EUA vão reavaliar fusões e podem afetar compra da Activision pela Microsoft
Microsoft pode ter problemas em concluir a aquisição da Activision Blizzard, em 2023, caso os EUA considerem que a empresa está praticando monopólio com exclusividade forçada
No mesmo dia em que a Microsoft anunciou a aquisição da Activision Blizzard por US$ 69 bilhões, a Comissão Federal de Comércio e a Divisão Antitruste do Departamento de Justiça dos EUA se uniram com a promessa de detectar e prevenir acordos desleais entre empresas no país. Apesar disso não significar diretamente que a fusão das gigantes dos videogames seja ilegal, os órgãos governamentais podem atrasar ou até impedir a compra, dependendo das decisões do CEO Phil Spencer.
Caso Activision Blizzard: entenda tudo sobre o polêmico processo judicial
A fusão de empresas é um assunto delicado nos EUA, devido à facilidade para formação de monopólios, principalmente no setor de tecnologia. Em comunicado, a Comissão Federal de Comércio explicou que a investigação em parceria com o Departamento de Justiça busca criar e manter um mercado competitivo, no qual pequenos e grandes negócios possam prosperar.
“Evidências recentes indicam que muitos setores da economia estão se tornando mais concentrados e menos competitivos — colocando em risco a escolha e os ganhos econômicos de consumidores, trabalhadores, empreendedores e pequenas empresas. Esses problemas provavelmente persistirão ou piorarão devido a um aumento contínuo de aquisições, que mais que dobrou nos registros de fusões entre 2020 e 2021. Para lidar com as crescentes preocupações, as agências estão solicitando informações públicas sobre maneiras de modernizar as diretrizes federais de fusão para melhor detectar e impedir negócios ilegais e anticompetitivos nos mercados de hoje”.
Comissão Federal de Comércio dos EUA.
Aquisição da Microsoft abalou a Sony em apenas um dia
Por causa dessa nova investigação, a Microsoft terá mais trabalho na hora de provar que a fusão com a Activision Blizzard não irá configurar monopólio, nem prejudicar outras empresas. O problema é que somente o anúncio da aquisição — a maior do setor de videogames até hoje — já abalou o mercado direta e indiretamente.
Após confirmar a união com a Activision Blizzard, a Microsoft pulou para a terceira posição entre as empresas de games mais valiosas do mercado, ultrapassando a Nintendo e ficando atrás apenas da gigante chinesa Tencent e da criadora do PlayStation, a Sony.
Apesar de ainda estar em primeiro lugar no ranking, a Sony perdeu US$ 20 bilhões em valor de mercado, e as ações da empresa tiveram queda de 13% na Bolsa de Valores de Tóquio, nesta quarta-feira (19). Isso aconteceu em apenas um dia depois do anúncio da compra da Activision Blizzard pela Microsoft.
A desvalorização da Sony aconteceu por causa do modelo de negócios da empresa. Enquanto a Microsoft ganha cada vez mais espaço com serviços voltados para o consumidor, como o Xbox Game Pass e o Cloud Gaming, a dona do PlayStation continua ancorada à estratégia de vender consoles e títulos exclusivos de grande orçamento.
Continuar com esse pensamento pode ser um problema para a Sony como um todo, porque jogos e serviços online geram 30% de toda a receita da empresa. Segundo Phil Spencer, CEO da Microsoft Gaming, o Xbox só vai crescer com a aquisição da Activision Blizzard, pois o Game Pass poderá receber títulos de franquias como Call of Duty, World of Warcraft, Overwatch, entre outras.
Jogos exclusivos podem prejudicar a comunidade
A fusão da Microsoft com a Activision Blizzard, porém, tem um lado ruim que está dividindo opiniões da comunidade — e pode dividir as opiniões da Comissão Federal de Comércio e do Departamento de Justiça dos EUA: a exclusividade forçada.
Em setembro de 2020, quando a Microsoft comprou a ZeniMax Media — empresa-mãe da Bethesda, Id Software, Arkane Studios e Tango Gameworks — os fãs de séries como The Elder Scrolls, Doom, Fallout e Dishonored ficaram em dúvida se as franquias passariam a ser exclusivas do Xbox. Com isso, os futuros games desses estúdios não saíram para PS5 ou Nintendo Switch.
Ainda não há uma confirmação sobre o futuro de todas as franquias dos estúdios da ZeniMax Media. Contudo, Starfield, o próximo grande lançamento da Bethesda, será exclusivo do Xbox, e o mesmo deve acontecer com The Elder Scrolls 6, por exemplo. Em novembro do ano passado, Phil Spencer comentou em uma entrevista à GQ que “o ecossistema Xbox é o melhor lugar para todas as franquias da Bethesda”.
Caso isso aconteça com os títulos da Activision Blizzard, os jogadores poderão sair prejudicados. Nesse caso, a Comissão Federal de Comércio será capaz até de barrar a fusão das empresas, porque configuraria formação de monopólio.
Imagina uma franquia como Call of Duty, que tem uma base de jogadores gigante no PlayStation, existindo apenas no Xbox. Pode ser ótimo para a Microsoft, mas é um passo enorme para trás quando olhamos para os consumidores de videogames.
A Microsoft tem até 30 de junho de 2023 para decidir o futuro das franquias da Activision Blizzard. Se a gigante da tecnologia quiser mesmo expandir o catálogo do Game Pass com séries tão valiosas, ela terá que aprender a dividir suas propriedades e disponibilizar jogos em outras plataformas.
Jornalista, atua como repórter de videogames e tecnologia desde 2018. Tem experiência em analisar jogos e hardware, assim como em cobrir eventos e torneios de esports. Passou pela Editora Globo (TechTudo), Mosaico (Buscapé/Zoom) e no Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. É apaixonado por gastronomia, informática, música e Pokémon. Já cursou Química, mas pendurou o jaleco para realizar o sonho de trabalhar com games.