Ministério Público do Trabalho processa Samsung em R$ 250 milhões por más condições de trabalho em fábrica de Manaus

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 2 semanas

Mais uma acusação de más condições de trabalho envolvendo uma companhia de eletrônicos está ganhando repercussão internacional. Só que, desta vez, a fábrica denunciada não está na China, mas bem perto de nós: trata-se de uma unidade da Samsung na Zona Franca de Manaus responsável pela montagem de produtos como smartphones e televisores.

A informação vem do Repórter Brasil, veículo especializado em tratar de questões trabalhistas. De acordo com o site, o Ministério Público do Trabalho (MPT) entrou com uma ação judicial contra a companhia sul-coreana na semana passada em que pede pelo menos 250 milhões de reais como indenização por danos morais coletivos.

De acordo com o processo, os problemas encontrados ali começam no ritmo intenso de produção. O documento menciona, por exemplo, que uma embalagem contendo um telefone celular, fones de ouvido, carregador de bateria e manuais deve ser preparado pelo funcionário em apenas seis segundos.

De modo geral, a montagem de um smartphone nesta fábrica leva cerca de 85 segundos, enquanto que um aparelho de ar-condicionado fica pronto em menos de dois minutos. Isso é possível porque o produto a ser montado passa por dezenas de funcionários, cada um com uma função específica. Caso um atrase, toda a linha de produção é afetada, o que dá ideia do nível de exigência que deve existir ali.

O ritmo intenso de trabalho e as tarefas repetitivas por si só já podem causar problemas de saúde aos funcionários, mas este aspecto se agrava porque, de acordo com o MPT, a fábrica apresenta também falhas relacionadas à saúde ocupacional, como mesas com altura inadequadas e falta de cadeiras para descanso.

Como se não bastasse, o MPT encontrou indícios de outras irregularidades, como jornadas de trabalho excessivas, que superam 15 horas diárias, e funcionários que trabalham cerca de 10 horas por dia em pé com pausas para descanso insuficientes.

Linha de produção da Samsung em Manaus (fonte: Agência de Comunicações do Governo do Estado do Amazonas)
Linha de produção da Samsung em Manaus

A quantidade de pedidos de afastamento por problemas de saúde pesa mais ainda contra a Samsung. Somente em 2012, foram registrados 2.018 solicitações de licenças médicas de até 15 dias por problemas como tendinite, bursite e lombalgia. Se o sistema de trabalho não mudar, cerca de 20% dos funcionários da fábrica terão algum tipo de DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho) nos próximos cinco anos, estima o MPT.

Em resposta ao contato feito pelo Repórter Brasil, a Samsung declarou o seguinte sobre o problema: “assim que recebermos a notificação sobre este caso, realizaremos uma análise do processo e cooperaremos plenamente com as autoridades brasileiras. (…) Estamos comprometidos em oferecer aos nossos colaboradores ao redor do mundo um ambiente de trabalho que assegura os mais altos padrões da indústria em relação à segurança, saúde e bem-estar”.

Mesmo se considerada culpada, é difícil saber se a Justiça fará com que a Samsung pague mesmo 250 milhões de reais como indenização, sem contar que o processo pode levar anos. De qualquer forma, a ação já está tendo algum efeito se considerarmos que, além da repercussão no Brasil, o assunto está sendo noticiado em veículos de vários países, como informado no início do post.

Não é de se estranhar: de acordo com outra matéria do Repórter Brasil, representantes de ONGs internacionais acreditam que as condições de trabalho da fábrica são semelhantes às encontradas em unidades fabris chinesas. “Se a Samsung faz isso na China, vai tentar fazer em outros países também. Eles tentam se beneficiar das legislações trabalhistas que não são cumpridas”, explica Kevin Slaten, da ONG China Labour Watch.

Como se vê, o problema é mais grave do que aparenta.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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