Nvidia é multada após “esconder” motivo por trás de sucesso em GPUs

SEC diz que Nvidia divulgou resultados financeiros enganosos a investidores, ocultando a participação da mineração de criptomoedas na venda de GPUs

Bruno Ignacio
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Placas de vídeo série RTX 3000 (imagem: divulgação/Nvidia)

A Nvidia terá que pagar US$ 5,5 milhões por ocultar de investidores o número de GPUs vendidas para mineradores de criptomoedas. A SEC (comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos), anunciou nesta sexta-feira (6) a aplicação da multa para livrar a fabricante das acusações por irregularidades. A companhia nega qualquer ilegalidade na divulgação das informações, mas assinou o acordo.

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Um documento da SEC afirma que a Nvidia enganou os investidores ao relatar um enorme aumento na renda relacionada a “jogos”, escondendo o quanto seu sucesso dependia do mercado de criptomoedas. A companhia também concordou em impedir qualquer falha ou irregularidade na divulgação dos números a partir de agora.

As acusações são referentes aos relatórios financeiros do ano fiscal de 2018 divulgados pela Nvidia. A SEC observou que a fabricante apresentou uma grande alta nas vendas de chips gráficos, colocando os números na categoria de renda de “jogos”. No entanto, a própria empresa também reconheceu eventualmente que o “boom” na demanda estava relacionado à mineração de criptomoedas.

Relatórios de vendas não mencionaram criptomoedas

Em 2017, as recompensas da mineração de ether (ETH), a criptomoeda nativa da rede Ethereum, cresceram drasticamente. A atividade foi amplamente noticiada no mundo todo desde então como uma das principais razões da escassez de chips gráficos da fabricante e do decorrente aumento nos preços. Naturalmente, os jogadores, o público alvo da Nvidia, ficaram enfurecidos.

No entanto, desta vez o problema não é o descontentamento dos gamers, mas sim dos investidores da empresa. A SEC acredita que o mercado foi enganado pelos relatórios da Nvidia, que indicaram um crescimento constante e rápido nas vendas e na renda da companhia. Porém, os números relacionados à venda de GPUs durante o período não refletem propriamente o desempenho da empresa no mercado.

Números seriam “enganosos”, segundo a SEC

Os preços de criptoativos passaram por uma grande alta nos últimos anos, mas sempre acompanhados de grande volatilidade. O mesmo ocorre com as recompensas relacionadas à mineração de criptomoedas, que uma hora pode gerar uma drástica alta na demanda por GPUs, mas em outra pode também causar uma repentina queda.

Mineração de criptomoedas
GPUs são muito usadas na mineração de criptomoedas (Imagem: WorldSpectrum/Pixabay)

Por isso, os dados divulgados sem discriminação seriam enganosos para a avaliação de investidores, segundo a SEC. A Nvidia até mesmo lançou uma linha própria de CMPs, placas totalmente voltadas à mineração de moedas digitais, em uma tentativa de evitar a escassez de GPUs para o mercado de games.

“Os analistas e investidores da Nvidia estavam interessados ​​em entender até que ponto a renda de jogos da empresa foi impactada pela mineração de criptomoedas e perguntavam constantemente à alta administração até que ponto os aumentos na receita de jogos durante esse período foram impulsionados pela mineração de criptomoedas.”

SEC (Securities and Exchange Commission) dos EUA em documento.

Mesmo diante dos constantes questionamentos por parte dos investidores, a Nvidia nunca mencionou claramente qual foi o impacto, mesmo que estimado, da mineração de criptomoedas na venda de GPUs.

As acusações da SEC foram ainda embasadas por outro acontecimento. Em 2018, quando os preços dos principais criptoativos despencaram, a Nvidia reduziu bastante suas projeções de lucros trimestrais. Mas, novamente, não mencionou o mercado de criptomoedas em suas justificativas.

“As falhas de divulgação da Nvidia privaram os investidores de informações críticas para avaliar os negócios da empresa em um mercado importante”, disse a diretora de ativos digitais da SEC e da Cyber ​​Unit, Kristina Littman. Ela acrescentou que todas as empresas, “incluindo aquelas que buscam oportunidades envolvendo tecnologias emergentes”, devem “garantir que suas divulgações sejam oportunas, completas e precisas.”

Com informações: The Verge

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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