Lumia 635 oferece 4G sem cobrar muito
Por pouco mais de 500 reais, Lumia 635 tem poderes de conexão rápida e desempenho convincente
Por pouco mais de 500 reais, Lumia 635 tem poderes de conexão rápida e desempenho convincente
O 4G ainda está engatinhando no Brasil, mas as grandes cidades já possuem uma cobertura razoável e as operadoras estão começando a liberar a nova conexão para mais clientes, inclusive para as linhas pré-pagas, que representam 77% dos usuários. Smartphones acessíveis que suportam a tecnologia ainda são raros, mas a Microsoft está fazendo a parte dela com o Lumia 635.
O Lumia 635 é um Windows Phone que custa cerca de 550 reais e está sendo vendido pelas quatro grandes operadoras. O número do modelo não engana: ele é apenas uma pequena variação do Lumia 630, com o diferencial de suportar o nosso 4G, mas levar embora a TV digital e os slots para dois chips. Será que compensa?
O design do Lumia 635 é exatamente o mesmo do Lumia 630, então ele traz os mesmos pontos fortes e fracos. Com tela de 4,5 polegadas e uma largura de 66,7 mm, o Lumia 635 deverá ser confortável de segurar para a maioria das pessoas — é possível alcançar os cantos sem muita dificuldade.
A tampa de policarbonato com acabamento fosco, bem encaixada ao aparelho, passa uma boa impressão de resistência, típica dos aparelhos da Microsoft. Eu só senti falta do botão dedicado para a câmera, que facilita a tarefa de tirar fotos principalmente quando a tela está bloqueada. Se o botão existia no Lumia 520 e 620, por que ele sumiu em um aparelho da geração seguinte? Não faz sentido.
Os botões laterais, para controlar o volume e ligar/desligar a tela, possuem um acabamento em preto brilhante, o que é uma faca de dois gumes. Por um lado, é bonito porque contrasta com o acabamento fosco do restante do aparelho. Por outro, é ruim pelo fato de riscar com facilidade — com duas semanas de uso, notei alguns micro-riscos nos botões, mesmo tomando bastante cuidado.
Não há botões físicos para voltar, acessar a tela inicial ou pesquisar; eles aparecem no próprio display. “Mas isso não reduz a área útil da tela?”, pergunta o leitor mais atento. Na verdade, não. Antes, tínhamos Windows Phones básicos com telas de 800×480 pixels; a do Lumia 635 tem 854×480 pixels. E a barra de botões virtuais tem exatamente 54 pixels de altura. Então, em vez de roubar espaço dos aplicativos, a Microsoft simplesmente “esticou a tela” para colocar os botões.
Falando em tela, a do Lumia 635 é razoável. Com definição de 218 pixels por polegada, é possível distinguir pixels individuais sem dificuldade, e textos com fontes menores parecem embaçados. O nível dos pretos é apenas ok, o que causa desconforto em pessoas mais atentas, principalmente ao olhar a barra de botões virtuais, que exibe um fundo meio acinzentado, comum em telas de baixo custo. Ao menos a saturação e o brilho agradam.
É bem verdade que a Microsoft poderia ter caprichado um pouco mais na tela do Lumia 635. De qualquer forma, é difícil encontrar displays muito melhores que isso na mesma faixa de preço. Eu diria que o visor do Lumia 635 é pouca coisa pior que o do Moto E, que é vendido por um preço ligeiramente mais baixo e traz uma resolução maior, de 960×540 pixels, em um painel de 4,3 polegadas.
O Lumia 635 vem de fábrica com o Windows Phone 8.1 e me agradou bastante. Para quem vem de outras plataformas, a central de notificações é uma grata adição. Finalmente, há um espaço único que registra os alertas de todos os aplicativos instalados. Os atalhos para as configurações rápidas de Wi-Fi, Bluetooth, brilho e outros recursos ao gosto do freguês é uma mão na roda para o usuário.
Qual a necessidade disso?
O aparelho não está sendo vendido no varejo, e o modelo que testei era específico da Claro, o que traz um pequeno incômodo. Queridas operadoras, é realmente necessário colocar um papel de parede com o logotipo da operadora — que serve apenas para fazer o usuário trocá-lo? E qual a função desse aplicativo “Ideias”, que nada mais é do que uma tela com três links para abrir páginas de utilidade duvidosa no navegador?
O grande mérito do Windows Phone é que é possível desinstalar com dois toques esse e outros crapwares sem deixar rastros no sistema — eles até voltam quando você restaura as configurações de fábrica, mas, de qualquer forma, não é algo que fazemos toda semana.
Mas nem todos os aplicativos adicionais pré-instalados no Windows Phone são inúteis, claro. Méritos para a Nokia, que desenvolveu um serviço de mapas muito bom: o HERE Maps, além de ser eficiente, permite armazenar mapas offline, útil para quando a conexão não estiver colaborando. E o Nokia MixRadio, embora tenha um futuro incerto dentro da Microsoft, é um serviço gratuito de streaming muito bacana, que toca músicas de acordo com o seu gosto musical.
Infelizmente, não há suporte a TV digital no Lumia 635. Para alguns, ter a possibilidade de assistir à TV no smartphone é um recurso imprescindível. Para outros, é algo totalmente dispensável. O fato é que a Microsoft perdeu a oportunidade de produzir um aparelho mais atraente para todos os públicos.
Um dos principais componentes afetados no barateamento de custos de um smartphone é a câmera. Mas até que a do Lumia 635 se sai bem. Apesar de não ter flash, o que praticamente anula a possibilidade de tirar fotos em ambientes mais escuros (e de usar o aparelho como lanterna), as imagens capturadas pelo aparelho são satisfatórias em ambientes iluminados, exibindo cores vivas e um nível de ruído sob controle.
Continua sendo uma câmera de baixo custo, mas se sai bem.
O software tem um papel importante na câmera. É que o Lumia 635, assim como os outros Lumias, vem com o Nokia Camera, que permite ajustar a velocidade do obturador, o ISO e a compensação de exposição. Quem conhece um pouco de fotografia pode conseguir imagens melhores e mais criativas, portanto. Claro que, para quem não entende e nem quer entender esses detalhes, basta deixar tudo no automático, tocar no botão de tirar foto e deixar que o aplicativo faça o resto.
Só que ainda estamos falando de uma câmera bem simples, com sensor minúsculo de 1/4 polegada e lente com abertura f/2,4. Isso significa que o software precisa fazer um tratamento automático para eliminar o ruído em ambientes mais desafiadores, o que também prejudica o nível de detalhes das fotos. O tempo de exposição não raramente é mais longo, resultando em fotos tremidas.
Mas, de novo: a câmera de 5 megapixels do Lumia 635 se sai bem para um aparelho dessa faixa de preço.
Claro que não dá para deixar de falar da ausência da câmera frontal no Lumia 635. Eu confesso que nem lembro qual foi a última vez que usei a câmera frontal do meu smartphone, e é provável que esse componente fosse bem simples em um aparelho acessível como o Lumia 635. No entanto, assim como no caso da TV digital, a Microsoft perdeu a oportunidade de fazer um aparelho mais atraente — quando até a minha mãe pergunta se um aparelho “faz selfies”, é porque a demanda está forte.
O Lumia 635 tem um Snapdragon 400 com processador quad-core de 1,2 GHz trabalhando em conjunto com 512 MB de RAM. Com a fluidez notável do Windows Phone, o desempenho é muito bom. As transições de tela são suaves e a abertura de aplicativos é rápida o suficiente para não causar incômodo. Quase todos os jogos para a plataforma deverão rodar muito bem na GPU Adreno 305. A Microsoft também foi generosa no armazenamento, de 8 GB, que permite expansão com um microSD.
A conexão 4G, talvez o principal argumento de venda do Lumia 635, funciona muito bem. Em São Paulo, na rede da Claro, consegui médias de 25 Mb/s de download e 10 Mb/s de upload. Além das velocidades maiores, é válido destacar que o 4G também costuma oferecer latência menor que o 3G — portanto, até aplicativos que aparentemente não exigem conexões velozes, como o Twitter, ficam significativamente mais rápidos.
A bateria de 1.830 mAh do Lumia 635, embora não tenha um número que encha os olhos, dá conta do recado. Em um dia de uso típico, tirei o aparelho da tomada às 10h, ouvi músicas por streaming no 4G durante duas horas, fiz tarefas leves (redes sociais e navegação) por uma hora e tirei cerca de dez fotos de teste. O brilho ficou sempre no médio. Nesse cenário, o nível de bateria chegou a 20% às 23h.
Para boa parte dos usuários, a bateria do Lumia 635 chegará até o fim do dia com carga.
Vale a pena comprar um Lumia 635? Pela primeira vez, a conclusão de um review meu será: depende de onde você mora.
As operadoras já instalaram suas redes 4G nas grandes cidades. Pela minha experiência, em São Paulo, a Claro oferece uma cobertura bastante satisfatória, inclusive em regiões mais periféricas da cidade. O mesmo cenário deverá ocorrer em outras grandes capitais, com as quatro grandes operadoras.
Portanto, se você vive em um local com cobertura 4G e quer comprar um aparelho que suporte a conexão mais rápida sem gastar muito dinheiro, o Lumia 635 é uma aposta certeira. A recepção de sinal é boa, o desempenho é convincente e a câmera quebra o galho. Embora haja ausências notáveis, como a TV digital e a câmera frontal, a Microsoft conseguiu fazer um smartphone equilibrado.
Boa compra, dependendo de onde você mora.
Enquanto escrevo este parágrafo, o Lumia 635 é vendido no pré-pago por R$ 599 pela Claro, R$ 579 pela Vivo e R$ 529 pela TIM. Quem assina um plano pós-pago, para conseguir franquia maior no 4G, consegue bons descontos — em um plano típico de R$ 149 por mês, já é possível encontrar o smartphone por R$ 79. É um preço bom para um aparelho com 4G, uma funcionalidade que está chegando apenas agora aos aparelhos mais acessíveis.
Agora, se você mora em cidades menores, sem sinal de 4G, é improvável que a compra do Lumia 635 seja vantajosa. Há opções melhores, como o Lumia 630, da própria Microsoft — ele foi criticado no lançamento por ser muito caro para o que oferecia, mas já reduziu drasticamente de preço e frequentemente entra em promoções, o que melhorou muito o custo-benefício.