cada grupo vai ter um ethos único: normas de funcionamento e regras de moderação próprias”, diz Massaro.
A disputa presidencial de 2018, uma das mais polarizadas dos últimos anos, foi um divisor de águas no que tange ao comportamento do usuário de WhatsApp em grupos.
Depois da eleição que teve Jair Bolsonaro (sem partido) como vencedor, 72% dos brasileiros afirmam que evitam falar de política em grupos de família para não gerar brigas. Agora, eles policiam mais por onde falam. Quase metade dos entrevistados afirmam que viram grupos maiores se dividirem em núcleos menores para tornar a discussão sobre política mais amigável.
Massaro afirma que um dos pontos mais importantes da pesquisa é de que o comportamento de eleitores de direita e esquerda no WhatsApp para falar de política é muito semelhante.
“Identificamos que, pela pesquisa quantitativa, praticamente não existe diferença nos comportamentos, hábitos e percepções dos usuários de direita e de esquerda. São perfis bastante espelhados”, diz a pesquisadora. Ela cita que os dois grupos têm uma participação parecida em grupos para falar de política a partir de 2018.
Esquerda | Direita | Centro | Não sabe | |
Participa | 25% | 24% | 15% | 7% |
Não Participa | 75% | 76% | 85% | 93% |
Contudo, a única diferença entre brasileiros de esquerda e direita no WhatsApp é sobre o compartilhamento de notícias sem checar a fonte. Do total de 30% que admite ter repassado informações sem saber a origem, 40% dos entrevistados admitem ser de direita, enquanto 25% são de esquerda.
Porém, Heloísa Massaro ressalta que esse dado deve ser lido com cautela, já que o conceito de “fonte” e “notícia” variam de acordo com o espectro político do usuário no WhatsApp. “A partir de 2018, há uma percepção generalizada de que checar a origem da informação é importante”, completa Massaro.
Com informações: Internet Lab