Huawei P30 Lite: um smartphone de muitos “mas”

P30 Lite tem design atraente e boa autonomia, mas desempenho é inconsistente e câmera pode decepcionar

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses
Huawei P30 Lite

A Huawei voltou a colocar os pés no Brasil com dois smartphones. O P30 Pro é muito bom, muito bonito e muito caro. Para quem não quer gastar tanto dinheiro, a fabricante chinesa oferece o P30 Lite, um intermediário premium com design colorido, câmera de 32 megapixels para selfies e uma tela grande de 6,15 polegadas.

Por R$ 2.499, o P30 Lite é equipado com 4 GB de RAM, 128 GB de armazenamento e câmera tripla na traseira, inclusive com o modo Noite para tirar fotos no escuro. Será que ele é uma boa opção de smartphone não tão caro? Além do segmento premium, a Huawei tem um bom produto para competir na faixa intermediária com a Samsung e a Motorola, as mesmas de sempre do mercado brasileiro?

Eu usei o P30 Lite como meu smartphone principal por duas semanas e conto minhas impressões nos próximos minutos.

Análise do Huawei P30 Lite em vídeo

Design e tela

Huawei P30 Lite

Assim como no P30 Pro, a Huawei apostou em uma mescla de cores fortes para tornar o P30 Lite mais atraente. O resultado ficou muito bom: a versão com traseira preta é apenas mais uma no meio da multidão, mas a azul, com nuances de roxo, chama a atenção pela beleza. Ele não traz as sofisticações do irmão mais caro e é construído em plástico, mas não deixa de ser um belo aparelho.

Em vez de um leitor de impressões digitais na tela, o P30 Lite traz um sensor capacitivo, que fica na traseira, o que é uma posição meio inconveniente para quem costuma deixar o celular sobre a mesa. Em compensação, existem outras diferenças no design em relação ao P30 Pro, desta vez boas: ele tem entrada para fone de ouvido, e o slot para cartão de memória é do tipo microSD, sem aquela invencionice de NM Card.

Huawei P30 Lite
Huawei P30 Lite

A tela de 6,15 polegadas do P30 Lite tem resolução de 2312×1080 pixels e painel IPS, que mostra cores vivas e tons frios por padrão. O ângulo de visão e a definição são quase impecáveis, enquanto o nível de preto é bom, dentro das limitações da tecnologia. Só o brilho fica um pouco abaixo do que eu espero para um aparelho de R$ 2.499 com tela LCD, mas ainda é suficiente para enxergar o conteúdo do display em quase todas as ocasiões.

Software

Huawei P30 Lite - Software

O P30 Lite roda Android 9.0 Pie e a interface EMUI da Huawei, que é lotada de recursos: se você tiver tempo para explorar as configurações do sistema, vai conseguir deixar tudo do seu jeito. Por padrão, ele tem aquela carinha típica de Android chinês que tenta se parecer com o iOS: os aplicativos ficam jogados nas telas iniciais, os ícones são quadrados com cantos arredondados e tudo é muito branco.

Nem todas as funções do software do P30 Pro estavam no P30 Lite até o momento em que eu escrevia este review. De cara, o modo noturno fez muita falta (e é quase incompreensível ele não existir, já que até o Android puro tem o recurso). Ele também não possui o navegador próprio da Huawei e, claro, não traz um aplicativo de controle remoto, já que não é equipado com infravermelho.

Huawei P30 Lite

É um software que me lembra a TouchWiz da Samsung há cinco ou seis anos: ele vem com um monte de recursos e aplicativos (nem todos muito úteis), é personalizável ao extremo e tenta largar as decisões na mão do usuário. Mas parece faltar refinamento, organização e uma identidade própria.

Câmera

Huawei P30 Lite

O foco do P30 Lite está nas selfies e na câmera frontal de 32 megapixels. É uma câmera boa, mas só em certas ocasiões. Isso porque ela tem o mesmo problema do P30 Pro: a lente é de foco fixo, o que significa que os retratos saem muito bons se você acertar a distância, mas vão ficar sem nitidez nas fotos em grupo ou se você aproximar mais a câmera do seu rosto.

Huawei P30 Lite - Teste de câmera

Na traseira, o P30 Lite é equipado com três câmeras. A principal tem 24 megapixels e lente com abertura f/1,8. Também é possível tirar fotos com a ultrawide, que tem resolução de 8 megapixels e abertura menor, de f/2,4. A terceira câmera é, na verdade, um sensor de profundidade de 2 megapixels para ajudar no desfoque de fundo em retratos.

Em uma primeira olhada, as fotos agradam, graças ao processamento acertado da Huawei. O recurso de inteligência artificial, que detecta cenas como pôr do sol, quarto e texto, faz um bom trabalho na hora de ajustar as cores e a nitidez das imagens. O alcance dinâmico também é interessante para um celular intermediário, não permitindo que os pontos de iluminação estourem com tanta facilidade.

Huawei P30 Lite - Teste de câmera
Huawei P30 Lite - Teste de câmera
Huawei P30 Lite - Teste de câmera

Mas, tecnicamente, as fotos ficam abaixo do esperado. A definição é satisfatória e está na média do que outros celulares do mesmo nível conseguem atingir, mas o ruído é elevado. Em ambientes internos, o algoritmo de pós-processamento até consegue lidar com a deficiência do sensor às custas de um pouco de nitidez. Já em fotos noturnas, não tem jeito: a definição não é tão boa e os ruídos aparecem com bastante vontade.

Huawei P30 Lite - Teste de câmera
Huawei P30 Lite - Teste de câmera

O P30 Lite tem o famoso modo Noite, que captura as informações do quadro por cinco ou dez segundos para obter uma foto melhor com pouca iluminação. Mas ele não foi muito efetivo aqui: além de causar travamentos no aparelho (o que espero que seja corrigido com uma atualização de software), esse recurso muitas vezes aumentou ainda mais os ruídos e adicionou um filtro de sharpening desagradável para tentar elevar a nitidez, conferindo um aspecto artificial à imagem.

Huawei P30 Lite - Teste de câmera (Modo Noite desativado)
Sem Modo Noite
Huawei P30 Lite - Teste de câmera (Modo Noite ativado)
Com Modo Noite

Devido à grande diferença de preço, é impossível comparar a câmera do P30 Lite com o P30 Pro. Mas, para quem conseguiu fotos tão impressionantes no topo de linha, bem que a Huawei poderia ter entregue pelo menos algo um pouco melhor que os concorrentes no segmento intermediário.

Hardware e bateria

Huawei P30 Lite

É claro que eu não esperava um desempenho tão bom quanto o do P30 Pro, que foi o Android mais fluido que eu tive contato até agora. O P30 Lite tem um hardware mais simples, com um processador octa-core Kirin 710, da própria Huawei, além de 4 GB de RAM e 128 GB de armazenamento. É um conjunto típico de intermediários premium e que, ainda assim, me decepcionou um pouco.

A interface EMUI, que se mostrou uma manteiga no P30 Pro, deu algumas engasgadas que eu não esperava em um celular nessa faixa de preço. A abertura e a alternância entre aplicativos no dia a dia foi rápida, mas não tanto devido ao costume da Huawei de matar processos em segundo plano para economizar energia. Não é um celular lento, mas ficou abaixo de aparelhos mais acessíveis, como o Moto G7 Plus.

Huawei P30 Lite

Nos jogos mais pesados, o P30 Lite teve poder de fogo para rodar Asphalt 9 e Breakneck com boa qualidade gráfica e boa taxa de frames, então talvez o problema da fluidez possa ser solucionado com uma futura atualização de software.

A bateria de 3.340 mAh do P30 Lite rendeu bem nos meus dias de teste. Tirando o aparelho da tomada por volta das 9h da manhã, ouvindo duas horas de música por streaming e navegando na web por uma hora, sempre no 4G e com brilho no automático, eu terminava o dia com carga entre 50% e 55%, o que é um bom resultado e indica que o aparelho deve aguentar um dia inteiro de uso para a maioria das pessoas.

Huawei P30 Lite

Embora não tenha um carregamento tão rápido, o P30 Lite não faz feio: ele já vem com um adaptador de tomada de 18 watts na caixa, que permitiu reabastecer completamente os 3.340 mAh em 1h50min.

Vale a pena?

O nome P30 Lite é até um pouco injusto para esse produto. O outro membro da família, o P30 Pro, consegue se destacar em relação aos concorrentes do mesmo segmento, graças à bateria, câmera e desempenho acima da média. Já o P30 Lite é apenas mediano em relação aos outros aparelhos medianos — com o detalhe de que esses aparelhos medianos custam menos que os R$ 2.499 que a Huawei está cobrando.

Huawei P30 Lite

Não é um celular ruim de nenhuma forma, mas, tirando o design, não existem muitos destaques positivos no P30 Lite. O processador Kirin 710 é teoricamente superior ao Snapdragon 636 do Moto G7 Plus, por exemplo, mas na prática o desempenho se mostrou inferior, com pequenos engasgos no dia a dia. A tela é boa, mas a Samsung anda entregando um painel melhor no segmento intermediário, caso do Galaxy A50. É um produto de muitos “mas”.

Além disso, a sensação é que ele custa mais caro do que deveria: o preço de lançamento do P30 Lite é de R$ 2.499, mas seus concorrentes de verdade foram lançados por R$ 1.899 ou R$ 1.999 e já podem ser encontrados por menos no varejo. A Huawei tem uma desvantagem por não fabricar no Brasil, mas poderia ser mais agressiva considerando que tem uma marca menos conhecida e uma distribuição mais limitada por aqui.

Huawei P30 Lite

A Huawei também pecou ao deixar de lado algumas características que já são comuns em celulares do mesmo preço ou até mais baratos. Ele não tem gravação de vídeo em 4K (e mesmo a filmagem em Full HD é apenas ok). Por que os chineses não colocaram NFC em um intermediário premium? E cadê a estabilização óptica de imagem?

Se você estiver lendo este review no futuro, em que o P30 Lite eventualmente tiver um preço (bem) mais competitivo e um software mais otimizado, o intermediário da Huawei pode ser uma opção na sua lista de compras. Por enquanto, eu partiria para os mesmos de sempre.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.340 mAh;
  • Câmera frontal: 32 megapixels f/2,0
  • Câmeras traseiras:
    • Principal: 24 megapixels f/1,8;
    • Ultrawide: 8 megapixels f/2,4;
    • Profundidade: 2 megapixels;
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11a/b/g/n/ac, GPS, Glonass, BeiDou, Bluetooth 4.2, USB-C;
  • Dimensões: 152,9×72,7×7,4 mm;
  • GPU: Mali-G51;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 512 GB;
  • Memória interna: 128 GB;
  • Memória RAM: 4 GB;
  • Peso: 159 gramas;
  • Plataforma: Android 9.0 Pie;
  • Processador: octa-core Huawei Kirin 710 de 2,2 GHz;
  • Sensores: bússola, proximidade, luminosidade, giroscópio, leitor de impressões digitais;
  • Tela: IPS LCD de 6,15 polegadas com resolução de 2312×1080 pixels.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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