Review Motorola One Vision: vendo melhor no escuro
Celular intermediário da Motorola tem câmeras convincentes, bom desempenho e tela comprida
Celular intermediário da Motorola tem câmeras convincentes, bom desempenho e tela comprida
O programa Android One ganhou mais um representante no Brasil: o Motorola One Vision. Ele tem câmera de 48 megapixels, tela com proporção de cinema e atualizações garantidas de Android para tentar manter a força da Motorola na faixa de preço que mais vende no país.
Com preço sugerido de R$ 1.999, será que o Motorola One Vision é uma boa opção no segmento concorrido de celulares intermediários? A câmera Quad Pixel é tudo isso mesmo? E essa tela 21:9, é uma novidade interessante? Eu usei o lançamento da Motorola como meu smartphone principal nas últimas semanas e conto minhas impressões nos próximos minutos.
O design do One Vision é diferente dos outros celulares recentes da Motorola: ele não tem aquele calombo central para as câmeras traseiras, traz um furo mais discreto na tela em vez do notch tradicional e, principalmente, é bem comprido, sendo o primeiro da empresa com um visor em proporção 21:9. Também tem outra novidade: a Motorola enfim parou de estampar sua marca na frente do smartphone.
Não existem grandes destaques no acabamento, mas a construção do One Vision passa uma boa sensação de robustez. Tudo está dentro dos conformes: a traseira com laterais arredondadas deixa o aparelho mais confortável de segurar, a conexão para fones de ouvido de 3,5 mm foi mantida e as bordas foram bastante reduzidas em favor de um aproveitamento de tela maior.
Embora a tela seja de generosas 6,3 polegadas na diagonal, o Motorola One Vision tem boa ergonomia para ser utilizado com uma mão só, pelo menos para digitar, graças à largura mais estreita do painel. Por outro lado, a central de notificações ficou em uma posição muito alta, mas o gesto de deslizar o dedo sobre o leitor de impressões digitais dá uma bela ajuda.
O painel IPS LCD do One Vision tem resolução de 2520×1080 pixels, resolvendo um dos pontos negativos do primeiro Motorola One, que ainda trazia uma tela HD. A qualidade melhorou: além da definição maior, o brilho agora é suficiente para enxergar o conteúdo do display mesmo sob a luz do sol. As cores também agradam, sendo mais saturadas por padrão; quem quiser tons mais naturais pode mudar isso nas configurações.
A Motorola decidiu abandonar a carinha de iPhone e adotou um furo no canto superior esquerdo da tela para abrigar a câmera frontal. O buraco acaba não sendo tão discreto quanto o do Galaxy S10, por exemplo, já que existe uma borda considerável em volta da lente. Por isso, a barra de status é maior que o normal para acomodar o entalhe — mas dá para se acostumar rapidamente.
O nome do One Vision continua ressaltando uma de suas características: ele é mais um smartphone da Motorola que integra o programa Android One. É uma boa notícia para o nicho que faz questão de ter a versão mais nova do Android: ele vem com o Android 9 Pie, mas receberá o Android Q e o Android R. Além disso, as correções de segurança estão garantidas até maio de 2022.
Falando do software em si, não existem muitas novidades aqui: é o Android típico da Motorola, sem grandes modificações na interface ou recursos adicionais. Falta, por exemplo, um tema escuro mais abrangente, algo que as principais concorrentes já implantaram — mas que os usuários da Motorola deverão ficar sem até o lançamento do Android Q.
Além do pacote padrão do Google, o One Vision vem de fábrica com o repositório de softwares App Box, a ferramenta Dolby Audio e o tradicional aplicativo Moto, que reúne os gestos para ligar a lanterna, abrir o aplicativo de câmera e tirar um print, bem como o recurso Tela interativa, que mostra o relógio e as notificações mesmo com o aparelho em standby.
A câmera traseira de 48 megapixels certamente é o ponto que a Motorola mais destaca no One Vision. Ele tem o “maior sensor de câmera de todos os tempos”, nas palavras da empresa. Na teoria, parece tudo certo: a lente principal tem abertura generosa de f/1,7 e estabilização óptica de imagem, e é auxiliada por uma segunda câmera para detectar profundidade e fazer o efeito de desfoque de fundo. E na prática, como é?
É bom também. O One Vision é um grande avanço da Motorola, que não lançava uma câmera de alto nível há algum tempo — ela tinha uns aparelhos mais caros que até faziam boas fotos, mas eram totalmente ofuscados pela concorrência. No One Vision, a história é bem diferente: esta é uma das melhores câmeras da categoria.
Aqui, vale lembrar que, embora o sensor seja de 48 megapixels, as fotos têm resolução de no máximo 12 megapixels, já que a Motorola combina quatro pixels em um para melhorar a definição e diminuir o ruído. Essa técnica funcionou bem: as fotos com bastante iluminação apresentam ótimo nível de detalhes, e o alcance dinâmico é interessante para um celular dessa faixa de preço.
À noite, a câmera do One Vision não é tão boa quanto a dos topos de linha, mas é melhor que a de boa parte dos intermediários, como o Samsung Galaxy A50 e o Huawei P30 Lite. No modo automático, o ruído é baixo e o nível de detalhes não decepciona. Mas você vai acabar tirando fotos com o modo Night Vision, que é surpreendentemente rápido e melhora a exposição da maioria das fotos.
Então eu chego no único grande ponto negativo da câmera traseira do One Vision: às vezes, o software tenta impressionar demais e acaba pecando pelo excesso, deixando as cores estouradas ou forçando uma nitidez que não existe. Isso cria “bordas” duras ao redor de regiões de alto contraste, como textos ou janelas de prédios. Um ajuste fino cairia bem aqui.
Já a câmera de 25 megapixels para selfies não foge muito do padrão: ela apresenta boa definição, não tenta suavizar demais a pele e tem uma distância focal bem acertada. Para ser melhor, a Motorola poderia aproveitar toda essa resolução para filmar em 4K com a câmera frontal, assim como já faz com o Moto G7 Plus, que inclusive custa menos.
Se o Motorola One causou polêmica porque tinha um processador relativamente antigo para a época, o Motorola One Vision foi questionado por quem presta atenção em especificações técnicas porque o chip é meio diferente. Pela primeira vez, a empresa decidiu adotar um processador da Samsung, o Exynos 9609 octa-core.
E o que isso significa para o usuário comum? Nada. O One Vision tem desempenho consistente, animações fluidas e agilidade nos aplicativos do dia a dia. Nos jogos como Asphalt 9 e Breakneck, a taxa de quadros é boa desde que você não aumente muito a qualidade gráfica — mas a GPU Mali-G72 permite uma boa jogatina com os gráficos no médio na maioria das situações.
O One Vision também merece pontos pela capacidade de armazenamento de 128 GB, o dobro dos 64 GB que a gente normalmente encontra em celulares lançados no país por até R$ 2 mil. Quem quiser, claro, pode instalar um cartão de memória na bandeja híbrida.
Já a bateria de 3.500 mAh do One Vision não impressiona, mas é ok, aguentando um dia inteiro de uso para a maioria das pessoas. Nos meus testes, tirando o aparelho da tomada às 9h, ouvindo música por streaming por cerca de 2 horas e navegando na web por 1 hora, sempre pelo 4G e com brilho no automático, eu chegava ao final do dia com carga por volta dos 40%.
Embora a autonomia não seja ruim, fica a sensação de que poderia ser melhor. O Samsung Galaxy A50 tem duração maior, o que é compreensível devido à bateria maior, de 4.000 mAh. Mas o One Vision também fica ligeiramente atrás do Huawei P30 Lite, que tem uma bateria menor, com 3.340 mAh. Tem algo no processador, na tela ou no software que talvez pudesse ser otimizado.
Sim, vale a pena. A Motorola acertou bastante no One Vision: é um smartphone equilibrado, que não traz nenhum grande ponto negativo. O desempenho é consistente, a bateria não deve deixar ninguém na mão e as câmeras são boas para a categoria — faz tempo que eu não falava isso com essa ênfase em uma análise de celular da Motorola.
Com o One Vision, a Motorola também atende o grupo de usuários que gosta de ter a versão mais recente do Android — um nicho que a marca conseguiu conquistar na fase em que era controlada pelo Google e tenta manter agora, com a linha One. Se o primeiro Motorola One tinha uma tela não tão boa, uma câmera mais ou menos e um desempenho apenas ok, o One Vision consegue resolver essas questões.
Existem algumas arestas que poderiam ser aparadas, mas o Motorola One Vision já entra com louvor na categoria de smartphone “bom o suficiente para quase todo mundo”.
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