Tsu, a rede social que paga o usuário pelo conteúdo, já virou um mar de spam

Giovana Penatti
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• Atualizado há 1 ano

Depois de muita polêmica envolvendo privacidade e lucros incríveis de redes sociais em cima dos usuários, parece que realmente começamos a ver uma movimentação visando mudar a relação que nós temos com elas.

Começou com o Ello, a rede social que agora é legalmente proibida de exibir anúncios e vender dados de seus usuários. Ela ficou famosa após o êxodo da comunidade LGBT que foi forçada pelo Facebook a utilizar nomes reais, e não os pseudônimos pelos quais seus integrantes eram conhecidos.

Agora, uma nova ganha fama: o Tsu (se fala “su”). A intenção do Tsu é pagar o usuário pelo conteúdo que ele cria, como se ele recebesse dinheiro de direitos autorais por isso. Quanto maior o alcance, maior a grana.

Segundo consta no FAQ, somente 10% dos lucros ficam com o Tsu; 90% são repassados aos usuários. O algoritmo da rede social, então, divide entre a “árvore genealógica” do usuário – como o Tsu, igual ao Ello, também funciona na base do convite, o lucro que você gerar terá uma porcentagem repassada para quem lhe convidou. Quem convidou essa pessoa recebe um pouco menos e assim por diante.

É quase um esquema de pirâmide, mas não chega a ser porque os novos integrantes não precisam pagar para entrar; o dinheiro vem de propagandas espalhadas pelo site, patrocínios e parcerias, como o FAQ esclarece.

Para conseguir um convite, não tem fila de espera nem nada: basta utilizar um shortcode de alguém que já esteja cadastrado. O shortcode nada mais é que um link de referência para o perfil de cada um: tsu.co/nomedeusuário.

Quanto à interface, ele lembra bastante o Twitter. Nas páginas de perfis, você tem o header e informações sobre a pessoa no tipo, a timeline ao centro e outras informações do lado esquerdo, como fotos, aniversário, sites, etc.:

tsu

No feed, onde aparecem posts de seus amigos e pessoas que você segue, a coluna da esquerda vira uma espécie de painel de controle, onde você pode ter acesso às suas mensagens diretas, administrar o dinheiro que já foi recebido pela rede social, o alcance de seus posts e como vai sua “árvore genealógica”, que é a relação dos amigos que você trouxe para o Tsu.

De modo geral, é bem fácil de navegar e não precisa de mais que uma hora para saber onde encontrar tudo que você procura.

A não ser que o que você procura é dinheiro – e é isso que todos procuram no Tsu.

tsu2

No screenshot acima, dá para ver uma postagem com um enorme blur verde. Esse blur disfarça dezenas de pessoas que foram citadas por um único usuário em busca de mobilizá-las para segui-lo, curtir e compartilhar seus posts, de modo que ele ganhe dinheiro na rede social. Não é difícil achar uma variação do famoso “sdv”, ou “sigo de volta”, por lá: é meio que um contrato social no qual todo mundo curte e compartilha todo mundo e, no fim, todo mundo ganha.

Esse é o principal problema do Tsu: ao anunciar que as pessoas com mais “relevância social” – isto é, mais seguidores, amigos, curtidas e compartilhamentos – ganham mais dinheiro, não importa o que elas dizem, mas sim o alcance que suas postagens conseguem ter. E isso é bem irônico, considerando que o Tsu se vende como a rede social na qual você é pago pelo seu conteúdo.

Em pouco tempo no ar – o Tsu ficou famosinho há cerca de uma semana – , a rede social já se tornou um amontoado de contas falsas sem produção real de conteúdo. Ele ficou nas outras redes sociais, como o Facebook e o Twitter, que são justamente as que o Tsu quer combater ao tentar transformar os usuários não em mercadoria, mas numa espécie de sócios da rede social. A ideia é boa, mas a execução, por enquanto, falha. Falta incentivo para que o conteúdo de qualidade, com compartilhamento orgânico, surja.

Assim como o Ello, o Tsu ainda é bem novo, então não dá para crucificar ou para consagrar como o algoz do Facebook e dos modelos tradicionais de rede social. Mas, no mínimo, essas duas novas redes demonstram que há, sim, espaço para criar uma economia melhor e menos abusiva tanto para quem provê o serviço como para quem o usa; só falta descobrir qual (ou quais) será ela.

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Ex-editora

Giovana Penatti é jornalista formada pela Unesp e foi editora no Tecnoblog entre 2013 e 2014. Escreveu sobre inovação, produtos, crowdfunding e cobriu eventos nacionais e internacionais. Em 2009, foi vencedora do prêmio Rumos do Jornalismo Cultural, do Itaú. É especialista em marketing de conteúdo e comunicação corporativa.

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