Stand-up da Netflix acusado de transfobia é elogiado por CEO; “faríamos de novo”
The Closer, de Dave Chappelle, causou revolta entre funcionários trans da empresa, mas CEO o vê como um dos especiais mais divertidos da plataforma
Na última quarta-feira (30), Reed Hastings, CEO da Netflix, fez elogios ao especial de comédia The Closer de Dave Chappelle e afirmou que “faríamos isso de novo e de novo”. Lançado pela plataforma no final do ano passado, o especial causou desconforto entre funcionários da empresa, que se manifestaram publicamente, acusando a produção de conter falas transfóbicas.
A declaração foi dada pelo executivo na conferência DealBook Summit do The New York Times, durante uma entrevista para Andrew Ross Sorkin.
Indagado sobre a controvérsia, Hastings reiterou a posição da Netflix de apoio ao stand-up, demonstrada desde a época do escândalo, quando o co-CEO, Ted Sarandos, enviou um e-mail interno para os funcionários em que defendia o especial.
“Estamos apenas tentando ser a empresa de entretenimento mais empolgante […] Aquele especial foi um dos especiais mais divertidos de se assistir que já tivemos. Faríamos isso de novo e de novo”, afirmou Hastings, descrevendo ainda Chappelle como uma pessoa muito divertida e provocativa.
The Closer, de Chappelle, foi acusado de transfobia
The Closer desembarcou na Netflix em 5 de novembro de 2021 e, logo em seus primeiros dias, causou reclamações de funcionários da empresa, que acusaram o especial de conter falas transfóbicas.
Tara Fied, engenheira trans da Netflix, chegou a fazer uma thread no Twitter em que enumerava vários pontos problemáticos do show. De acordo com a engenharia, o stand-up atacava a comunidade trans e a própria validação da transgeneridade.
Alguns dias depois, a engenheira foi suspensa da empresa. Segundo a Netflix, os motivos não estavam relacionados à thread, já que a funcionária teria tentado comparecer a uma reunião de executivos ao qual não havia sido convidada.
Apesar de Fied posteriormente ter sido reintegrada ao quadro de funcionários, as polêmicas em torno do especial apenas aumentaram.
Outros funcionários trans da empresa manifestaram seu desconforto com o show, fazendo com que Sarandos enviasse um e-mail interno em que se mostrava compreensivo, mas esclarecia que não tiraria o stand-up do ar.
De acordo com o co-CEO, “não permitimos títulos na Netflix criados para incitar ódio ou violência, e não acreditamos que The Closer ultrapasse essa linha.”
Apesar de uma tentativa de paralisação de alguns funcionários, dois trabalhadores trans foram suspensos e acabaram pedindo demissão da Netflix. Enquanto isso, um terceiro foi demitido, segundo o streaming, por vazar informações confidenciais da empresa – afirmação essa negada pelo trabalhador.
Chapelle tem stand-ups de sucesso no streaming
Essa não foi a primeira vez que Dave Chappelle fez um show em parceria com a Netflix. Até o final do ano passado, ele era o comediante mais assistido da plataforma, de acordo com o próprio Sarandos.
Sticks & Stones, outra de suas produções para a empresa, é, inclusive, considerada um dos melhores shows do streaming, tendo ganhado dois Emmys e um Grammy.
Não à toa, seus shows têm custos bastante elevados.
De acordo com a Bloomberg, a Netflix pagou US$ 24,1 milhões por The Closer, enquanto Stick & Stones custou US$ 23,6 milhões. A título de comparação, Round 6, série de nove episódios que teve a melhor estreia da história da plataforma, custou US$ 21,4 milhões para a empresa.