O iFood comeu o mercado de delivery no Brasil
Com a saída do segundo maior player do setor de delivery, o cenário para o iFood está mais confortável. Mas restaurantes temem o domínio
Com a saída do segundo maior player do setor de delivery, o cenário para o iFood está mais confortável. Mas restaurantes temem o domínio
Em qualquer que seja o setor, é difícil encontrar um único concorrente que domine mais de 80% do mercado. Mas é exatamente esse o cenário que vemos no segmento de delivery no Brasil.
O iFood vai na frente, e com uma folgada dianteira. A empresa se tornou sinônimo de delivery, acumulando no caminho uma série de questionamentos às suas práticas competitivas e reclamações por parte dos restaurantes que vendem pela plataforma. A força da marca é tamanha que nem a Uber foi capaz de se manter no páreo, tendo se retirado do mercado no dia 7 de março.
Como razões para a desistência, a Uber citou as “práticas exclusionárias” e as “barreiras artificiais” impostas pelo iFood. O principal exemplo dessas barreiras são os contratos de exclusividade fechados entre iFood e restaurantes, impedindo-os de vender através de outros aplicativos. Rappi, 99Food e a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) concordam com essa tese. O Cade ainda analisa a questão.
Independentemente da decisão do órgão, uma coisa é certa: o mercado brasileiro de delivery é concentrado como poucos. E, no momento, são poucas as chances de isso mudar.
Se nem um nome tão consolidado como a Uber foi capaz de bater de frente com o iFood, quem será? E quais razões levaram o Uber Eats a jogar a toalha?
Um dos motivos foi a falta de foco no negócio de delivery. Essa é a opinião de Renato Almeida, CEO da Consumer, empresa que desenvolve sistemas de gestão para restaurantes. Com a forte participação da empresa no ramo de corridas por aplicativo, a entrega de comida se colocava como um segmento à parte. Faltou desenvolver estratégias próprias para crescer frente à concorrência.
Outras razões são operacionais. O Uber Eats tinha uma série de problemas, destacados por donos de restaurantes ao Tecnoblog. Incapaz de oferecer uma alternativa de qualidade ao iFood — que também coleciona reclamações de quem vende na plataforma —, a operação sucumbiu. E é difícil vislumbrar outro superapp de delivery que tenha condições de prosperar onde o Uber Eats falhou.
O mercado procura opções. Restaurantes experimentam com aplicativos de entrega próprios e apostam na volta ao consumo presencial; há quem planeje sair de vez do iFood, apesar da importância da plataforma para o faturamento. Essa decisão traz consigo um acúmulo de responsabilidades: investir no marketing próprio, buscando criar clientes que decidam acessar os canais do restaurante em vez da praticidade de pedir pelo iFood.
Outros aplicativos tentam comer pelas beiradas, com foco em cidades do interior. É o caso do 99Food. Estes também têm sua leva de desafios, entre eles convencer donos de restaurantes a apostar na nova plataforma após tantos desgastes com o iFood e Uber Eats. Não será fácil convencer esses estabelecimentos.
Na avaliação de Almeida, a tendência do mercado é a maturidade. Restaurantes estão percebendo a necessidade de expandir suas opções, escapando da dependência do iFood. Mas e o usuário? Quais os incentivos para que este busque seus pratos favoritos em outro lugar?
Enquanto os demais players tentam responder essa pergunta, o iFood segue na dianteira — e vendo a distância crescer cada vez mais.