Operadora Veek diz que Surf Telecom “nos roubou” e é acusada de estelionato
Operadoras enfrentam impasse na Justiça; Surf Telecom também briga com sócia Plintron Holdings e diz que companhia é uma "empresa de prateleira"
Operadoras enfrentam impasse na Justiça; Surf Telecom também briga com sócia Plintron Holdings e diz que companhia é uma "empresa de prateleira"
O Tecnoblog publicou nesta quinta-feira (15) o especial As operadoras móveis virtuais deram certo?, que trouxe uma entrevista exclusiva com o CEO da Veek, Alberto Blanco. O executivo diz ter tomado calote da Surf Telecom; a empresa contra-atacou, e acusa a MVNO de falsidade ideológica e estelionato.
A Veek iniciou suas operações em 2017 em parceria com a fornecedora Surf Telecom. No entanto, a atuação foi suspensa em 2019 e os clientes foram transferidos para outra MVNO, a Geek.
O desentendimento entre Veek e Surf Telecom é financeiro: a fornecedora teria cortado o canal de recarga pré-pago da operadora virtual e passou a comercializar créditos aos clientes.
O Tecnoblog perguntou a Alberto Blanco o que aconteceu entre Veek e Surf. Ele respondeu:
“Essa foi uma história chata, porque tomar calote é um negócio que ninguém gosta. A Surf Telecom nos deu um calote. Ela não nos pagou, ela nos roubou, esse processo está na Anatel, está no processo judiciário e já foram condenados várias vezes.”
Alberto Blanco, CEO da Veek
As operações da Veek foram encerradas em meio ao imbróglio, mas a operadora demorou a retomar as vendas com um novo parceiro:
“Eles nos roubaram, a gente assimilou o golpe. Basicamente a gente fez duas empresas: a gente lançou a primeira e tivemos quase 70 mil clientes ativos naquela época, e hoje seríamos de longe a maior operação [virtual] no Brasil.
A gente teve que fazer outro contrato, homologar novamente na Anatel e fazer todas as conexões. Apesar de ter a experiência, demorou um tempo.”
Alberto Blanco, CEO da Veek
Atualmente, a Veek já retornou ao mercado em parceria com outra fornecedora, a Americanet. A MVNO atualmente aposta em um plano gratuito, e o usuário tem direito a 1 GB de internet por mês em troca de assistir anúncios no app da operadora.
A Surf Telecom contra-atacou as acusações da Veek, e afirma que entrou com um processo contra a MVNO:
“A questão da Veek está sendo decidida na Justiça, uma vez que tivemos que entrar com processo contra a empresa por falsidade ideológica e estelionato. A Surf Telecom foi quem moveu ação contra a empresa para ser ressarcida da forma mais justa, não o contrário.”
Surf Telecom
A Surf Telecom é responsável por mais de 100 operadoras virtuais no Brasil, incluindo a Correios Celular, Uber Chip, Lari Cel (da atriz Larissa Manoela), times de futebol, varejistas e provedores regionais de banda larga fixa.
No entanto, a carteira de clientes da Surf já foi mais cheia — ou mais relevante: a empresa atendia empresas como o Banco Inter, que tinha a operadora Intercel, além do Magazine Luiza, com a Maga+. Os clientes das MVNOs desistentes foram transferidos para outra empresa, a Mega+.
A instituição financeira e a varejista encerraram o acordo com a Surf: o Banco Inter deverá relançar a Inter Cel em parceria com a Vivo; o Magazine Luiza solicitou à Anatel a homologação de um acordo com a Claro para a criação de uma nova MVNO, como revelado em primeira mão pelo Tecnoblog.
A Surf diz que os acordos de MVNOs encerrados “são movimentos naturais do mercado” e que “da mesma forma que acordos foram encerrados, muitos novos clientes começaram, e esse número tem crescido de forma acelerada para a Surf”.
O Tecnoblog obteve acesso a um documento sigiloso da Surf Telecom, que acusa a empresa estrangeira Plintron Holdings de uma sabotagem que interrompeu o acesso ao serviço de celular de mais de um milhão de usuários (embora o número de clientes seja questionável, conforme apontado na reportagem especial):
“(…) A partir de 3 de julho de 2020, a PLINTRON iniciou uma sabotagem que culminou por interromper, sem prévia comunicação e sem qualquer justificativa plausível, a prestação dos serviços para os quais estava contratada, impedindo o acesso à sua plataforma por mais de um milhão de usuários da SURF TELECOM espalhados por mais de cinco mil municípios brasileiros. Em síntese, repentinamente, os usuários da SURF TELECOM não podiam carregar, recarregar ou usar seus aparelhos celulares.
De maneira inadvertida e irresponsável, a PLINTRON interrompeu o acesso de toda a base de clientes aos serviços da SURF TELECOM, além de passar a ativamente deletar usuários da sua plataforma.”
No documento, a Surf Telecom afirma que a Plintron é uma empresa de prateleira, ou seja, sem atividades. Um inquérito policial foi instaurado contra a companhia para apurar o crime de interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento, previsto no Código Penal. A operação encontrou um escritório fechado há meses:
“Foi instaurado o Inquérito Policial nº 2169498-16.2020.140524, procedido pelo Delegado responsável pelo DEIC – 4ª Delegacia da CIG, com a finalidade de apurar o crime descrito no artigo 266 do Código Penal (interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento).
No referido inquérito, destaca-se que houve uma diligência policial na sede da PLINTRON, pela qual constatou-se um escritório fechado há meses, o que apenas corrobora o fato que, no Brasil, a PLINTRON é uma mera empresa de prateleira.”
Durante o episódio, a Surf teve que acionar um serviço de Disaster Recovery Program junto à TIM, e o regime de contingência permitiu o reestabelecimento dos serviços, mas com custo elevado.
A interrupção do serviços tem a ver com questões societárias: a Plintron é dona de 40% das ações preferenciais da Surf Telecom. A empresa estrangeira alega que o contrato original permitia a conversão de ações preferenciais em ordinárias, com opção de compra de mais papéis e ter o controle da companhia.
A Surf diz que a Plintron tentou alterar a composição acionária e transferir o controle da empresa sem a anuência prévia da Anatel, e que isso acarreta no descumprimento das normas regulatórias da agência.
Em meio ao impasse, a Surf Telecom tenta abrir o seu capital na bolsa, e ensaiou um IPO que foi barrado por uma liminar concedida pelo Poder Judiciário em favor da Plintron.
Ao Tecnoblog, a Surf Telecom afirma que não irá se pronunciar sobre o conflito com a Plintron, e diz que aguarda uma decisão da Câmara de Arbitragem.
Colaborou: Everton Favretto