O mercado de profissionais de TI nunca esteve tão aquecido. Acredito que no Brasil também não seja diferente, mas aqui nos Estados Unidos a demanda por quem trabalha com desenvolvimento, arquitetura e infraestrutura de tecnologia nunca esteve tão alta. Tanto por nativos, quanto por estrangeiros qualificados.

Essa realidade colocou os recrutadores e head hunters numa situação ligeiramente desconfortável: competir por um candidato. E para convencer o profissional especializado a trabalhar na sua empresa, eles tiveram que fazer uma mudança de cultura, de metodologias e, principalmente, de “mimos”.

Para contextualizar, os Estados Unidos não são lá muito conhecidos por sua variedade de direitos trabalhistas e benefícios sociais. Isso tem seu lado positivo, mas também seu lado negativo. Sabendo disso, essas empresas passaram então a, de fato, oferecer melhores benefícios e salários.

Algumas já colocam à disposição do novo funcionário tempo livre e férias ilimitadas. Sim. Férias sem limite. Claro que você não vai tirar mais de dois meses seguidos de férias, nem vai poder se ausentar muito no meio do projeto, mas está no contrato. É uma relação mútua de confiança.

Já me ofereceram planos de saúde nos quais eu sequer teria coparticipação caso precisasse usar. E licença maternidade e paternidade pagas, de alguns meses, o que nos Estados Unidos ainda é quase um tabu. Geralmente, apenas a mulher pode ter esse tipo de ausência ao trabalho, e normalmente ela não é paga durante esse período. É mais algo como “Beleza, vai lá cuidar do seu filho, daqui umas semanas você volta e talvez seu emprego vai estar aqui te esperando. Boa sorte”. O sonho americano tem seu preço.

E já que falamos de saúde, alguns recrutadores já chegaram a oferecer uma pulseira da Fitbit por ano, vinculada a um perfil no qual você poderia ou não concluir objetivos fitness dentro de um período determinado. Caso você opte por aderir ao desafio físico (e conclua esse desafio), eles podem tanto aumentar seu salário naquele mês quanto te dar desconto no plano de saúde que, por aqui, custa uma pequena fortuna e tem coparticipação para quase qualquer tratamento, salvo exceções como as que eu citei acima.

Faz todo sentido, afinal, ter funcionários mais saudáveis é bom pra empresa de forma geral, e sempre custa menos prevenir que remediar. Neste caso, literalmente.

A exemplo do que o Google já faz até em seus escritórios do Brasil, muitas empresas por aqui tiveram que mudar o layout físico do ambiente para oferecer novas áreas, mais modernas, com total personalização do espaço, estações de entretenimento, videogames, campeonatos internos de FIFA, de pebolim (totó) e de tênis de mesa. Tem ainda o agrado ao estômago, com frutas, snacks saudáveis, sucos e refrigerantes à disposição e cervejas às sextas-feiras, sem limites.

Isso sem contar o dress code que permite ir trabalhar de chinelo e bermuda e, evidentemente, café. Uma empresa de tecnologia sem café está fadada o fracasso, convenhamos.

Mas Toad, como é o processo de seleção?

Recentemente passei por alguns processos de seleção em empresas daqui. São inúmeras entrevistas e testes que podem acontecer em um dia ou se prolongar por várias semanas para saber se você é o candidato ideal. Tanto do ponto de vista técnico, quanto humano.

Por exemplo: fora ter que criar um sistema ali, na hora, ou resolver desafios de programação (leia: Cracking the Coding Interview), candidatos com perfil mais individualista, que não sabem trabalhar em grupo, que são arrogantes ou preconceituosos, são limados logo de cara.

Alguns podem argumentar que esse filtro faz parte da chamada ditadura do politicamente correto. Mas fato é que os tempos são outros e, como se trata de um ambiente privado, é necessário se adequar à filosofia do lugar para ser aceito.

Você precisa passar por todas essas etapas, com conversas que vão de diálogos bem humorados com seus futuros colegas de trabalho a arrancar os cabelos pra tentar lembrar como se balanceia uma árvore binária ou como se resolve colisões em uma tabela hash. Sim, isso são exercícios reais que eles pedem em entrevistas.

Além disso, depois que você é selecionado e contratado, a empresa espera que você se adapte o mais rápido possível e que passe a entregar o produto dentro dos prazos, com um grau extremo de qualidade e performance. Então, assim: eles te oferecem mundos e fundos, mas você também precisa fazer sua parte. É uma via de duas mãos.

E como eu posso saber se uma empresa é boa de se trabalhar?

Existem alguns sites que permitem que funcionários dessas empresas possam opinar sobre como é trabalhar lá, quais benefícios elas oferecem e qual a média de salário. É o caso do Love Mondays e do Glassdoor.

Outra forma de saber se a empresa está saudável economicamente é acompanhar sua evolução em listas como a do INC. e da Fortune, que separam os melhores ambientes de trabalho entre companhias de pequeno, médio e grande porte (spoiler: não é o Google), além do site Great Places to Work.

Aliás, eu gravei um ToadCast com o André Souza falando sobre como trabalhar nos Estados Unidos, não deixe de conferir.

É isso. Se você é um profissional de TI de excelência, qualificado, que está em constante atualização e evolução, é isso que o mercado tem a oferecer. Se você ainda não é, está esperando o quê?

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Matheus Gonçalves

Matheus Gonçalves

Ex-redator

Matheus Gonçalves é formado em Ciências da Computação pelo Centro Universitário FEI. Com mais de 20 anos de experiência em tecnologia e especialização em usabilidade e game development, atuou no Tecnoblog entre 2015 e 2017 abordando assuntos relacionados à sua área. Passou por empresas como Itaú, Bradesco, Amazon Web Services e Salesforce. É criador da Start Game App e podcaster do Toad Cast.

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