A promessa de Mark Zuckerberg: doar 99% de sua fortuna em prol de um mundo melhor

Em carta aberta à filha recém-nascida, Mark Zuckerberg e a esposa Priscilla Chan prometem investir em projetos que podem trazer mais qualidade de vida às próximas gerações

Emerson Alecrim
• Atualizado há 1 ano e 7 meses

Mark Zuckerberg. Empreendedor, marido e, agora, um orgulhoso pai. Ao lado da esposa Priscilla Chan, o fundador do Facebook anunciou ao mundo na tarde de ontem (1) o nascimento de Max, a sua primeira filha. Mas esse anúncio foi feito de uma maneira deveras surpreendente: em carta direcionada à recém-nascida, Zuckerberg revelou que doará 99% de sua fortuna conquistada por meio do Facebook para causas sociais. O objetivo? Dar à Max e às gerações futuras “um mundo melhor do que temos hoje”.

Não é pouco dinheiro que sairá daí. O montante virá das ações do Facebook que Zuckerberg possui. Atualmente, esses papéis valem pouco mais de US$ 45 bilhões! Por ser uma quantia tão elevada, esse valor não será repassado a projetos sociais de uma vez só. Na realidade, a doação será feita de modo gradual, com Zuckerberg e sua esposa dosando os repasses ao longo de vários anos.

Um processo gradual

Pelo menos na fase inicial, as doações serão feitas a cada quatro meses a partir da venda de ações de modo que os montantes repassados, quando somados, não superem a quantia de US$ 1 bilhão por ano. Todo o controle será realizado pela recém-criada organização Chan Zuckerberg Initiative.

A organização se concentrará em duas frentes: avanço do potencial humano e promoção da igualdade. A primeira direcionará recursos para iniciativas de combate a doenças, proteção do meio ambiente e acesso à informação, por exemplo. A segunda frente se destinará a iniciativas como combate à pobreza, acesso a cuidados básicos de saúde, capacitação e inclusão social.

“Nós faremos o possível para que isso aconteça, não só porque te amamos, mas também porque temos uma responsabilidade moral diante de todas as crianças da próxima geração”, explica Zuckerberg na carta à filha.

Prioridades

Chan Zuckerberg Initiative

Aspectos relacionados à educação e promoção de oportunidades serão importantes para a missão de Zuckerberg e sua esposa, mas a carta indica que áreas da saúde receberão atenção especial. Pudera: Chan é pediatra em um hospital estatal de San Francisco e fundadora da The Primary School, projeto social que promove programas integrados de saúde e educação para crianças e seus familiares. Com toda essa bagagem, Chan tem uma noção bem nítida do que pode ser feito nesse segmento.

Não por menos, Zuckerberg destaca na carta que, hoje, a maioria das pessoas morre por uma destas cinco causas: doenças cardíacas, câncer, acidente vascular cerebral (derrame cerebral), doenças neurodegenerativas e doenças infecciosas.

Não podemos ignorar os numerosos avanços promovidos pela ciência nos últimos anos para combater esses e outros problemas de saúde, mas é inegável que ainda há muito trabalho a ser feito, não só em relação a tratamentos, mas também sobre prevenção.

O casal espera contribuir justamente para isso: “durante curtos períodos de cinco ou dez anos, pode parecer que não estaremos fazendo diferença. Mas, no longo prazo, as sementes plantadas agora vão crescer e, um dia, você [Max] ou seus filhos irão ter o que agora apenas podemos imaginar: um mundo que não sofre de doenças”.

A inspiração

É impossível não associar a Chan Zuckerberg Initiative à Bill & Melinda Gates Foundation, organização criada por Bill Gates e esposa em 2000 que, desde então, vem financiando principalmente pesquisas e projetos que visam combater doenças e a pobreza. Não por menos, a própria Melinda Gates parabenizou o casal pela chegada de Max e, claro, pela criação da instituição. Em resposta, Mark Zuckerberg reconheceu que Bill e Melinda Gates são uma grande inspiração.

Bill Gates desenvolveu, desde cedo, um perfil empresarial muito ousado e agressivo. Graças a isso, a Microsoft se tornou uma das maiores empresas do mundo. Mas tamanho feito foi seguido de efeitos colaterais: o empresário teve que lidar, por exemplo, com investigações antitrustes que o fizeram ter um forte ar de “malevolência”.

Existe a crença de que, entre outras razões, Gates criou a Bill & Melinda Gates Foundation para desconstruir essa imagem negativa. Alguns, mais desconfiados, acreditam que, com a organização, Bill Gates está botando em prática uma complexa manobra financeira para se desvencilhar de impostos altos. Com efeito, muita gente crê que Mark Zuckerberg não é tão bonzinho assim e está, na realidade, seguindo pelo mesmo caminho.

Mas sejamos razoáveis. Sendo essas teorias verdadeiras ou não, fato é que a Bill & Melinda Gates Foundation vem fazendo trabalhos muitos relevantes no combate a doenças como malária e tuberculose, e em programas de planejamento familiar e nutrição em países pobres, por exemplo. Esses esforços não podem simplesmente ser ignorados.

Dará certo?

A empolgação presente na carta somadas às promessas feitas ali nos fazem ter a sensação de que Zuckerberg e Chan querem resolver todos os problemas sociais do mundo. É óbvio que não é assim: US$ 45 bilhões é muito dinheiro, mas é insuficiente para uma escala global. O próprio Mark Zuckerberg reconhece que todo o empenho será apenas uma pequena contribuição.

Assim como a Bill & Melinda Gates Foundation, a Chan Zuckerberg Initiative deverá apoiar um conjunto bem delimitado de projetos. Exatamente quais, só com a passagem do tempo para sabermos.

O fato é que, com as promessas feitas, Mark Zuckerberg e Priscilla Chan chamam para si uma responsabilidade muito grande. Primeiro porque, ao publicar a carta abertamente, o casal assume um compromisso público, portanto, eles sabem que serão cobrados. Segundo porque, bom, um dia Max terá idade suficiente para ler, compreender o documento e, eventualmente, questioná-lo — creio que os pais não irão querer que o nome da filha fique associado a promessas vazias.

Note que Zuckerberg e Chan poderiam unicamente ter prometido uma vida de “princesa” à filha. Porém, com a carta, eles sugerem disposição para mostrar à menina que a vida não é um mar de rosas, mesmo que ela esteja em uma situação privilegiada.

Se é assim, talvez a maior missão da Chan Zuckerberg Initiative e de tantas outras organizações (assim como de pais, educadores e afins) seja a de mostrar para as gerações seguintes que as virtudes que as cercam são fruto de trabalhos extensos e colaborativos, que precisam ser continuados por eles.

Desse modo, eu espero que haja mesmo legitimidade nessa movimentação toda e que a organização criada por Zuckerberg e Chan possa trazer resultados significativos para as causas apoiadas.

As próximas etapas já estão definidas: o casal procura especialistas que possam ajudá-los na complicada decisão de definir como e quais áreas receberão as contribuições da organização.

Leia | Quem fundou o Facebook?

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.