Review Dragon Ball Z: Kakarot – Um presente para os fãs

Jogo tem tudo para agradar aos fãs de Dragon Ball, mas desliza em bugs e exploração limitada

Vivi Werneck
• Atualizado há 6 meses

A sensação mais clara e óbvia possível, ao jogar Dragon Ball Z: Kakarot, é de estar controlando passagens do próprio anime. Isso é maravilhoso, mas às vezes monótono quase que na mesma proporção. Com legendas em PT-BR e opções de áudio em inglês ou japonês, DBZ: Kakarot chega para PC, PS4 e Xbox One com a proposta de um RPG de ação num mundo semiaberto.

O jogo, da Bandai Namco, foi testado num PC equipado com uma GeForce RTX 2080 e todas as configurações gráficas no máximo.

Um deleite para os fãs

Se você é um fã da série Dragon Ball e assistiu todo o primeiro arco e o segundo (Dragon Ball Z) o que mais vai encontrar em Kakarot são referências destes animes, especialmente da saga Z. Não é exagero dizer que o game tem um foco enorme em acariciar a nostalgia dos que curtem as aventuras de Goku.

Desde a própria introdução do jogo, que refaz a abertura de Dragon Ball Z – com direito a trilha sonora original e o refrão chiclete “Cha-la Head Cha-la” (sim, você vai cantar também quando assistir), até tirar partes do anime – sem alteração alguma – e colocar uma forma do jogador interagir com elas, as referências ao anime estão lá.

Lembra do Gohan criança sendo treinado por Piccolo? Não tem aquela cena dele tendo que se virar para lidar com um dinossauro enorme que queria jantá-lo? Então, você vai poder enfrentar esse T-Rex. Tem também como jogar parte do episódio em que Goku e Piccolo são intimados por Chi-Chi a aprender a dirigir. Esses são apenas alguns exemplos de como Kakarot aproveitou a história já existente para compor a própria narrativa do jogo.

dragon ball z kakarot

Apesar de Dragon Ball Z: Kakarot ser baseado no anime, isso não quer dizer que você jogará, literalmente, todos os episódios. Inclusive, para resumir um pouco as coisas, por vezes você escutará a voz de um narrador adiantando alguns acontecimentos ou mencionando passagens de tempo. Esse recurso também é usado para mudar o foco de um personagem jogável para outro.

Algumas mudanças na narrativa foram feitas também, apesar de não tão profundas. Alguns personagens tiveram a oportunidade, por exemplo, de ganhar um pouco mais de espaço no game, em relação ao anime, especialmente em missões secundárias.

Como a campanha principal é dividida em episódios (como na série), o tal narrador sempre faz um resumo do capítulo passado e anuncia o título do episódio atual. Ah, e só para você já se preparar, o game tem muitos diálogos – alguns são possíveis de pular, outros você tem que assistir mesmo. Basicamente, todo início de capítulo tem uma historinha bem longa até que se possa controlar qualquer coisa.

Alguns colecionáveis, espalhados pelo mapa, também te ajudam a relembrar (ou aprender pela primeira vez, se for novato na série) passagens importantes do primeiro arco da franquia, onde Goku ainda era uma criança.

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Falando nisso, quem nunca sequer ouviu falar de Dragon Ball terá a oportunidade de aprender sobre a saga também. Como dito antes, há muitos diálogos e narrações te situando na história. Você também pode desbloquear essas informações conforme avança na campanha e ler todas elas na Enciclopédia Z, no menu de pausa.

Mundo semiaberto poderia ser mais interessante

Tratando-se de um RPG de ação, DBZ: Kakarot distribuiu seus episódios num mundo semiaberto, dividido por regiões específicas no mapa: como a região em torno da casa do Goku, da ilha do Mestre Kame ou da Corporação Cápsula, por exemplo. Conforme progredir na campanha, você poderá explorar (também de forma limitada) mapas diferentes, como o planeta Namekusei – onde Piccolo nasceu.

Bem no início do jogo, você vai achar fascinante poder voar por entre árvores, fazer loopings no ar ou mesmo correr em super velocidade pelo mapa, estando em missão ou mesmo só vagando por aí. Mas… Tudo isso vai enjoar mais rápido do que deveria e você vai se ver indo logo para a próxima missão.

A exploração em DBZ: Kakarot limita-se (na maioria das vezes) a coletar OrbesZ para investir na árvore de habilidades dos personagens jogáveis, encontrar alguns pontos de treinamento, coletar itens, comprar e vender coisas, enfrentar ou desviar de inimigos aleatórios e extremamente repetitivos (que esbarram em você quase toda hora e sempre atacam da mesma forma), destruir algumas torres (processo bem simples, inclusive), pescar, caçar e cozinhar.

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Pode parecer muita coisa, mas você rapidamente vai deixar a maioria disso de lado, ou porque quer saber logo como a história continua ou porque essas atividades são quase sempre a mesma coisa e pouco vão impactar no seu ganho de XP.

Falando em ganhar pontos de experiência extras, vale fazer as missões secundárias sempre que estiverem disponíveis. Elas são simples de completar e se resumem a coletar itens para alguns NPCs ou enfrentar algum grupo de inimigos aleatórios com golpes repetitivos (geralmente os mesmos que esbarram em você no mapa, salvo raras exceções).

As sidequests valem mais para você desbloquear personagens e compor sua Comunidade (falarei disso mais adiante), além de conhecer um novo NPC ou relembrá-lo.

Sistema de RPG simples e Fórum da Comunidade

Ganhar pontos de experiência em Dragon Ball Z: Kakarot é um processo curioso, podemos assim dizer. Tradicionalmente, quase todo tipo de ação num RPG pode te garantir alguns pontinhos de XP. Até mesmo atividades corriqueiras como pescar, caçar ou desbloquear áreas do mapa, por exemplo. Em Kakarot, sua principal fonte de renda de XP são os combates, sejam eles parte de missões principais e secundárias ou contra os malditos inimigos aleatórios que trombam com você o tempo todo.

Subir de nível não significa, necessariamente, que será possível investir pontos quando quiser na árvore do personagem que está controlando. Os golpes e habilidades passíveis de serem comprados são habilitados ou com o passar da campanha ou caso você os desbloqueiem em centros de treinamento. Feito isso, aí sim, você poderá usar um número x de diferentes OrbesZ para adquirir determinada skill.

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Agora vem a parte curiosa, que mencionei antes: como há saltos temporais na história, com o narrador falando algo do tipo “algum tempo de treinamento depois…”, um personagem que estava, por exemplo, no nível 7 do nada sobe para 17! Acredito que, para equilibrar o fato de não haver a opção de escolher a dificuldade do game, o próprio sistema de jogo “nivela” os personagens para ser possível encarar o desafio atual da história.

Ninguém fica parado esperando o jogador controlar tal lutador de novo e upá-lo; acho que é essa a ideia. Eles estão sempre treinando “em plano de fundo” e depois voltam mais fortes. O problema disso é que você, às vezes, pode esquecer de ver se há novas habilidades disponíveis porque, salvo exceções de chefões ou inimigos de elite, seu personagem está sempre em pé de igualdade com os adversários.

Fórum da Comunidade

A primeira coisa que me veio à cabeça foi algum tipo de sistema multiplayer de cooperação, mas não. Kakarot é um singleplayer. Este Fórum da Comunidade é onde você reúne os personagens (jogáveis ou não) que são desbloqueados ao longo da campanha. Isso pode acontecer seja por você controlar um lutador, se relacionar com um NPC de alguma forma ou após completar alguma missão (principal ou secundária).

O Fórum da Comunidade, acessível pelo menu de pausa, é onde pode-se criar combos e garantir bônus em algumas áreas do gameplay, como combate, culinária, exploração, poderes, engenharia e etc.

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Cada personagem da comunidade tem combinações específicas para fazer com os outros e, de acordo com a afinidade entre eles, conseguir habilidades maiores ou menores dependendo de onde forem alocados. Por exemplo, Goku e Gohan ganham bônus em luta, se estiverem juntos no Fórum, pela afinidade de pai e filho.

Dar presentes, que são itens coletáveis pelo mundo ou recompensas ao completar missões, aumentam a afinidade. Tente combinar alguns presentes com personagens específicos (ajuda se você já conhecer os perfis de cada um, por ser fã do anime). O perfil do mestre Kame pode gostar mais de receber “revistas de conteúdo adulto” do que o da Bulma, por exemplo.

Combates: muitas animações e mudanças de lutadores

Apesar de Goku ser o protagonista da saga Dragon Ball, em DBZ: Kakarot você vai passar boa parte do tempo controlando Gohan. E isso é bem interessante, inclusive te ajuda a se acostumar com seus golpes e combos.

Falando nisso, como os personagens que você controla mudam, de acordo com o foco da narrativa, é natural levar um tempo para “virar a chave” na sua cabeça e perceber que agora você não está mais comandando os golpes e combos de Gohan, mas sim de Vegeta – por exemplo.

É comum tentar comparar Kakarot com Dragon Ball FighterZ, mas estes jogos têm propostas diferentes. Por isso, é natural que os combates em FighterZ sejam mais complexos, já que é um jogo de luta. Inicialmente, a maior dificuldade das lutas em DBZ: Kakarot é se acostumar e decorar em quais botões estão os golpes de cada personagem que você pode controlar.

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Uma vez que se aprende isso, basicamente é só entender o timing do ataque ou contra ataque dos adversários para derrotá-los. Ouso dizer que você só morre num combate se não esquivar ou defender no tempo certo. Todos os seus golpes são devastadores, se aplicados numa quebra de guarda ou quando o inimigo está recuperando o fôlego.

Itens de cura? Tem sim e comprá-los é super prático. Sem perceber, você estará sempre com dinheiro no bolso para tê-los aos montes (que dera que na vida real fosse assim também). Coloque estes itens em algum botão de atalho e use-os sempre que precisar. O tempo de espera para usar novamente é rápido e não há animação enquanto você os toma, ou seja, o efeito é instantâneo.

Visualmente, os golpes mais poderosos são incríveis e com direito a todas as explosões, algumas rápidas cutscenes e efeitos sonoros do próprio anime. Bem empolgante. Ah, não que seja imprescindível, mas é interessante comer algum prato especial antes de lutas importantes. Você ganha bônus diferentes para comidas variadas.

Lutar em grupo

Conforme avançar na campanha, você poderá formar uma equipe tanto para explorar o mundo quanto para combates. Não é possível escolher qualquer personagem para o seu grupo (vai depender do momento que estiver na história), mas você pode ativar golpes específicos de cada um nas lutas. Agora além de decorar seus golpes, também é necessário saber os ataques dos seus personagens de suporte.

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Um ou os dois lutadores do seu time têm ações passivas e são ótimos para tirar um pouco o foco dos adversários de você. Combine golpes entre eles para ataques devastadores e com animações lindas de se ver. É a verdadeira maravilha da destruição!

Visual parecido com o anime e alguns bugs

Ao jogar Dragon Ball Z: Kakarot você terá a sensação de controlar o próprio anime, tanto pela estética cartunesca do mundo quanto pelo visual dos personagens. Apesar da fidelidade quase perfeita do desenho para o jogo, nota-se que nem tudo está 100% polido. Em alguns capítulos, é nítido a queda de qualidade do traço de alguns NPCs e objetos em relação a outros momentos da história.

Encontrei alguns bugs durante os testes também. Em uma certa missão, Piccolo precisava falar com Yamcha e Kuririn. Ao encontrá-los e começar a cutscene de diálogo, ambos os personagens começaram a deslizar para fora do campo de visão da conversa, deixando Piccolo falando sozinho enquanto Yamcha e Kuririn pararam de deslizar ao se chocarem com uma parede. E lá ficaram grudados até a história mudar.

O clássico bug de ficar preso entre paredes ou dentro de animais e objetos também pode acontecer. Controlando Gohan, fiquei presa dentro de um dinossauro e depois de uma árvore. Felizmente, o jogo deixa salvar o tempo todo, então apenas carreguei um save anterior.

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Até a trilha sonora, bem nostálgica e parecida com o anime, tem seus glitches vez ou outra e, numa cutscene em que Goku estava “no céu”, não havia som no diálogo entre ele e Kami-Sama.

Conclusão

Dragon Ball Z: Kakarot é um “fan-service” divertido de jogar e relembrar momentos marcantes da saga Z. O jogo ficaria ainda mais imersivo e nostálgico se fosse dublado em português do Brasil, com a voz de Wendel Bezerra como Goku, mas… Não dá para ter tudo na vida.

Mesmo os que não conhecem a série podem gostar deste título, já que ele faz questão de explicar o que está acontecendo por diversas vezes, mas (sendo bem sincera) há outros RPGs com uma pegada parecida que podem interessar mais a quem não curte Dragon Ball. Gostar das aventuras de Goku é quase que um pré-requisito para jogar as quase 40 horas de Kakarot e não enjoar no meio do caminho.

Consertando os bugs e, quem sabe, lançando DLCs para colocar atividades diferentes e mais interessantes no mundo a ser explorado, DBZ: Kakarot teria potencial para se tornar um RPG com elementos de ação bem desafiador. Charmoso ele já é, falta apenas algum ingrediente especial para que ele não fique esquecido na sua biblioteca de jogos, assim que terminá-lo.

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Review Dragon Ball Z

Prós

  • A nostalgia para os fãs começa já na música de abertura
  • É possível conversar com vários personagens da saga Z
  • Combates dão um show na animação
  • Fórum da Comunidade funciona bem como sistema de bônus

Contras

  • Algum patch precisa ser lançado logo para corrigir os bugs
  • Inimigos aleatórios e repetitivos ao explorar o mundo
  • As atividades livres enjoam rápido demais
  • As missões secundárias podiam ser mais do que coletar itens e derrotar inimigos aleatórios
Nota Final 7.4
Áudio
8
Desafio
7
Diversão
8
Inovação
7
Jogabilidade
8
Replay
6
Visual
8

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Escrito por

Vivi Werneck

Vivi Werneck

Ex-editora assistente

Vivi Werneck é especialista em games e trabalha no mundo tech há 15 anos. Em 2018, recebeu o Prêmio Comunique-se como melhor jornalista de tecnologia. Já escreveu para revistas de games pioneiras no Brasil, como EDGE, PlayStation Brasil e EGW. Também é veterana em eventos de jogos, como a BGS e E3 (inclusive, presencialmente). No Tecnoblog, foi editora-assistente entre 2018 e 2023.