Review Moto G8 Plus: sei lá o que aconteceu
Celular intermediário da Motorola escorrega em detalhes bobos, apesar de parecer bom no papel
Celular intermediário da Motorola escorrega em detalhes bobos, apesar de parecer bom no papel
A linha de celulares mais vendida da Motorola ganhou uma renovação mais cedo. Em oito meses, a empresa foi do Moto G7 Plus para o Moto G8 Plus, colocando mais câmeras, mais bateria, mais tela e renovando o design, abandonando o tradicional calombo “minion” para concentrar as lentes em um semáforo no canto do aparelho. Ele também chega mais em conta que o antecessor, com preço de lançamento de R$ 1.699.
Por esse valor, a Motorola oferece três câmeras para ver no escuro e filmar em ultrawide, um novo processador Qualcomm Snapdragon 665 e uma bateria de respeito com capacidade de 4.000 mAh. Será que vale a pena comprar o novo smartphone intermediário da Motorola? Eu usei o Moto G8 Plus como meu aparelho principal e conto minhas impressões nos próximos minutos.
O Moto G8 Plus é um Moto G, mas se parece mais com os novos celulares da linha Motorola One. A empresa mudou consideravelmente o design do smartphone pela primeira vez desde o Moto G5, eliminando o calombo central das câmeras traseiras. E a versão azul safira, com um degradê que vai do preto para o azul escuro, agrada bastante aos olhos.
A Motorola não inventou moda. O conector de 3,5 mm para fones de ouvido continua aqui, a porta USB-C é usada com o carregador TurboPower de 15 watts que acompanha o produto e o leitor de impressões digitais permanece na traseira — ele é rápido e confiável, diferente de celulares intermediários como o Samsung Galaxy A50, que se mostrou frustrante com o sensor biométrico sob a tela.
A tela de 6,3 polegadas do Moto G8 Plus tem resolução Full HD+ e um notch discreto em formato de gota. Para um painel LCD, a qualidade é apenas satisfatória: o brilho pode desapontar na hora de usar o celular ao ar livre e o nível de preto não é tão profundo, deixando um aspecto acinzentado que fica evidente quando o recurso Moto Tela entra em ação, mostrando as notificações e o relógio em modo de espera.
Não é como se fosse uma tela ruim: os tons não ficam exagerados no modo de cor natural, o ângulo de visão é impecável e a definição não peca em nenhum momento. Mas a tela provavelmente é o menor avanço em relação à geração anterior: as concorrentes já começaram a apostar em telas OLED de qualidade superior na mesma faixa de preço.
O Moto G8 Plus vem de fábrica com o Android 9.0 Pie e todos os recursos da Motorola que os proprietários de Moto G conhecem, como os gestos para ligar a lanterna, abrir o aplicativo de câmera ou tirar um print. Este é um caminho seguro tomado pela Motorola: ele não tem nenhum recurso impressionante, mas em compensação as poucas adições em relação ao Android do Google funcionam bem.
Eu senti que o momento do lançamento do Moto G8 Plus foi um pouco ingrato. A Motorola não promete mais as duas atualizações de Android na linha One, enquanto o Moto G não tem essa garantia pública há anos. Se ele chegasse ao mercado algumas semanas depois, provavelmente viria de fábrica com as novidades de privacidade e usabilidade do Android 10 e ainda receberia o Android 11.
Com esse timing, as esperanças de uma atualização em 2021 ficam bem menores, o que é uma pena para uma empresa que já teve fama de manter seus aparelhos mais atualizados que a concorrência.
As câmeras do Moto G8 Plus são uma espécie de casamento do Motorola One Vision com o Motorola One Action. A câmera de 48 megapixels com visão noturna e lente f/1,7 é a principal, enquanto a ultrawide de 16 megapixels serve como câmera de ação, para filmar na vertical e assistir na horizontal. De bônus, ele tem um sensor de profundidade para o efeito de desfoque de fundo e um foco automático a laser.
Na teoria, ele tinha tudo para ser um campeão em fotografia no segmento intermediário: o Motorola One Vision, por exemplo, foi uma das gratas surpresas de 2019 para mim e mostrou que a marca estava no caminho certo. Só que o Moto G8 Plus me decepcionou profundamente.
Um dos problemas é o foco. Especialmente em ambientes escuros, a câmera do Moto G8 Plus demora para encontrar a distância correta do objeto e, por vezes, tira uma foto sem definição alguma. Isso chega a ser irônico, já que um dos principais chamarizes do aparelho é justamente um laser para auxiliar no foco. Fazia tempo que eu não encontrava esse tipo de defeito em um celular dessa categoria.
Além disso, o pós-processamento da Motorola é um “acerta e erra” constante. Neste ano, a empresa investiu em reconhecimento de objetos para melhorar as cores e o contraste automaticamente, mas com frequência o algoritmo acaba pesando a mão. Tirar uma foto subexposta com o Moto G8 Plus, sem definição nas áreas de sombra e com saturação exagerada, é mais comum do que eu gostaria. E o modo noturno às vezes força demais uma definição que não existe, deixando um aspecto muito artificial.
A Motorola também tomou umas decisões estranhas. A câmera frontal de 25 megapixels tira selfies com boa definição, mas só filma em Full HD, sendo que o Moto G7 Plus gravava em 4K. E a lente ultrawide na traseira só é acessível no modo de filmagem, o que me parece um desperdício de câmeras: seria ótimo poder fotografar com um campo de visão tão amplo.
O desempenho também foi um problema do Moto G8 Plus. Eu presenciei alguns engasgos que não esperava em um celular desse porte e que se tornavam mais frequentes no final do dia. E os jogos ficaram bem aquém do desejado: em Asphalt 9, mesmo com os gráficos no mínimo, foi comum ver travadinhas e partes com taxa de quadros muito baixa, como se a GPU não estivesse dando conta do recado.
Eu não consegui diagnosticar o problema: o processador Snapdragon 665 é bom na teoria, o chip gráfico Adreno 610 não é de se jogar fora e a combinação de 4 GB de RAM com 64 GB de armazenamento é suficiente para a maioria das pessoas. Sabendo do histórico da Motorola, testei a velocidade da memória flash e os números foram bons, com 103 MB/s de leitura e 77 MB/s de escrita.
Então, apesar de isso não fazer sentido algum, eu tive uma experiência pior que a do Moto G7 Plus, que é inferior em especificações técnicas. Existe uma possibilidade de falta de otimização de software, mas eu já havia instalado todas as atualizações antes de começar os testes.
E, para completar a série de “decisões estranhas da Motorola”, em 2019 nós tivemos avanços nas tecnologias de pagamento por aproximação: em algumas cidades brasileiras, já tem como pagar o ônibus ou metrô só encostando o celular na catraca. Sabe qual chip o Moto G8 Plus perdeu em relação ao Moto G7 Plus? Isso mesmo, o NFC.
Mas todo celular tem seus pontos positivos e negativos. No caso do Moto G8 Plus, o mais positivo deles é certamente a bateria. A capacidade de 4.000 mAh enche os olhos e realmente faz diferença na prática. No meu dia de teste, tirei o aparelho da tomada às 7 horas, naveguei na web e assisti a vídeos no YouTube por cerca de 2h e escutei músicas por streaming por mais de 1h, sempre com brilho no automático e no 4G. Às 21 horas, a bateria ainda estava em 56%, um desempenho excepcional.
O carregador TurboPower de 15 watts também faz um trabalho competente, enchendo a bateria gigante em menos de 2h30min. De novo, tivemos um retrocesso aqui, já que o Moto G7 Plus vinha com um adaptador de 27 watts na caixa — mas, como você só vai carregar o aparelho uma vez por dia, não é como se fosse o maior pecado do mundo.
Provavelmente não. Eu analiso o Moto G desde a primeira geração, de 2013, que foi talvez o maior acerto da Motorola no mercado de smartphones em toda a década. Mas, de todos os Moto G Plus que já testei, o Moto G8 Plus foi o mais decepcionante até agora.
Em todos os dias em que usei o Moto G8 Plus como meu smartphone principal, fiquei com a sensação de falta de refinamento, como se a Motorola tivesse corrido contra o tempo para colocar o aparelho no mercado o mais rápido possível, sem prestar atenção nos detalhes, só para tentar apresentar alguma novidade em uma linha que sempre vendeu muito.
Sim, a bateria maior é uma excelente notícia. A nova disposição das câmeras traseiras deu um respiro de novidade ao Moto G. E o software é o mesmo de sempre, para continuar deixando todo mundo familiarizado. Porém, o desempenho é inconsistente e a câmera tem capacidade para tirar fotos boas, mas só quando quer. E as decisões controversas da Motorola, como a remoção do NFC em pleno 2019 e a câmera frontal que não filma mais em 4K, não ajudam em nada.
O Moto G é o carro-chefe da Motorola, mas, para quem quer um bom smartphone intermediário da marca, eu partiria para o Motorola One Vision. O antecessor, Moto G7 Plus, é uma opção mais segura e pode ser interessante para economizar um bom dinheiro. Na concorrência, o Samsung Galaxy A50 é uma alternativa: não tem as melhores câmeras e o leitor de impressões digitais na tela é questionável, mas pelo menos é mais barato.
Não dá para ficar parado no tempo porque a concorrência é cruel. Mas correr demais também pode ser muito ruim para os usuários.