Medium: seu próximo blog

Se é que ainda faz sentido você criar um

Fabio Bracht
Por
• Atualizado há 1 ano
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No fim de 2005, eu só sabia de uma coisa: eu gostava de escrever. No início de 2006, eu descobri o WordPress e imediatamente soube de uma nova coisa: eu queria escrever a sério.

O WordPress era moderno. Era limpo. Era futurista. Era até mesmo aquela palavra que frequentemente usamos para adjetivar produtos tecnológicos, mesmo ela sendo completamente inadequada para isso: sexy. Para quem vinha de experiências com o Blogger, era como desplugar um Atari para dar lugar a um Super NES. Na mesma tarde que conheci o WordPress, montei o meu primeiro blog que acabou sendo bem-sucedido.

Nos últimos sete anos desde então, tive meus affairs com outras plataformas, principalmente o Tumblr e o Posterous, mas não posso dizer que senti nada parecido com o que sinto hoje pelo Medium. O Medium é moderno. É limpo. É até mesmo… sexy.

O que é o Medium?

A maneira mais direta de descrever o Medium é dizer que ele é uma plataforma de blogs criada em setembro de 2012 pela Obvious – empresa que abriga as mentes de Evan Williams e Biz Stone, criadores do Twitter e, mais importante neste caso, também do Blogger.

Mas esta também é uma maneira incorreta, já que o Medium não usa a palavra “blog” em lugar algum da sua comunicação oficial. Ele se descreve, neste post de boas vindas, como:

“Um lugar melhor para ler e escrever coisas que importam.”

A ênfase aqui é no “que importam”.

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Ainda faz sentido criar um blog?

O que o Blogger fez quando revolucionou a internet na virada do milênio foi dar, pela primeira vez, um espaço, um meio, para que qualquer pessoa pudesse publicar qualquer pensamento. Segundo a lógica de que todo pensamento merece um blog para ser publicado.

Quem acompanhou esse processo viu o surgimento de basicamente dois tipos de blogs: aqueles com textos mais trabalhados, e outros com o estilo mais “meu querido diário”. Os donos destes primeiros, com o tempo, viraram profissionais. Jornalistas, escritores, colunistas. Seus blogs se tornaram sites, colunas, páginas impressas por aí. Os do segundo tipo hoje são Twitters, Instagrams e, principalmente, posts no Facebook.

Se você teve blog antes da era das redes sociais, lembra: muitos posts não passavam de um link legal, uma imagem + comentário espertinho ou então um pensamento curto que a gente estendia por alguns parágrafos a mais pra poder chamar de post. Sempre com o intuito de receber alguns comentários. O Facebook hoje é exatamente isso – e ainda melhor, por facilitar e encorajar mais feedback do que costumávamos ter.

Hoje em dia, aquela lógica do Blogger de que “todo pensamento merece um blog” não se aplica mais. Não porque os pensamentos perderam seu mérito, mas sim porque há opções melhores do que um blog para os pensamentos mais simples. Há o Facebook, o Twitter, o Instagram.

Com isso, abre-se espaço para uma plataforma dedicada ao tipo de pensamento “maior” que não cabe tão bem nas redes sociais e nem se prolifera tão saudavelmente nos blogs comuns – conheço blogs sensacionais que não recebem um décimo da atenção que merecem, justamente por estarem jogados ao léu num WordPress da vida, longe do mecanismo de propulsão social do Facebook.

O Medium, então, não se propõe a ser uma plataforma de blogs, mas sim uma plataforma de textos. De ideias. Há uma diferença fundamental aí.

Por que o Medium funciona

Dentro dessa proposta, o Medium funciona principalmente porque ele pega os ingredientes de um blog, joga fora o que azedou e mistura todo o resto de um jeito bem novo, que faz muito sentido.

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Quando você faz o cadastro e começa a publicar, você não tem um blog. Você não batiza com nome engraçadinho, nem escolhe URL esperta. O endereço dos seus textos é www.medium.com/@SeuTwitter (o cadastro é feito apenas via Twitter Sign-In, por enquanto). O “seu blog” é a tela acima, sem muita vaidade ou cercadinhos. Os textos são seus, sim, claro, assinados e com uma fotinho sua ao lado, mas ao mesmo tempo eles são do Medium. Da comunidade. Eles se misturam, se espalham.

Pra entender melhor: sabe como num blog tradicional você tem categorias e tags? No Medium não há isso, há Collections. Elas são exatamente como categorias, porém com uma página bonitona para abrigar todos os textos, e uma diferença crucial: as Collections, por padrão, são públicas.

Ou seja, eu posso criar uma collection só para textos sobre música, e, por ela ser pública (ela pertence ao Medium, não ao “meu blog no Medium” – até porque o “meu blog no Medium” é uma coisa que não existe), outra pessoa pode vê-la e resolver escrever um texto nela. E isso é lindo.

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Ao fim de cada texto seu publicado no Medium, há três sugestões de textos relacionados. Essas sugestões não são necessariamente de outros textos seus. Assim como textos seus podem estar sendo sugeridos abaixo de outros textos que você nunca leu.

Dessa forma, o sistema se encarrega de espalhar os textos, recomendando-os para quem ele acreditar que vai achar interessante baseado em outros textos que leu e recomendou. Você ganha uma audiência qualificada e interessada que não teria de forma tão fácil se criasse um blog perdido usando o WordPress.

Por tirar o foco dos blogs e dos autores (você só tem direito a uma foto e uma bio do tamanho de um tweet, e nada de páginas dedicadas para “About Me” ou sidebars cheias de penduricalhos) para em vez disso focar nos textos (estes recebem fotos gigantonas e uma diagramação maneiríssima), o Medium funciona justamente em garantir aquilo que todo blog e todo autor precisa: leitores.

Outros detalhes bacanas

Não há um pedaço do Medium que não tenha sido repensado do zero para chegar ao resultado atual. Além da apresentação e organização dos textos, posso citar estes outros pontos de destaque:

A interface de escrita é genial porque ela não existe. Você simplesmente escreve. Não há barras de ferramentas com múltiplas opções de formatação. À medida que você digita, o texto surge na tela exatamente da mesma forma que ele aparecerá para quem for ler. É o ápice do WYSIWYG. As poucas opções que existem (negrito, itálico, dois níveis de subtítulo, blockquote e link) aparecem quando você seleciona um trecho de texto – e somem assim que você terminar de usar.

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A reinvenção dos comentários, que no Medium se chamam “Notes” e não ficam abaixo do texto. Quando você está lendo um texto e passa o mouse sobre ele, aparece um pequeno balão de fala ao lado do parágrafo atual, e você pode clicar ali para deixar um comentário sobre aquele trecho específico. Por padrão, esses comentários são privados. O dono do texto recebe uma notificação e pode responder em privado mesmo, ou tornar o comentário público para outras pessoas lerem e responderem. É uma solução realmente nova e ainda precisa de alguns ajustes, mas achei muito elegante, inteligente e, bem… incrível – é como se as pessoas pudessem conversar com o autor à medida que vão lendo o texto!

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Responsiveness, baby! Seus posts aparecem de maneira diferente (mas sempre consistente) em qualquer tamanho de tela ou tipo de dispositivo. Isso hoje em dia já é (ou deveria ser) padrão, mas ainda é digno de nota, especialmente num site tão moderno e bonito quanto o Medium.

Colaborativo. O objetivo do Medium é ter textos bacanas, bem escritos, revisados, pesquisados, completos, e quem escreve sabe que isso é frequentemente um esforço coletivo. Antes de finalmente publicar seu texto, você pode convidar pessoas de confiança para ler o rascunho e deixar notes com opiniões e sugestões de mudanças, correções, expansões. Quem ajudar aparece e é linkado automaticamente numa seção de agradecimentos abaixo do autor do texto.

Quem leu? O mundo do SEO é obcecado por métricas de pageviews, bounce rate, stickyness, etc. Eu acho isso um saco. Que bom que o Medium não é lugar para se preocupar com isso. Há uma única (e bem bonita) tela de estatísticas, e o dado mais importante dela é algo que o Google Analytics não consegue te dizer: quantas pessoas realmente leram o que eu escrevi? Usando um algoritmo que prevê mais ou menos o tempo necessário para ler cada texto seu, o Medium consegue analisar o comportamento dos seus leitores e estimar qual porcentagem deles leu o negócio inteiro e qual porção se chateou no meio e caiu fora.

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Quem quer ler? Um pequeno ponto que não tem tanto a ver com o resto deste texto, mas é importante: o Medium é ótimo também para quem não pretende escrever, mas gosta de ler coisas interessantes. Diariamente a página inicial tem um texto em destaque, escolhido pela equipe do site, além de mostrar a lista dinâmica dos posts mais recomendados (através de um botão verde ao final do post) do último dia. E mesmo sem publicar nada, você ainda pode deixar notes nos textos e participar das discussões.

E o que não é tão bacana

O Medium tem só oito meses de idade e já se reinventou um tanto neste meio tempo (este post de janeiro deste ano demonstra como o layout estava diferente). Ele ainda está em gestação, por isso segue com alguns pontos bem importantes a melhorar. Os principais:

Limitações. Isso é provavelmente proposital, para manter simplicidade e elegância, mas é incrível a quantidade de coisas que você não pode fazer no Medium: não dá pra fazer embed de vídeos nos textos; não existe um botão ou elemento gráfico para assinar RSS em lugar algum, embora existam URLs de feeds (é só colocar /feed/ entre o Medium.com e o @SeuTwitter ou /nome-da-collection); os comentários só podem chegar a 400 caracteres; as respostas a comentários só podem chegar a 200 caracteres; não é possível seguir autores ou Collections como no Twitter; etc.

Inglês ou português? O próprio Evan Williams já respondeu a um amigo meu, por email, a respeito da questão da linguagem: devemos escrever em inglês? Estaremos “zoando o barraco” se começarmos a invadir o negócio com textos em português? A resposta dele foi enfática: “você pode escrever na língua que quiser”. Isso é bom, porque mostra um possível futuro com Collections públicas em português cheias de textos – mas ao mesmo tempo é óbvio que hoje em dia todo o ecossistema está baseado em textos em inglês, e você só aproveita completamente os benefícios de ter seus textos organicamente espalhados por aí se escrever em inglês.

Erros bobos de interface. O sistema de inserir links no texto é bem cru, a ponto de não ser “minimalista” e sim “limitado”. As aspas inteligentes não funcionam em teclado de Mac – ao menos não no meu. Mas a pior coisa é não existir ainda um catálogo geral com todas as Collections já criadas. Isso é especialmente frustrante porque você é obrigado a escolher uma Collection antes mesmo de escrever a primeira palavra do seu texto.

Cadê? Infelizmente, no que talvez seja o maior erro (ainda consertável) do Medium, não há um mecanismo de busca interno para encontrar posts, Collections ou autores — e pior: os posts não parecem ser muito bem indexados no Google.

Calma. O Medium ainda está em fase beta fechada. Isso significa que você deve clicar no link “How do I post?” do menu principal, fazer login com o seu Twitter e… esperar. Eles estão chamando bem aos poucos. Mas, observando o ritmo extremamente rápido de atualizações e melhorias, eu diria que não falta muito para os portões se abrirem.

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Por enquanto, porém, tem um jeitinho. Sempre tem um jeitinho.

Se você conhece alguém que já está postando no Medium, peça para ajudar a revisar o rascunho do próximo texto dele. Se eu peço ajuda de revisão para uma pessoa que não está no Medium ainda, e ela me ajuda de fato (deixando alguma nota no meu texto antes dele ser publicado), essa pessoa aparece na seção de agradecimentos do meu post quando ele for ao ar e também ganha acesso ao publicador do Medium. Essa é a única maneira de “convidar” alguém.

Em conclusão

O Medium é uma nova e empolgante ferramenta para quem tem o que dizer e quer publicar suas ideias em um suporte que vai valorizar as palavras, a diagramação e ainda ajudar a colocar o texto na frente do maior número de par de olhos possível.

Mas lembre-se que, como o próprio nome diz, o Medium é apenas um meio. Suas ideias são o início e o fim.

Se quiser ver como este texto fica quando publicado no próprio Medium, clique aqui.

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