Depois dos sites de torrent se revoltarem com os termos de uso do Windows 10, que seriam invasivos demais, várias pessoas estão reclamando do recurso de monitorar a atividade das crianças no computador. Uma vez ativa, essa funcionalidade envia relatórios semanais aos pais com informações sobre a navegação dos filhos na máquina.

Dessa forma, os pais podem saber se seus filhos estão sendo vítimas de algum golpe ou se visitaram algum tipo de conteúdo inapropriado para a idade. Na seção “Mantenha seus filhos mais seguros no computador”, nas instruções do Windows 10, a Microsoft descreve o recurso:

Quando adiciona uma conta da Microsoft de um filho à sua família, você recebe e-mails regulares com relatórios que resumem o tempo que ele ficou no computador, os sites que visitou, os jogos e aplicativos usados e os termos que ele procurou em mecanismos de pesquisa como Bing, Google ou Yahoo! Search.

Ou seja, com uma conta familiar do Windows 10, é possível saber cada clique que o seu filho dá no computador, por quanto tempo ele faz isso e o que ele pesquisa nos principais sites. Segundo o Business Insider, o recurso vem ativo por padrão, então muitos podem ser pegos de surpresa com todo o histórico do seu filho na sua caixa de entrada.

Kirk, um leitor do Boing Boing contou ao site que, quando o computador do seu filho de 14 anos com uma conta familiar foi atualizado do Windows 8 para o Windows 10, ele passou a receber “um e-mail assustador da Microsoft intitulado ‘Relatório semanal de atividade para [meu filho]’, incluindo quais sites ele visitou, quantas horas por dia ele usou [o computador] e quantos minutos ele passou em seus apps favoritos”. Ele ainda afirmou que não deseja espionar o que o filho dele faz no computador e contou já ter desativado o recurso.

Outros serviços do Windows 10 coletam dados de pesquisa (ainda que local) por padrão.
Outros serviços do Windows 10 coletam dados de pesquisa (ainda que local) por padrão.

Apesar de, por um lado, ser bom monitorar se o seu filho não está se envolvendo com estranhos na internet, há uma linha bem tênue entre a segurança e a privacidade da criança — especialmente nos casos em que há conflitos dentro de casa e o computador, muitas vezes, é o refúgio em que muitos se sentem mais seguros. Receber um relatório com o que a criança faz nesses momentos é um tanto quanto invasivo.

O caso se agrava porque ainda há o problema da transparência: muitos pais podem não contar para os jovens que estão espionando-os e, como o aviso é bem discreto, a ferramenta pode ser fruto de graves conflitos. Em alguns casos, a internet, para muitas crianças homossexuais, pode ser fonte de pesquisa para aprender mais sobre si mesma e assim descobrir mais sobre um assunto que normalmente não é discutido em casa.

Sites como o britânico PinkNews apontam que, em vista disso, muitas crianças podem ser descobertas pelos pais apenas com um e-mail que pode mostrar que elas visitaram sites de suporte ao público LGBT, o que coloca-as em um possível risco. Também foi apurado pelo site britânico que limpar seu histórico, dados de navegação ou abrir esses sites em aba anônima não resolve nada: as informações ainda são coletadas pela Microsoft e enviadas por e-mail.

Essa reunião agressiva de dados também chega a ser, de certa forma, suspeita. Ao desabilitar o recurso, a coleta de informações é realmente interrompida ou o só o e-mail para de ser enviado aos pais? Visando todos os outros problemas de privacidade do Windows 10, como o envio de dados para a Microsoft mesmo que você desabilite essa opção, essa é uma questão preocupante.

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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