Motorola One Macro: miopia, astigmatismo e boa autonomia

A bateria do Motorola One Macro chamou atenção, mas não consegue ofuscar os problemas de visão da própria câmera

André Fogaça
Por
• Atualizado há 10 meses
motorola one macro abre

Já deu o prazo de vida de uma semana e a Motorola tem mais um smartphone da linha Motorola One. Ele é o Motorola One Macro e que tem como principal recurso uma lente que faz fotos em modo macro.

Além do novo recurso fotográfico, este celular troca o processador Snapdragon por um Mediatek, tem tela apenas HD de 6,2 polegadas e segue na vida sem o Android One, caminho que foi iniciado na família com o Motorola One Zoom e que tem seus pontos positivos e também negativos. Me acompanha nos próximos parágrafos que eu te explico se vale a pena colocar seu rico dinheirinho neste aparelho, com microscópio em uma lente separada do corpo ou não.

Análise do Motorola One Macro em vídeo

Design

Se o Motorola One Zoom mudou o visual das câmeras traseiras para algo mais centralizado no corpo do aparelho, o Macro volta com o semáforo que nasceu no primeiro modelo que inaugurou esta família de smartphones. A maior mudança fica em uma lente de maior tamanho e que claramente quer chamar atenção para o recurso de fotografia com o objeto bem próximo.

motorola one macro pegada

O acabamento e pegada seguem exatamente o que já falamos sobre os Motorola One Vision e Action, que não falham na tarefa de ficar na mão com segurança e com beleza bastante acentuada na cor escolhida. A comparação continua com o leitor de impressões digitais, que deixa de estar dentro da tela para voltar a morar perto das câmeras – posição que eu sempre prefiro, por ser mais ergonômica, precisa e veloz.

motorola one macro usb c

O One Macro segue o correto para modelos lançados nos finalmentes de 2019 e coloca porta USB-C, além de inovar ao ainda permitir a vida confortável de um plugue de fones de ouvido. Quem diria que ter entrada pra fone de ouvido viraria ponto positivo né? Porém, por outro lado, a bandeja para o SIM card é híbrida e isso significa que você precisa escolher entre ter duas linhas ou expandir o espaço interno com um microSD. Por aqui você não pode ter as duas coisas ao mesmo tempo.

motorola one macro sim card

Fechando a parte de design, eu gostei muito deste degradê que parte de um azul escuro e vai pro preto na parte de cima. Junto da extinção daquela ideia doida de deixar o logo da fabricante iluminado. Nem mesmo a Apple usa mais isso em seus Macbooks.

motorola one macro costas top

Tela

A tela é um IPS LCD de 6,2 polegadas, com resolução HD+ e que tem notch em formato de gota na parte superior. A borda inferior é bem grande, mas isso é um detalhe bobo e de simetria, já que parece que o display está mais pra cima do que pra baixo, fora do centro. É coisa de TOC mesmo.

motorola one macro tela

Assim como literalmente todo smartphone intermediário que foi lançado em 2019 no Brasil, o ângulo de visão do One Macro é generoso e aberrações cromáticas são raríssimas, mesmo quando o aparelho está em um ângulo bastante assim, de lado.

Hardware e desempenho

Por dentro há um processador Mediatek Helio P70, que marca a estreia da fabricante taiwanesa no chip de um Motorola One. Eu li o nome do processador com certo preconceito por dois motivos: os Mediateks são conhecidos por gostarem muito da energia da bateria e também por alguma incompatibilidade com apps e jogos. Vou te dizer que mordi a língua e só sofri com um jogo, só um, mais nada e a sorte é que ele não é Candy Crush, Fortnite, Free Fire e nem PUBG.

O One Macro trabalha com oito núcleos, sendo dois dele em Cortex A73 pra desempenho e seis A53 pra economizar energia, rodando até 2 GHz em qualquer um deles. O desempenho é o que eu já vi em outros modelos Motorola One recentes e que utilizam processador Snapdragon. Nada, absolutamente nada travou ou engasgou durante as semanas que passei com este celular no bolso.

motorola one macro benchmark

Certamente ter 4 GB de RAM ajuda muito nisso, que com o conjunto de 64 GB de memória interna, dá a sensação de que você pode ficar com este smartphone por dois ou três anos sem encontrar momentos de tristeza ao ver o Facebook levar alguns segundos pra abrir.

Agora a parte de apps e compatibilidade: tudo que precisei para viver funcionou, seja app pra corrida tipo Uber, Cabify e 99, podcasts no Pocket Casts e Google Podcasts, redes sociais em Instagram, Facebook, Twitter, mas sem Snapchat que serve só pra colocar filtros legais em outras redes sociais, e-mail, navegador do Chrome; nada deu problema. Tudo rodou e instalou, seja Netflix, Prime Video, Telegram, WhatsApp; tudo.

Só um jogo não rolou e foi Asphalt 9. Ele sequer aparece na lista de resultados da busca que você faz na Play Store. Aparecem outros títulos da série Asphalt, mas não o mais recente. Pra seguir com os testes de desempenho, coloquei o antigo e pesado Breakneck, junto do popular e também pesado Call of Duty Mobile e uns dois mais leves, com Mario Kart e Mario RUN.

Tudo rodou liso e sem travar. Até Breakneck mostrou animações com taxa de quadros por segundo elevada, situação que se repetiu em Call of Duty Mobile e que certamente vai agradar os amantes deste jogo nos celulares, como eu. O desempenho aqui foi com gráficos entre médio e alto, algo que deve seguir ao menos por um ano sem modificações.

Se os pesados foram numa boa, os mais leves tiraram de letra. Super Mario RUN rodou como uma luva e o mesmo aconteceu com Mario Kart.

Software

motorola one macro inicial

Assim como no Motorola One Zoom, o One Macro também abre mão do Android One. Ele vem com basicamente a mesma solução que está nos Moto G e isso significa Android que quer ser puro, mas não é tão puro assim e utiliza poucas alterações, além de pouquíssimos apps pré-instalados. O que me chamou atenção é que no One Macro a opção de tema escuro existe, mas o sistema operacional praticamente ignora isso.

Eu coloquei as cores pra tons mais escuros logo que peguei o celular e ele não aplica em quase nada, seja em aplicativo que segue a orientação dos ajustes ou no próprio sistema, que continua tudo claro. Eu bem imagino que isso pode ser apenas um erro de software que pode ser corrigido, mas conhecendo a Motorola eu prefiro deixar tudo no mundo do mundo do “pode ser”.

motorola one macro noturno

De fábrica os únicos aplicativos que não são de um Android puro ficam no repositório App Box, rádio FM, app Moto e no app de câmera. De resto é só o que o Google oferece. Ah, mesmo com o Android 10 já disponível pra todo mundo desde setembro deste ano, o One Macro ainda roda o Android 9 Pie e será atualizado apenas por um ano, indo até o Android 10 e com apenas dois anos de correções de segurança. Com o Android 10 o problema de tema escuro que é ignorado deve ser solucionado.

Câmera

Assim como já aconteceu com os três últimos Motorola One, a câmera é o ponto principal e a maior mudança entre cada um deles. No One Macro o foco é esse mesmo que você já pensou: fotos próximas e com muita informação, só que tem um detalhe crucial: pouco detalhe em uma resolução que me lembra estar em 2007.

O sensor principal é de 13 megapixels e não está nem perto do que consegue o que equipa o Motorola One Vision, com 48 megapixels. Não é que ele seja ruim, é apenas OK para a categoria de intermediário e faz boas fotos quando as condições de luz são favoráveis.

Granulado não é raro de aparecer, isso certamente tem ligação com a lente escura e que trabalha em f/2.0, valor que perde até mesmo para outros aparelhos da mesma linha Motorola One. O One Vision, que é o que mais surpreende em fotos, tem abertura de f/1.7 e ainda utiliza a resolução de 48 megapixels pra trabalhar em conjuntos de quatro pixels, pra deixar entrar ainda mais luz. Entendeu?

Isso corrobora com o “OK” que disse. O One Macro não chama atenção, não surpreende e nem tem nada de especial na câmera. Como ele custa perto de seus concorrentes até internos, que fazem fotos muito melhores, ele acaba ficando com OK pra ruim. Só que tem outro ponto que deixa esse ruim como predominante: foco.

Cadê o foco?
Astigmatismo agora

Não foi nada raro encontrar momentos onde a câmera simplesmente não focou onde deveria. Seja pelo foco automático que é feito por detecção de fase e laser, ou então pelo toque na tela pra ajustar o foco de modo manual. Em mais ou menos metade de todas as fotos que fiz com este modelo, a foto ficou com foco errado. Fechando esse pacote de erro, em vários momentos eu toquei pra focar, o celular entendeu onde era pra ser focado e quando toquei no botão do obturador, coisa de meio segundo depois, o foco foi refeito de modo forçado e ficou perdido.

Ok, a câmera principal é ruim, problemática e isso então nos coloca na macro, que faz fotos de 2 megapixels. Ela é boa, não entenda mal. Faz imagens realmente próximas, com detalhes que saltam aos olhos, mas que poderiam ter mais resolução. Ter 2 megapixels é o mínimo do mínimo para qualquer coisa. A falta de informação fica evidente quando a foto aparece grande na tela.

A lente é mais escura, em f/2.2, mas fez bem o trabalho de deixar entrar luz. Ah, sabe o problema do foco? Então, aqui ele não me deu a dor de cabeça nas fotos, mas em vídeos no modo macro ele balança mais do que alguém dançando no carnaval do Brasil.

É um vai e vem frenético que dá nervoso de ver e tudo é feito sozinho, automático, sem nenhuma interferência do usuário.

Bateria

Bom, deixando de lado a parte da câmera, encontrei uma surpresa muito boa no Motorola One Macro e que está na bateria. Como disse antes, os Mediatek não são os melhores processadores pra quem busca autonomia, mas neste caso aqui eu consegui passar literalmente o dia inteiro com apenas uma carga. Isso considerando um uso de duas horas de podcast, navegação via 4G com Wi-Fi ligado o tempo todo, junto de Bluetooth que alimenta um smartwatch e uma meia hora de jogo, que foi no Mario Kart. No fim do dia eu ainda tinha 50% de carga.

No meu uso correto, que não simula alguém que está na rua e usando o aparelho o tempo todo, passei dois dias com uma só carga. Se pela autonomia ele surpreende, na hora de carregar não. Apenas 10 watts entram e isso faz a recarga ser lenta e dolorosa – levando mais tempo do que o Motorola One Action, que recebe 15 watts.

Conclusão

O Motorola One Macro parece que faz questão de deixar claro que a Motorola tá perdendo a mão na qualidade que surpreendeu com o Motorola One Vision, mas que foi escorregando aqui e ali. O One Macro é o segundo sem o Android One e entrega câmera bem OK na qualidade de imagem, mas com sérios problemas de miopia. A parte de macro é interessante apenas em fotos, já que pra vídeos ela tem astigmatismo.

motorola one macro fim

A autonomia chamou atenção, mas não consegue ofuscar os problemas de visão da própria câmera – que é o carro chefe dos recentes lançamentos da marca e justamente o que difere um modelo de outro. Talvez se a Motorola pensasse em lançar menos aparelhos em tão curto espaço de tempo, e focasse em ótimos recursos, como marcou o começo da linha One, o One Macro sairia do forno sem precisar de óculos.

A não ser que você faça questão de uma câmera macro e não quer se arriscar em uma importação de smartphone chinês que também faz isso, o Motorola One Macro não é uma boa pedida. Se fosse a minha compra, eu iria de One Vision ou One Zoom, mas não de One Macro e isso nem leva em conta o preço de lançamento marcado em R$ 1.399 que não é ruim, mas a câmera estragou tudo.

Especificações técnicas

  • Tela: LCD de 6,2 polegadas, HD+ (720 x 1520), 270 ppi, notch em forma de V, aproveitamento de 82%
  • Processador: MediaTek Helio P70 (4x Cortex A73 a 2,0 GHz + 4x Cortex A53 a 2,0 GHz), chip gráfico ARM Mali-G72 MP3 de 900 MHz
  • RAM: 4 GB
  • Armazenamento: 64 GB, expansível por microSD de até 512 GB (bandeja híbrida)
  • Câmera traseira tripla:
    • principal: 13 megapixels, f/2,0, 1,12 µm, autofoco laser
    • profundidade: 2 megapixels, f/2,2, 1,75 µm
    • macro: 2 megapixels, f/2,2, 1,75 µm
  • Câmera frontal: 8 megapixels, abertura f/2,2, pixels de 1,12 µm
  • Bateria: 4.000 mAh, carregamento a 10 W
  • Sistema operacional: Android 9 Pie, atualização garantida para Android 10
  • Mais: USB Type-C, entrada 3,5 mm para fone de ouvido, leitor de digitais na traseira, proteção IPX2 contra água, Wi-Fi 802.11 b/g/n em 2,4 GHz, Bluetooth 4.2, localização (GPS, Galileo, GLONASS), 4G dual-SIM
  • Dimensões: 157,6 x 75,41 x 8,99 mm, 186g

Motorola One Macro

Prós

  • Desempenho consistente
  • Autonomia acima do esperado

Contras

  • Cadê o Android One?
  • As câmeras traseiras precisam de óculos
  • Lente macro faz fotos de baixíssima resolução
Nota Final 8.3
Bateria
9
Câmera
5
Conectividade
9
Desempenho
9
Design
9
Software
8
Tela
9

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André Fogaça

André Fogaça

Ex-autor

André Fogaça é jornalista e escreve sobre tecnologia há mais de uma década. Cobriu grandes eventos nacionais e internacionais neste período, como CES, Computex, MWC e WWDC. Foi autor no Tecnoblog entre 2018 e 2021, e editor do Meio Bit, além de colecionar passagens por outros veículos especializados.

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