O Windows 8 completou dez anos, mas ninguém fez festa

Microsoft tentou se antecipar ao futuro mobile, mas não soube ler corretamente os sinais de como isso aconteceria

Josué de Oliveira
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• Atualizado há 11 meses
O Windows 8 é um dos Windows mais odiados de todos os tempos (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
O Windows 8 é um dos Windows mais odiados de todos os tempos (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

No início dos anos 2010, algumas das mentes mais influentes na Microsoft chegaram a uma dura conclusão: o Windows tinha terminado o seu ciclo.

Naquele momento, a versão corrente do sistema operacional era o Windows 7, que, de modo geral, foi apreciada pelo público. Com ela, a Microsoft mantinha sua dianteira no mundo dos desktops. Mas o cenário no mercado de tecnologia parecia apontar para o mobile como a direção para onde tudo se encaminharia.

De acordo com Steven Sinofsky, presidente da divisão Windows entre 2009 e 2012, havia a impressão de que o “próximo bilhão” estava no universo dos dispositivos móveis. Era uma época em que tablets e smartphones começavam e ganhar o público, e as vendas de computadores pessoais caíam. Como um sistema operacional voltado para PCs se adapta a esse novo contexto?

A resposta da Microsoft foi uma versão do Windows que conseguisse dialogar com ambos os lados: desktops e mobile. Esse é o raciocínio por trás do Windows 8, tão diferente de seus antecessores, e parecendo pertencer mais a um tablet do que a um computador.

Em 2022, o Windows 8 fez aniversário de 10 anos. Em entrevista ao Ars Technica por ocasião da data, Steven Sinofsky descreve o produto como “too much and too soon” – coisa demais, cedo demais. A resposta do público, no entanto, parece concordar apenas com a primeira parte. O Windows 8 foi, de fato, coisa demais para absorver.

Nunca antes na história do Windows

O Windows 8 é lembrado principalmente por suas mudanças visuais, trazidas pela interface Metro, já presente no Windows Phone. Os chamados live tiles, quadrados de conteúdos que podiam ser movidos, tomavam conta de tudo; as janelas também davam lugar a programas que abriam em tela toda.

A experiência não lembrava em quase nada o Windows 7, versão anterior do sistema, na qual o próprio Sinofsky havia trabalhado. Na verdade, não lembrava nenhum dos Windows anteriores. Não é surpreendente, portanto, que as reações dos usuários tenha sido de surpresa. E não o tipo bom de surpresa.

A execução desse OS de computador com cara de OS de tablet não era das mais consistentes. O Windows 8 manteve alguns elementos de outras versões para manter alguma familiaridade. O resultado era um tanto confuso. Por exemplo: foi introduzido um novo e moderno aplicativo de Configurações… mas o Painel de Controle com a interface do usuário antiga ainda existia.

Interface do Windows 8.1 (Imagem: Divulgação/Microsoft)
Interface do Windows 8.1 (Imagem: Divulgação/Microsoft)

Nem mesmo o menu Iniciar, um dos elementos mais distintivos do sistema e presente desde o Windows 95, foi poupado. Entrava em cena a Tela Iniciar, ocupando todo o espaço de tela. A mudança é representativa de todo o espírito do Windows 8: tentar ser algo totalmente diferente do que o Windows tinha sido até então.

A interface do Windows 8 podia ser interessante para dispositivos touch, mas frustrou usuários de desktops. A imprensa especializada também não curtiu o produto. E, para completar, as vendas de PCs continuaram caindo. Nem mesmo o retorno do botão Iniciar, ocorrido na versão 8.1, foi capaz de reverter o estrago.

Ideia certa, execução errada

Sinofsky e os demais responsáveis por pensar o Windows não estavam de todo errados quando vislumbraram um futuro dominado pelo mobile. Basta pensar na centralidade dos smartphones hoje em dia. Há uma grande distância, no entanto, entre detectar uma tendência e saber como responder a ela.

O problema central do Windows 8 residia na noção de que a experiência do mobile e do desktop precisam estar próximas. Claro que é legítimo haver semelhanças em alguns pontos, mas tratam-se de plataformas diferentes, usos diferentes.

No Tecnocast 270, nosso repórter Emerson Alecrim lembra de um detalhe que mostra bem essa distinção: o botão de desligar. Desligar o computador faz parte da experiência de utilizá-lo. Já com celulares e tablets, não costuma ser assim: a tendência é colocar o aparelho para carregar quando a bateria chega a um nível baixo.

O Windows 8 ainda permitia desligar o computador, é claro, mas o botão para isso ficava mais escondido. Era necessário criar um atalho para tê-lo à vista. Com isso, a Microsoft tentava criar um comportamento que não se alinhava à experiência de um PC. Um erro, obviamente.

“Por isso eles falharam,” explica de modo sucinto o primeiro comentário da entrevista de Steven Sinofsky ao Ars Technica. “Ninguém quer que a experiência com o PC seja igual à experiência com o smartphone. A interface gráfica do Windows 8 funcionava bem num tablet ou smartphone. Era péssima para um sistema operacional de PC.”

Com toda a repercussão negativa, seria de se pensar que Sinofsky teria repensado suas decisões à frente do Windows. A entrevista mostra que não é o caso. Para ele, apesar de alguns problemas, os passos tomados pela Microsoft faziam sentido. Você só terá dificuldade de encontrar outra pessoa além dele que compartilhe dessa opinião.

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Josué de Oliveira

Produtor audiovisual

Josué de Oliveira é formado em Estudos de Mídia pela UFF. Seu interesse por podcasts vem desde a adolescência. Antes de se tornar produtor do Tecnocast, trabalhou no mercado editorial desenvolvendo livros digitais e criou o podcast Randômico, abordando temas tão variados quanto redes neurais, cartografia e plantio de batatas. Está sempre em busca de pautas que gerem conversas relevantes e divertidas.

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