Alcatel Idol 4: som poderoso num smartphone

Smartphone da Alcatel impressiona pela qualidade de áudio, mas peca na comparação com os concorrentes

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses

A geração mudou, mas a estratégia continua a mesma: a Alcatel trouxe ao mercado brasileiro o Idol 4, um smartphone intermediário com foco em qualidade de som. Com alto-falantes duplos Waves MaxxAudio e fones de ouvido da JBL, ele quer competir com nomes como Moto G4 Plus, Quantum Fly e Galaxy A5. Será que consegue?

O smartphone da Alcatel tem bom desempenho? Os óculos de realidade virtual inclusos na caixa são bons? E a qualidade de áudio, é tudo isso que estão prometendo? Eu conto tudo nos próximos parágrafos.

Design e tela

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O Idol 4 é mais bonito pessoalmente do que nas fotos de divulgação. As bordas de alumínio passam boa impressão de robustez, apesar do smartphone ter um corpo bem fino: são apenas 7,1 mm de espessura, mesma medida do iPhone 7. A tela de 5,2 polegadas também torna a ergonomia levemente melhor que a dos concorrentes, que trazem displays de 5,5 polegadas e são um pouquinho mais largos.

O design simétrico permite utilizar o smartphone em qualquer sentido — ele tem alto-falantes e microfones nos dois cantos, evitando qualquer confusão na hora de puxar o aparelho do bolso. Mas é curioso (e um pouco incômodo) o posicionamento dos botões. O liga/desliga não é aquele botão circular do lado direito como quase todo mundo poderia imaginar: na verdade, ele está na parte superior esquerda (?).

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O botão circular do lado direito ativa um truque de software definido pelo usuário nas configurações: você pode configurá-lo para abrir a câmera (mas apenas quando a tela já estiver ligada, infelizmente), capturar a tela ou executar um aplicativo específico, por exemplo. É importante escolher bem a função, porque você vai apertar a Boom-Key várias vezes por engano.

Por padrão, o botão aciona efeitos de som que aumentam os graves da música ou do filme que você estiver consumindo. É com ele que os alto-falantes do Idol 4 mostram toda a potência: o som é claro, extremamente volumoso para um smartphone e não distorce facilmente. O mesmo vale para os fones de ouvido da JBL, que encaixam bem nos ouvidos, têm médios mais claros e estão bem acima dos acessórios descartáveis de concorrentes. Ele tem, sem dúvida, o melhor áudio de smartphone que eu já ouvi, e pode até dispensar uma caixa de som externa em determinadas ocasiões.

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Mas se o som do Idol 4 impressiona ao assistir às séries favoritas, a tela é apenas ok. O painel IPS LCD de 5,2 polegadas (1920×1080 pixels) tem boa saturação, brilho razoável e um contraste medíocre, sem muita profundidade de preto para um smartphone dessa categoria. A qualidade nada impressionante na tela do Idol 4 também impacta negativamente na experiência de realidade virtual, que detalharei adiante.

Software

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O software da Alcatel não mudou muito desde o Idol 3. Estamos falando de um Android 6.0.1 Marshmallow com poucas modificações na interface, patches de segurança desatualizados (junho de 2016) e uma série de recursos embutidos e aplicativos pré-instalados de utilidade duvidosa, que parecem ter sido colocados sem muito critério — sem contar os softwares que são oferecidos logo no assistente inicial.

A má impressão vem logo na tela de bloqueio, que por padrão mostra um inexplicável atalho para a busca do Yahoo — no entanto, diferente do que acontecia na geração anterior, você pode configurar os atalhos que serão exibidos (reconhecer uma música no Shazam, tirar uma selfie, iniciar o gravador de som ou ligar a lanterna, por exemplo) e até desativá-los, caso prefira.

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O visual segue o Android puro com modificações nos ícones, que ganham contorno quadrado. Além do pacote padrão do Google, o Idol 4 traz uma penca de joguinhos de demonstração (A Era do Gelo: As Aventuras de Scrat, Asphalt Nitro, Asphalt O, Homem-Aranha: Ultimate Power, Kingdoms & Lords e Midnight Pool) e aplicativos como gerenciador de arquivos, bússola, gravador de som, Fyuse (fotografia), Shazam (reconhecimento de música), WPS Office (suíte de escritório) e Xender File Transfer.

Realidade virtual

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A Alcatel gosta de incluir acessórios na caixa de seus smartphones para agregar valor. No caso do Idol 4, além do celular, há uma película para proteger a tela, um fone de ouvido de boa qualidade, um cartão de memória de 32 GB e… um headset de realidade virtual. O acessório traz controles capacitivos na parte inferior e acompanha uma tira elástica que encaixa confortavelmente na cabeça.

O problema é que a experiência de realidade virtual do Idol 4 não é boa o suficiente para que você realmente se divirta com algum jogo — embora, nos primeiros minutos, ele talvez seja legal, principalmente para quem nunca experimentou a tecnologia antes.

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A definição de 424 pixels por polegada deixa a imagem pixelada nos olhos, prejudicando até mesmo a leitura de textos da interface simplória de realidade virtual da Alcatel. Além disso, o preto acinzentado não contribui para criar uma experiência imersiva, a taxa de frames se mostra baixa a ponto de criar rastros indesejáveis ao brincar com games em VR, e o campo de visão é restrito, deixando as “sombras” do contorno dos olhos visíveis a todo momento.

Eu gostei da iniciativa da Alcatel em tentar popularizar a realidade virtual, mas a tecnologia ainda não está pronta para chegar a smartphones menos caros — nem mesmo no Galaxy S7 e Gear VR eu diria que a experiência é realmente boa, mas pelo menos é aceitável. Os óculos de realidade virtual da Alcatel, embora apresentem bom acabamento e qualidade, não diferem muito da experiência que você teria com acessórios como Cardboard e VR Box, mais acessíveis.

Câmera

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Sensor de 13 megapixels, lente com abertura f/2,0, flash duplo e foco automático com detecção de fase. Na teoria, dentro da média. Na prática, um pouco decepcionante.

O Idol 4 sofre bastante em condições de baixa iluminação, aumentando o ruído nas imagens e mantendo um nível de detalhes abaixo do que esperamos de um smartphone intermediário, principalmente depois do Moto G4 Plus, que subiu o nível das câmeras da categoria.

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Com boa iluminação, o Idol 4 faz um trabalho razoável, apresentando um alcance dinâmico apenas aceitável. Mesmo quando o sol não está tão forte, as áreas de sombra ficam mais escuras do que deveriam, e os pontos de iluminação estouram. O HDR poderia ser uma solução para a deficiência do sensor, mas exige que o usuário segure o aparelho firmemente por alguns segundos e demora para processar a foto. Também há presença de aberrações cromáticas em regiões de contraste.

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Não é uma câmera tão ruim quanto a de smartphones mais básicos, abaixo dos 700 reais, mas só vai agradar a usuários que não se importam muito com a qualidade de fotografia.

Hardware e bateria

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A Alcatel colocou um hardware comum para a faixa de preço. O processador é um octa-core Snapdragon 617, mesmo que equipa o Moto G4 Plus. A RAM de 3 GB agrada, mas o espaço de apenas 16 GB decepciona.

A boa notícia é que a Alcatel envia dentro do aparelho um microSD de 32 GB de boa qualidade (UHS 1) para que você consiga utilizá-lo como extensão da memória interna no Marshmallow. Não é a mesma coisa que ter um armazenamento interno generoso, mas funciona bem; não enfrentei nenhuma lentidão mesmo em sessões mais intensas.

O que me preocupou é que o Idol 4 esquenta bastante. Temperatura é um ponto que sempre passa batido nos reviews, mas é porque a maioria dos smartphones fica dentro do esperado, esquentando apenas em tarefas mais pesadas. No caso do Alcatel, foram raras as vezes em que peguei o smartphone e ele estava frio, mesmo com uso leve. O design fino e a traseira de vidro devem colaborar para concentrar o calor nas mãos.

O desempenho é o mesmo que você já conhece de outros smartphones com Snapdragon 61x: ele dá conta da maioria das tarefas com um pé nas costas. A GPU Adreno 405 não faz feio nos jogos, sofrendo um pouco com a taxa de quadros apenas em títulos mais pesados, com a qualidade gráfica no máximo; a temperatura mais alta não parece ter impactado negativamente na performance do processador. É um hardware que deve aguentar o Android e seus aplicativos por um bom tempo.

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Vale mencionar que, diferente do que a maioria das fabricantes está fazendo, colocando entrada para dois chips de operadoras em smartphones de categorias mais baixas, a Alcatel optou por trazer o Idol 4 apenas na versão single SIM. Pode ser um entrave para quem utiliza o mesmo smartphone para assuntos pessoais e de trabalho, por exemplo. Outra característica que está em praticamente todos os concorrentes, mas ficou de fora no Idol 4, é o sensor de impressões digitais.

A bateria de 2.610 mAh foi um ponto de decepção do Idol 4. Em números, a capacidade não enche os olhos. Na prática, ele também fica longe de surpreender. No meu dia de testes, tirei o smartphone da tomada às 9h, escutei 2h de música por streaming no 4G e naveguei na web por 1h30min, também pela rede móvel. A tela ficou ligada por 1h43min, com brilho no automático. Às 22h20, a carga chegou a apenas 17%. Nas mesmas condições, o Moto G4 Plus, que não traz uma bateria tão maior (3.000 mAh), chega a algo em torno de 35% a 40%.

Conclusão

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O smartphone da Alcatel tenta, tenta muito, mas não consegue se destacar em meio à multidão. Ele não é terrível em nenhum aspecto, mas também não traz nenhum diferencial realmente importante. Embora os alto-falantes tenham qualidade impressionante e os óculos de realidade virtual possam chamar a atenção de algumas pessoas, o Idol 4 tem dificuldade para competir com seus pares.

As principais deficiências do Idol 4 ficam por conta da câmera, que fica aquém do esperado para um intermediário de 2016; da tela, que poderia ser bem melhor, especialmente em comparação com o AMOLED do Galaxy A5 (2016); e da bateria, que poderia ter capacidade maior. Fica difícil entender a obsessão por um smartphone tão fino, enquanto os concorrentes seguiram pelo caminho contrário, com baterias de 3.000 ou até 3.300 mAh.

Quando o Idol 4 foi anunciado no Brasil, em agosto, ele tinha um posicionamento de preço até interessante, por trazer mais RAM que os concorrentes (3 GB, contra 2 GB da maioria dos rivais) e o mimo dos óculos de realidade virtual sem cobrar muito caro. Mas acabou sendo ofuscado pela redução de preço dos concorrentes, notavelmente o Moto G4 Plus, e pelo lançamento de smartphones bem superiores na faixa de preço imediatamente acima, como o Zenfone 3.

Ainda assim, é importante lembrar que o Idol 3 ficou marcado por belas promoções no varejo nos meses seguintes ao lançamento, que o colocavam na mesma faixa de preço de smartphones de entrada, bem inferiores. O Idol 4, lançado com preço sugerido de R$ 1.699, já pode ser encontrado por cerca de 1,2 mil reais. Se cair mais ainda, pode ser uma compra a se considerar — desde que você tenha em mente as limitações dele.

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.610 mAh;
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 8 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, Bluetooth 4.2, USB 2.0, rádio FM, NFC;
  • Dimensões: 147 x 72,5 x 7,1 mm;
  • GPU: Adreno 405;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 256 GB (32 GB incluso);
  • Memória interna: 16 GB;
  • Memória RAM: 3 GB;
  • Peso: 135 gramas;
  • Plataforma: Android 6.0.1 Marshmallow;
  • Processador: octa-core Snapdragon 617 de 1,7 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, giroscópio, bússola;
  • Tela: IPS LCD de 5,2 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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