Medicina. Eis uma área que se beneficia sobremaneira de tecnologias de ponta: há desde exames cada vez mais sofisticados até próteses feitas sob medida em impressoras 3D. A robótica não fica atrás. Você já se imaginou sendo operado por um robô autônomo (ou quase)? Pois saiba que essa é a proposta do STAR (Smart Tissue Autonomous Robot), robô cirurgião que promete realizar procedimentos até nos tecidos moles mais delicados.
A robótica não é novidade na medicina. Hospitais de várias partes do mundo utilizam essas máquinas (inclusive no Brasil, devo frisar). Os robôs são usados para diversos fins, como realizar com precisão procedimentos cirúrgicos complexos ou permitir que um médico controle uma máquina que pode estar a milhares de quilômetros de distância para operar um paciente remotamente.
Desenvolvido em uma instituição dos Estados Unidos especializada em medicina infantil, o STAR não foge dessas propostas, mas tem um nível de independência, por assim dizer, bem mais elevado na comparação com os robôs cirurgiões atuais.
Mas, ao contrário do que a gente pode pensar, o STAR não é dotado de um sistema de redes neurais ou qualquer coisa assim. O robô simplesmente foi programado para realizar diversas técnicas cirúrgicas. A parte inteligente está no poder de decisão: o STAR é capaz de analisar as circunstâncias para escolher em seu banco de dados a técnica mais apropriada para aquela operação — não há ninguém indicando que movimentos ele deve executar.
Qual a mágica aqui? Os doutores Azad Shademan e Peter Kim, líderes do projeto, explicam que os médicos seguem um ritual básico com três “elementos” em toda cirurgia: a visão para verificação do estado atual do tecido, a mente como fonte de conhecimento para tomada de decisões e técnicas manuais de cirurgia para que finalmente o procedimento seja realizado. O STAR segue essa lógica.
Para tanto, o robô foi equipado com câmeras 3D com sistema de visão noturna que permitem a ele identificar com detalhes toda a área que será operada. Nessa fase, o robô já é capaz de utilizar as informações visuais obtidas para definir a técnica cirúrgica mais adequada.
No procedimento cirúrgico em si, uma espécie de braço mecânico utiliza um sensor que mede tensão e força para realizar suturas ou cortes com bastante precisão.
Será que tudo isso funciona como esperado? Para descobrir, os pesquisadores fizeram o STAR realizar uma cirurgia no tecido intestinal de um porco e compararam os resultados com os de médicos que realizaram o mesmo procedimento. Sim, o robô se saiu melhor, ou seja, fez a operação com mais precisão.
Mas aqui há uma ressalva importante: o robô recebeu auxílio humano para a realização de certas tarefas. Os médicos tiveram, por exemplo, que usar marcadores fluorescentes para indicar à máquina quais pontos do tecido tinham que ser operados.
Em contrapartida, os pesquisadores frisam que essa característica não chega a ser um ponto fraco. O projeto foi desenvolvido desde o início para o robô ter autonomia supervisionada, ou seja, para estar o tempo todo acompanhado por médicos, afinal, máquinas podem quebrar, sofrer os efeitos de uma oscilação na rede elétrica ou, por falha de programação, realizar um procedimento inadequado.
Não está descartada a hipótese de uma versão mais sofisticada do STAR receber algum tipo de inteligência artificial, mas, por ora, a ideia é que a máquina funcione como um instrumento de auxílio à cirurgia e não que execute toda a operação.
Os benefícios possíveis podem mesmo compensar os esforços de desenvolvimento: além de facilitar a realização de operações conduzidas remotamente, um robô como esse, pela precisão que oferece, deve diminuir sensivelmente o tempo de cirurgia, assim como os riscos de complicações. Os efeitos são imediatos: menos dores para o paciente, menor tempo de internação, recuperação mais rápida e assim por diante.
Com informações: Popular Mechanics, TechCrunch