O que o 4G de 700 MHz muda na sua vida
Sem 700 MHz, 4G dificilmente se expandirá no Brasil além das exigências da Anatel
Sem 700 MHz, 4G dificilmente se expandirá no Brasil além das exigências da Anatel
As redes móveis de quarta geração começaram a ser implantadas no Brasil em 2012 para atender às demandas da Copa do Mundo. Dois anos depois, com operação nas quatro grandes operadoras e um piloto da Nextel, no Rio de Janeiro, o 4G continua oferecendo boa velocidade de conexão e baixa latência. O problema é que a cobertura ainda está restrita a poucos locais. Por quê?
O principal motivo é a frequência adotada por aqui, de 2.600 MHz (banda 7 do LTE). Ela dificulta bastante as coisas: por se tratar de uma frequência alta, a penetração de sinal é prejudicada, com perdas significativas de sinal ao ultrapassar obstáculos. O benefício é o suporte a um maior número de usuários, motivo pelo qual ela é adotada em países europeus como banda complementar para cobertura de grandes centros.
Até aí, a frequência de 2.600 MHz se torna ideal para as grandes cidades brasileiras, onde é notável o gargalo das redes 2G e 3G. É impossível negar que as operadoras vêm fazendo um bom trabalho ao cobrir as capitais: basta abrir o mapa de cobertura das empresas e detectar que boa parte das torres também possui 4G. Mas isso não é suficiente: são várias as áreas de sombra de 4G, e o problema só seria resolvido com uma rede de baixa frequência.
Até agosto de 2014, 120 cidades brasileiras possuíam acesso ao 4G. Isso significa que 38,8% da população têm cobertura LTE em seus municípios. As operadoras estão obrigadas a cobrir 790 municípios com a tecnologia — e devem cumprir seus compromissos, mas não devem expandir para fora dos grandes centros, como a Vivo fez com o 3G ao cobrir mais de 3.200 cidades.
Em 2.600 MHz, os custos são mais elevados.
Vamos exercitar a lógica: com uma frequência alta, como 2.600 MHz, as operadoras precisariam colocar mais torres para cobrir cidades. Novas torres implicam gastar mais dinheiro com equipamentos, infraestrutura e todas as burocracias relativas ao aluguel do espaço físico. O investimento, portanto, é bastante elevado, e nem sempre haveria retorno financeiro para justificar isso — o que explica por que o 4G ainda está presente apenas em capitais e cidades maiores.
Adotar o 4G numa frequência baixa resolveria grande parte dos problemas mencionados acima. No caso dos 700 MHz, frequência que foi leiloada na semana passada para a utilização em redes de quarta geração, a penetração de sinal seria superior a qualquer rede celular existente no Brasil, seja 2G ou 3G. O custo de cobertura, portanto, seria menor, e dessa forma as operadoras teriam interesse em cobrir mais cidades do interior.
Tudo isso parece lindo, mas há um problema: a faixa de 700 MHz atualmente é ocupada pela TV analógica no Brasil. Será necessário aguardar o chamado switch-off da tecnologia, e isso deve demorar bastante: o primeiro piloto será feito na cidade de Rio Verde (GO), onde a TV analógica será desligada em novembro de 2015 e a frequência será liberada apenas em novembro de 2016.
Em São Paulo, a frequência de 700 MHz para o 4G será liberada apenas em 2019.
Cidades maiores como Belo Horizonte, Brasília e Goiânia terão suas frequências liberadas entre abril e junho de 2017. O prazo aumenta quando se trata do Rio de Janeiro, com liberação prevista para outubro de 2018, e São Paulo, onde a faixa será liberada junto com o resto das cidades brasileiras, em novembro de 2019. Confira o cronograma completo.
Vale lembrar que a Oi ficou de fora do leilão e não comprou o direito de utilização da faixa de 700 MHz. A operadora fala em realocar sua licença de 1.800 MHz (que é atualmente utilizada em sua rede 2G), para futuramente utilizá-las em 4G. Ainda resta uma chance de a operadora comprar a licença dos 700 MHz no leilão de sobras de frequências, que deverá acontecer no ano que vem.
É bem comum encontrar comentários na internet de que o melhor benefício da frequência de 700 MHz seria a disponibilidade de aparelhos, sobretudo os mesmos comercializados nos Estados Unidos. Isso é lenda. O Brasil não adotou nenhuma das bandas de 700 MHz utilizada nos Estados Unidos.
A frequência leiloada corresponderá à banda 28 do LTE, também conhecida como 700 MHz APT. Ela é utilizada atualmente em países asiáticos, e a União Europeia já se comprometeu a utilizar tal padrão. A vantagem da nossa banda é a maior flexibilidade ao espectro, algo que não é encontrado nos padrões americanos.
Isso também significa que os iPhones 5 ou 5s americanos não vão funcionar na nova frequência. Na verdade, nem mesmo o iPhone 5s comercializado aqui possui suporte a tal banda — os novos iPhones 6, no entanto, já citam a banda 28 como compatível.
Como as frequências só devem ser liberadas a partir de 2016, você provavelmente terá comprado outro smartphone que suporte as bandas do 4G brasileiro.
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