Review Multilaser H: uma grata surpresa, mas com ressalvas
Com preço sugerido de R$ 1.399, Multilaser H oferece ótimo hardware, mas tropeça em alguns detalhes
Com preço sugerido de R$ 1.399, Multilaser H oferece ótimo hardware, mas tropeça em alguns detalhes
A essa altura do ano, parecia que todos os smartphones que eram para ser lançados em 2019 já haviam sido anunciados. Mas eis que a Multilaser apareceu com uma novidade que chamou atenção logo de cara: o Multilaser H, celular que traz chip Snapdragon 710, 6 GB de RAM, 128 GB de armazenamento e câmera traseira tripla.
O modelo foi lançado no finzinho de novembro com preço oficial de R$ 1.399, nos dias atuais, um valor bastante competitivo para essa configuração. Então surge a dúvida: será que existe alguma pegadinha aí ou o aparelho realmente cumpre o seu dever?
Usei o Multilaser H por alguns dias como o meu celular principal. As minhas impressões sobre ele você confere nos próximos parágrafos.
No visual, o Multilaser H segue a moda: a frente traz uma tela com notch em forma de gota e, na traseira, as câmeras estão alinhadas em um “semáforo” no canto superior esquerdo, com o leitor de impressões digitais aparecendo logo ao lado — ele não é dos mais rápidos, mas funciona bem.
Os botões de volume e liga / desliga ficam no lado direito, enquanto a porta USB-C e a conexão para fones de ouvido ficam posicionadas na parte inferior, junto ao alto-falante externo.
Já a gaveta fica isolada na lateral esquerda. Que fique claro que ela é híbrida: ou você instala dois SIM cards ou um SIM card mais um microSD de até 256 GB.
Quando você pega o Multilaser H pela primeira vez, tem sensação de que o aparelho capricha na robustez. Mas não é bem assim: enquanto a moldura é feita de um plástico firme, a traseira não passa de uma fina camada plástica que, como tal, aparenta ser bastante suscetível a riscos.
A boa notícia é que o produto vem com uma capinha de silicone semitransparente. Outro complemento relevante que a Multilaser adicionou à embalagem é uma película rígida para a tela. Falando nisso, vamos a ela.
A tela figura fácil como a característica mais notável do Multilaser H. O painel é do tipo IPS LCD, tem 6,3 polegadas, resolução full HD e formato 19,5:9.
O aproveitamento do espaço frontal é decente aqui, apesar de sobrar um pouquinho de espaço na margem inferior. Além disso, o brilho máximo é forte, garantindo boa visualização da tela mesmo em ambientes muito claros. Por sua vez, o ajuste automático (que não vem ativado por padrão) é um tanto lento, mas quase sempre nivela o brilho na medida certa.
Gostei da saturação do display. Guardadas as limitações típicas dos painéis LCD — o preto não é profundo, por exemplo —, as cores são exibidas com bastante intensidade, mas sem passar do ponto. A visualização sob ângulos variados está dentro do aceitável.
De modo geral, a experiência com vídeos, fotos e jogos é bastante positiva aqui. Só o brilho automático é que deixa um pouco a desejar.
Se você acha que o Multilaser H é lotado de bloatwares, achou errado. O smartphone vem com o Android 9.0 Pie acompanhado de uma interface praticamente sem modificações e poucos aplicativos pré-instalados.
Via de regra, os fabricantes incluem no aparelho os apps do Google e algumas ferramentas populares, como Facebook, Twitter e WhatsApp. Aqui, nem isso: o Multilaser H vem apenas com os serviços do Google (afinal, eles fazem parte do acordo de licenciament do Android) e alguns softwares básicos, como calculadora, gravador de voz e rádio FM.
O resto precisa ser instalado pelo usuário. Gostei disso. Prefiro escolher o que instalar do que perder algum tempo removendo aquilo que não me interessa.
Para não dizer que não existe nenhuma perfumaria aqui, o smartphone vem com um aplicativo da loja online da Multilaser. Nada mais.
Só que essa simplificação tem uma consequência: o app de câmera é fraquinho. Você já vai descobrir o porquê.
O trio de câmeras traseiras do Multilaser H é composto por um sensor de 16 megapixels (principal), outro de 8 megapixels (com zoom óptico de 2x) e o terceiro com 5 megapixels (profundidade para fundo desfocado).
Olha, eu apanhei um pouco para entender o funcionamento desses sensores. Como adiantei no tópico anterior, o aplicativo nativo de câmera é exageradamente simples, parece algo de 2012 ou 2013. Para você ter ideia, demorei para descobrir que a câmera com zoom só entra em ação quando você dá zoom com aproximação superior a 2x.
Ficou faltando um atalho para o modo de zoom aqui. Para piorar, a Multilaser não informa em nenhum lugar como essa câmera deve ser ativada. Você ainda precisa acessar as configurações do app para deixar a qualidade das imagens em alta e ativar o zoom óptico.
Felizmente, os resultados deixam a situação mais confortável. As câmeras do Multilaser H não são as melhores para a categoria do aparelho, mas conseguem registrar fotos decentes.
As fotos da câmera principal apresentam coloração realista, baixo nível de ruídos e boa definição, embora áreas mais escuras possam perder detalhamento. Quando as condições de iluminação são baixas, a definição cai bastante, mas com algum esforço é possível fazer fotos aceitáveis.
Já a câmera de profundidade consegue ser bastante precisa para as tomadas com fundo desfocado.
Os registros feitos com zoom também convencem, mas, nesse modo, é muito mais fácil registrar imagens com problemas de definição. Não é tanto por limitações do sensor, mas pela falta de estabilidade: o Multilaser H tem um tempo de disparo relativamente alto, o que implica em mais facilidade para borrar as imagens, especialmente com o zoom ativado.
Na frente, o Multilaser H traz sensor de 16 megapixels. Dá para fazer selfies interessantes com ele, mas não perfeitas. O plano de fundo pode ficar estourado com alguma facilidade, por exemplo; já o efeito bokeh, aplicado por software, pode apresentar falhas pontuais no desfoque.
Processador octa-core Snapdragon 710 de 2,2 GHz, GPU Adreno 616, 6 GB e 128 GB de armazenamento interno. Com essa configuração, o Multilaser H é capaz de encher os olhos de quem procura um intermediário de respeito.
Aplicativos muito comuns, como Chrome, YouTube, Facebook, Instagram, Spotify e Waze, rodaram com tranquilidade no dispositivo. Deu para alternar rapidamente entre eles por conta da quantidade generosa de RAM. Além disso, não notei demora na abertura de aplicativos ou fechamentos inesperados.
Agora, ao rodar jogos pesados, a situação ficou um pouco estranha. Breakneck não apresentou gargalos, nem com as configurações gráficas mais avançadas. Já Asphalt 9: Legends dava pequenas travadinhas mesmo com os gráficos em nível médio e, quando aumentei para o nível máximo, vi o jogo fechar sozinho duas vezes.
Tentei rodar Need for Speed: No Limits várias vezes, inclusive em redes diferentes, mas o jogo sequer abriu. Estranho. Na sequência, instalei Unkilled. Alívio! Esse rodou. É verdade que com queda na taxa de frames nas cenas mais movimentadas, mas muito discreta. Digo exatamente o mesmo para Real Racing 3.
Cheguei a desconfiar de que os problemas com Need for Speed: No Limits e Asphalt 9 tivessem relação com a memória flash, mas ela apresentou taxas de aproximadamente 280 MB/s na leitura e 185 MB/s na escrita sequencial de dados, números que não são ruins. Presumo, então, que o Multilaser H carece de algum tipo de otimização ou que os problemas foram pontuais.
Da bateria não tive do que reclamar. Com seus 4.000 mAh, ela pode ficar longe da tomada por um dia inteiro com relativa facilidade. Testei o componente com duas horas de vídeo na Netflix (com brilho máximo na tela), uma hora de jogos, uma hora e meia de Chrome e redes sociais, uma hora de Spotify via alto-falante e uma chamada de 10 minutos.
Fiz os testes no decorrer de um dia. Por volta das 22:00, o Multilaser H ainda tinha 56% de carga (comecei com 100%). Já o tempo de recarga de 20% para 100% foi de 2h10min com o carregador de 15 W que acompanha o produto.
O áudio externo até que é legal. O volume máximo é bem alto e sai com clareza na maior parte do tempo. O som pode ficar estridente no último nível, mesmo assim, não chega a desapontar, pelo menos se considerarmos a categoria do dispositivo.
Eu não exagerei quando disse no título que o Multilaser H é uma grata surpresa. Apesar de o Multilaser MS80X ter agradado nos testes do Tecnoblog, eu não esperava que a Multilaser fosse lançar um smartphone com ficha técnica tão ou mais interessante um ano depois.
Mesmo assim, eu não recomendo o Multilaser H para todo mundo que procura um celular intermediário. A falta de capricho com as câmeras faz o aparelho não ser uma boa opção para quem vive postando fotos nas redes sociais, por exemplo — a não ser que você consiga uma experiência melhor com apps de câmera de terceiros.
Além disso, o Multilaser H provavelmente não será uma boa opção para quem joga bastante. Não que o celular não seja bom para jogos, mas eu esperava um pouco mais de consistência com eles.
Em contrapartida, o Multilaser H lidou bem com as demais tarefas. Leve em conta também que a tela do aparelho agrada, a bateria tem bastante autonomia, o espaço para armazenamento interno de dados é generoso (128 GB, relembrando) e o software conquista a simpatia de quem prefere um Android quase puro (a despeito de a versão ainda ser a 9.0).
Por R$ 1.399, o Multilaser H vale a pena, sim, desde que você não tenha um perfil de uso muito avançado. De modo geral, ele me pareceu bem mais equilibrado que o Moto G8 Plus (talvez o seu maior rival) e é capaz de encarar de frente o Samsung Galaxy A50, que é um pouco mais antigo, mas tem preço similar atualmente.
Só que o Multilaser H não vai ter um caminho fácil no mercado, mesmo apresentando mais pontos positivos do que negativos. Isso ficou claro para mim quando notei a grande desconfiança que a marca carrega.
Encontrei gente dizendo coisas como “daqui a três meses ele para de funcionar”. Bom, talvez isso aconteça, talvez não. Sem bola de cristal não dá para saber. O fato é que, durante os testes, o Multilaser H não me pareceu um produto ruim, ainda que ele tenha as suas limitações. Eu não poderia, portanto, desclassificar o modelo apenas porque a marca tem problemas de imagem.
Mas eu posso torcer para que, com o Multilaser H ou não, a companhia consiga ocupar um lugar ao sol no mercado brasileiro de celulares, afinal, como consumidores, só temos a ganhar quando a concorrência fica mais acirrada.